Fusão e IPO
Em 2008, visando entrar no mercado de baixa renda, a construtora Gafisa (SA:GFSA3) adquiriu 60% da Tenda (SA:TEND3) e iniciou um processo de expansão e reestruturação que culminou na fusão das duas empresas, em 2010.
Após arrumar a casa, a Gafisa (SA:GFSA3) resolveu segregar Tenda (SA:TEND3) e fez o IPO da empresa em 2017. Neste intervalo a empresa adequou seu modelo de negócio visando aumentar a eficiência na construção, apostando forte na padronização e nos ganhos de escala.
Tenda (SA:TEND3) fez bem o dever de casa.
Tenda (SA:TEND3) é hoje a segunda maior construtora focada em baixa renda do país e recentemente tem apresentado um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) maior do que o de MRV (SA:MRVE3), maior do setor e que sempre apresentou boa rentabilidade.
Baseada no modelo de formas de alumínio, a companhia consegue construir 2 apartamentos por dia, atualmente. Desde 2012, a companhia focou em reduzir fortemente os custos - o segredo foi a padronização.
É praticamente uma linha de produção fabril.
E, como sempre, o preço que se paga pela padronização é a perda a flexibilidade. O crescimento da companhia hoje é limitado a apenas a fazer mais do mesmo.
A especialização de Tenda (SA:TEND3), por bem ou por mal, a deixa "presa" ao Minha Casa Minha Vida.
Cenário atual desafiador
O alto nível de padronização só foi possível porque a empresa decidiu focar exclusivamente no Minha Casa Minha Vida (MCMV) faixas 1,5 e 2.
Isso reduz o risco e a necessidade de capital empregado no negócio.
Mas, aí começam os desafios futuros da companhia. O primeiro e mais importante deles é que o orçamento do MCMV, que vinha se expandindo ano após ano, daqui pra frente terá um orçamento estável.
A própria companhia admite que o crescimento médio de receita, acima dos 30 por cento observado nos últimos 4 anos, não será mais alcançável daqui pra frente.
Ela acredita que poderá crescer sua receita entre 10 e 15 por cento nos próximos anos.
Mas para entregar este crescimento, além de aumentar sua participação em São Paulo, precisará expandir sua atuação, adicionando 1 nova praça por ano (das 8 praças atuais).
Logicamente, esta expansão envolve riscos de execução e, a própria companhia, espera retração de sua margem. Os 36 por cento de margem bruta atuais, deverão cair para 33 por cento nos próximos anos.
O setor é cheio de casos de empresas que tiveram ENORMES perdas diversificando sua região de atuação.
E, com o mercado de construção voltando do buraco, os custos de produção também deverão subir - mão de obra e materiais. Resultado, pressão na margem.
Para completar, o preço não ajuda
Tenda (SA:TEND3) teve ótimos resultados, desde 2017. E as ações não ficaram para trás:
Com a forte alta das ações desde o IPO, a ação já acumula quase 300 por cento de alta. Parte da alta, veio das enormes recompras de ações.
É a própria empresa "puxando" suas ações para cima.
Afinal, Tenda (SA:TEND3) tem um fundo de Private Equity, que sempre tem data de saída, como acionista controlador - provavelmente já estão pensando em sair.
E, um ponto interessante, TEND3 (SA:TEND3) negociando a mais de 2x patrimônio líquido, já não demonstra tanto interesse em continuar sua recompra de ações.
Tenda (SA:TEND3) foi um ótimo investimento. Mas, hoje, já não é mais. Quem pegou, pegou. Quem não pegou, não pega mais.
Cenário desafiador, menor crescimento, menores margens, maior risco de execução e - o terror de quem trabalha com o governo brasileiro - mudança de regras.
O Investidor de Valor não pegou. E, aqui em cima, não pegará mais. Aqui em cima, continuamos de fora de TEND3 (SA:TEND3).
Acompanhe muito mais no Twitter: @BruceBarbosa88, no FB: BruceBarbosaOficial e LinkedIn: BruceBarbosaOficial