Não sei se você já reparou, mas assim como no mundo fashion, o mercado de ações também tem suas últimas tendências, e você pode ganhar dinheiro com isso.
Se em 2020 a moda eram as empresas de tecnologia, que ganharam até um apelido descolado, as FAANGs (Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34), Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34), Netflix (NASDAQ:NFLX) (SA:NFLX34), Google (NASDAQ:GOOGL)) (SA:GOGL34), as quais tomaram conta das passarelas e das carteiras recomendadas e de fundos de ações, em 2021 a moda já é outra.
Aqui vai uma dica: se tem apelido, tá na moda. Foi assim com as FAANGs, com os BRICs, com o “Pacote Brasil”, e agora com o Rotation Trade e o Superciclo.
No finalzinho de 2020 já começamos a ouvir os boatos de que o rotation trade chegava para ficar no ano que se avizinhava.
Se você não ouviu ainda, o termo “rotation trade” refere-se à migração de recursos dos investidores, saindo das empresas de tecnologia, “so last week”, para as empresas da chamada velha economia, como por exemplo empresas de commodities e bancos.
Panela velha é que faz comida boa?
Sabe como é, tal como no mundo das passarelas de Milão, as tendências sempre voltam, mas repaginadas.
Se em outros tempos as commodities brilharam com a China bombando o crescimento mundial e com um grupinho de países que prometia arrasar em crescimento de PIB, usando muitas commodities para crescer, a tendência agora volta repaginada.
O chamado Novo Ciclo das Commodities, a bola da vez, vem com novos contornos.
Desta vez, a alta dos preços e da demanda pelos materiais básicos vem acompanhada do chamado reflation trade.
Reflation trade é mais ou menos assim: coronavírus bateu, PIB mundial caiu e levou as ações de commodities como petróleo para a lama, mas parece que com as vacinas por aí e dinheiro despejado aos montes para recuperar as economias, o PIB mundial deve se recuperar e levar consigo a uma alta de preços das commodities.
E claro, o medo da inflação com a volta do aquecimento econômico está aí, sugerindo possível alta de juros, que caiu sem precedentes nesta crise.
Não à toa, o maior medo dos gestores hoje em dia é a escalada dos Treasures americanos, com os T-notes de 10 anos por volta de 1,5% ao ano.
Falando em alta de preços, o minério talvez seja o maior representante da tendência atual.
Para construir infraestrutura e atender ao consumo de bens duráveis, o mundo precisa de muito aço, e com tantos pacotes de estímulo, alguns bem voltados para Infraestrutura, o preço do minério de ferro já negocia nas alturas.
Ontem mesmo o Biden anunciou uma reunião para tratar especificamente deste tema, e há quem diga que a velha infraestrutura americana necessita de muitos trilhões para fazer frente à do seu principal rival, que corre para buscar o posto de maior economia do mundo, e tem por histórico investir fortemente em Infra, criando até cidades fantasmas se preciso for: a China.
Mais um bom motivo para os preços das commodities subirem: com tanto dinheiro despejado no mundo, quem garante o seu valor? Melhor se apegar em ativos reais, como commodities, empresas, não é mesmo? Eu acho!
Quem está se dando muitíssimo bem com isso, e pode se dar ainda melhor é a nossa velha conhecida Vale (SA:VALE3), que mesmo com a alta de mais de 150% desde suas mínimas na crise, está muito barata.
A Vale negocia a múltiplos EV/EBITDA de cerca de 3x para este ano, o que é a metade de suas concorrentes internacionais.
No caso da Vale, ela surfa e se beneficia de duas tendências juntas, a alta do preço do minério juntamente com a alta do dólar frente ao real.
Acredite, as duas coisas ocorrendo simultaneamente é tão raro como encontrar biquini e sunga para comprar na coleção de inverno. Em geral, quando as commodities sobem, o dólar cai. Mas eu não disse para vocês que as tendências sempre voltam, mas repaginadas?
No câmbio, ajudam a Vale as incoerências do nosso país, que hoje tem juro real negativo, abaixo da inflação, levando os estrangeiros a não verem tanta vantagem em deixar seu rico dinheirinho aqui.
Para quem olha de fora, somos um país mais arriscado frente a outros que pagam um juro maior, temos a segunda maior dívida em relação ao PIB entre os emergentes, e os casos de coronavírus disparam, na contramão do mundo.
Ou seja, pros gringos, a segurança de investir aqui no Brasil, sem reformas estruturais aprovadas e sem pouca preocupação com o fiscal, com tantos gastos em auxílio emergencial e na máquina pública, fica cada vez menor, e para receber este retorninho em juros, não vale a pena.
Se é para investir em um lugar mais arriscado, o retorno teria que ser maior, e nossa Selic hoje não paga nem a inflação. É isso que chamam de carry trade (pegar emprestado dinheiro em uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores).
Se o carry trade não está vantajoso comparado com o risco Brasil, os dólares saem daqui e o real desvaloriza.
Mas se isso é ruim para suas férias no exterior, eu tenho uma notícia que ameniza a raiva do câmbio: você provavelmente não conseguiria ir de qualquer jeito.
Nossa nova variante do coronavirais, a chamada P1, mais contagiosa e talvez mais letal, colocou medo no mundo e a maioria dos países não está nos aceitando de bom grado no momento, para evitar a nova variante de entrar.
O Brasil vai mal em muitos aspectos, é verdade, mas o mundo dos investimentos não para e a nova moda já está bombando em todos os relatórios de sell side por aí.
As commodities estão valendo ouro, e a Vale está barata em múltiplos frente as pares mundiais.