Promover uma mudança abrupta e estrutural na política comercial dos Estados Unidos já seria, por si só, uma fonte de volatilidade. Mesmo que, no longo prazo, essa guinada pudesse resultar em ganhos líquidos — algo ainda sujeito a discussão —, o principal fator de pressão sobre os mercados e sobre as perspectivas econômicas hoje é a falta de clareza quanto ao objetivo final da estratégia americana e aos meios escolhidos para alcançá-lo. O resultado é um duplo golpe sobre a confiança de investidores, consumidores e empresários.
Até poucos dias atrás, parecia razoável supor que bastaria aos países oferecer a eliminação total ou parcial de tarifas para viabilizar um acordo. Mas o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, afirmou na segunda-feira que a proposta do Vietnã de zerar tarifas não seria suficiente: “O problema são as trapaças não tarifárias”, disse.
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O presidente Donald Trump também rejeitou a proposta da União Europeia de um acordo “zero por zero” em tarifas sobre bens industriais. Questionado se esse patamar seria suficiente, Trump respondeu: “Não é”, em referência à oferta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Eles estão nos passando para trás no comércio”, afirmou.
As explicações oscilantes para justificar a imposição das tarifas ampliam a incerteza. Trump tem alternado entre objetivos como elevar a arrecadação federal, proteger setores estratégicos e utilizar tarifas como ferramenta de barganha. Parte dessas metas é mutuamente contraditória, o que contribui para um ambiente de ambiguidade.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, tentou apresentar uma linha de raciocínio clara sobre a abordagem da administração. Em declaração no domingo, afirmou que Trump “criou uma posição de máximo poder de negociação. Mais de 50 países já procuraram o governo para negociar a redução de barreiras não tarifárias, corte de tarifas e fim da manipulação cambial. Eles agem de má-fé há muito tempo, e esse tipo de situação não se resolve em dias ou semanas.”
Alguns republicanos têm sugerido que a administração aceite a proposta da União Europeia sobre veículos e bens industriais. “Vamos fechar esse acordo!”, escreveu o senador Mike Lee (R-Utah) na rede X. O senador Ron Johnson (R-Wisconsin) endossou a posição: “Concordo totalmente com @BasedMikeLee. Em algum momento, é preciso saber aceitar um SIM como resposta.”
Trump, por sua vez, declarou na segunda-feira: “Temos muitos países vindo negociar acordos conosco. Serão acordos justos e, em alguns casos, eles pagarão tarifas elevadas.”
Mas essa é de fato a base para um entendimento? Ninguém sabe ao certo, exceto talvez o próprio presidente.
A única certeza, por ora, é que quanto mais tempo essa incerteza perdurar, maior será o custo econômico em termos de confiança deteriorada. O aumento das discussões sobre uma recessão tende a contaminar diversas frentes da atividade, da formação bruta de capital fixo ao consumo das famílias.
“Essa indefinição sobre tarifas afeta também os consumidores. E chega às pessoas em seus empregos”, afirma Elizabeth Crofoot, economista sênior da Lightcast.
O CEO da BlackRock, Larry Fink, afirmou que muitos executivos já consideram que os Estados Unidos estão em recessão. “A maioria dos CEOs com quem converso acredita que já entramos em um processo recessivo”, declarou Fink durante um evento do Economic Club de Nova York nesta segunda-feira.
Elon Musk, um dos principais conselheiros econômicos de Trump, defendeu publicamente o livre-comércio e criticou Peter Navarro. O confronto direto entre membros centrais da equipe do presidente sobre a condução da política comercial mina ainda mais a confiança de que existe um plano coeso.
Cabe à administração Trump apresentar publicamente, de forma coordenada, os objetivos, regras e diretrizes de sua política tarifária. Trata-se de uma exigência razoável, considerando que está em curso um redesenho do sistema de comércio internacional construído no pós-guerra. A dúvida que permanece é se esse grau de transparência seguirá sendo algo inalcançável.
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