O mercado de divisas está tão volátil e confuso quanto o mercado de ações. Após o dólar passar dos R$6,00, retornou nesta última semana para perto dos R$5,00. O que está gerando tanta volatilidade? Quanto será o câmbio no final do ano? A questão é complexa e envolve políticas monetárias expansionistas que estão sendo usadas de maneira exaustiva pelos Bancos Centrais Americano e Europeu, mas também tem, é claro, componentes brasileiros para influenciar esta volatilidade.
No aspecto internacional, quando a pandemia do COVID-19 atingiu forte a Europa e os EUA, os investidores se agarraram no dólar, como uma moeda segura, fazendo com que sua cotação nos mercados de câmbio mundiais disparasse e o Real fosse uma das moedas mais atingidas. O momento coincidiu, claro com dois fatores importantes por aqui: um momento de política de redução de taxa de juros básicos da economia (a SELIC) para poder estimular a economia em lenta recuperação e inflação abaixo do piso da meta estabelecida pelo Banco Central; e, claro, perturbações políticas acerca do Presidente Bolsonaro e seus posicionamentos conflitantes com outros poderes, governadores e justiça.
Isso tudo, aparentemente, mudou. Os estímulos exageradamente altos nos mercados americano, principalmente, fizeram com que os investidores passassem a dispor de muitos recursos disponíveis e pouca atratividade nos títulos de renda fixa dos EUA, já que os juros foram para zero. Com isso, os investidores começam agora a procurar por investimentos mais rentáveis nas bolsas americanas e também fora de lá, aportando inclusive, no Brasil. Essa guinada foi apontada por mais de uma instituição financeira nos EUA e tem intensificado o ingresso de curtíssimo prazo de dólares na economia brasileira.
Tudo pode, todavia, mudar nas próximas semanas. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) irá se reunir agora em Junho e a expectativa do mercado é que a Selic seja reduzida novamente, desta vez para 2,25% ao ano, empurrando investidores internacionais para fora do país. Além disso, não há garantias de que as tensões políticas internas tenham se acabado e de que uma segunda onda de contágio da covid-19 possa atingir o Brasil. Portanto, Disney parece ser, cada vez mais, um sonho volátil e difícil de se responder.
Ecio Costa
Professor de Economia da UFPE e Sócio Fundador da CEDES Consultoria e Planejamento.