No artigo de hoje, em conjunto com o Miguel Bousquet, abordaremos a importância dos ativos alternativos na formação de uma carteira diversificada. Os resultados apresentados neste artigo foram fruto da dissertação de mestrado do Miguel na Universidade de Bordeaux, a qual tive o privilégio de orientar.
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O mercado de capitais brasileiro é conhecido pela alta correlação de seus ativos. Essa alta correlação é resultado da dependência do país em alguns setores, como commodities e serviços financeiros, que tendem a se movimentar em sincronia em resposta às mudanças econômicas e políticas.
A correlação entre ativos é fundamental para auxiliar os investidores na criação de carteiras diversificadas. Quando ativos apresentam correlações reduzidas entre si, há uma menor probabilidade de seguirem movimentos na mesma direção. Isso, por sua vez, significa que quando o desempenho de um ativo declina, o desempenho de outro ativo pode aumentar, resultando na redução da volatilidade global do portfólio e na minimização dos riscos e perdas a longo prazo.
Ativos alternativos, como investimentos em infraestrutura, commodities, private equity, imóveis, ouro e criptomoedas, são distintos das classes de ativos tradicionais e são eficazes na redução da correlação de uma carteira de investimentos. No entanto, a seleção e alocação de ativos alternativos devem ser feitas com base nos objetivos e perfil de risco do investidor. E a diversificação não elimina todos os riscos, mas ajuda a gerenciá-los de maneira mais eficaz.
Os ativos alternativos são amplamente estudados e utilizados por investidores no exterior, mas e no Brasil? Essa estratégia seria relevante para solucionar o problema da alta correlação entre ativos no mercado brasileiro? Para avaliar, analisamos a performance de várias carteiras contendo diferentes tipos de ativos alternativos e em janelas temporais distintas.
Os ativos selecionados para compor as carteiras foram divididos em três categorias: ativos tradicionais brasileiros, ativos alternativos brasileiros e ativos alternativos internacionais. Os ativos tradicionais brasileiros foram representados pelo CDI, Ibovespa e três índices setoriais (industrial, consumo e financeiro). Os ativos alternativos brasileiros foram representados por imóveis (IFIX - índice de fundos de investimento imobiliário), infraestrutura (UTIL - índice utilidade pública) e commodities (BASC - índice de materiais básicos). Os ativos alternativos internacionais foram formados por commodities (CRB - índice de preços de commodities), ouro, private equity (IDPE - iShares Listed Private Equity UCITS) e bitcoin.
Coletamos preços de fechamento diários dos ativos a partir do Investing.com e do Banco Central do Brasil. Todos os ativos denominados em dólares foram convertidos para o real usando a PTAX. As carteiras passaram por um rebalanceamento diário para avaliar com mais precisão os benefícios ou desvantagens de adicionar investimentos alternativos.
Foram construídas 5 carteiras: 1 (ativos tradicionais brasileiros), 2 (ativos tradicionais e alternativos brasileiros), 3 (ativos tradicionais brasileiros e alternativos internacionais) e 4 (ativos tradicionais brasileiros e alternativos brasileiros internacionais) e 5 (carteira 4 excluindo bitcoin).
Os pesos de cada ativo foram obtidos pela otimização de Markowitz, colocando um piso de 5% a 10% e um teto de 30% para cada ativo. As carteiras foram analisadas em três janelas de tempo diferentes: 10 anos (01/06/2013 a 01/06/2023), 5 anos (01/06/2018 a 01/06/2023) e 3 anos (01/06/2020 a 01/06/ 2023). A tabela a seguir expõe os dados de retorno médio, volatilidade e índice de Sharpe.
De forma geral, os resultados mostram que incluir ativos alternativos ajuda a reduzir o risco e aumentar os retornos. Os ativos alternativos internacionais tiveram um desempenho superior em termos de retorno e risco em comparação com seus equivalentes brasileiros. Esse desempenho superior pode ser atribuído à menor correlação entre essas classes de ativos. No entanto, vale ressaltar que a incorporação de ativos alternativos brasileiros em uma carteira que já contenha ativos alternativos internacionais aprimora os retornos e melhora o perfil de risco geral, levando a resultados mais sólidos e estáveis.
Em um mundo caracterizado pela crescente incerteza e complexidade de mercado, a inclusão de ativos alternativos em uma carteira focada em Brasil pode ser considerada pelos investidores, especialmente por profissionais com conhecimento financeiro avançado. Investidores em busca de resultados mais equilibrados e resilientes devem considerar cuidadosamente o papel desses ativos em sua estratégia de investimento. Fazendo isso, eles podem aprimorar os retornos ajustados ao risco, permitindo-lhes navegar com maior confiança pelo dinâmico cenário de investimentos brasileiros.
Destaca-se que o exercício apresentado neste artigo é teórico e as rentabilidades divulgadas acima não levam em conta impostos e custos de transação. Cumpre ressaltar ainda que a rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura.
*Professor Titular de Finanças do COPPEAD/UFRJ e funcionário do BNDES