A semana que está começando embute a virada do mês de setembro, que acumula queda do Ibovespa da ordem de 4,5% e saída de recursos de investidores estrangeiros de R$ 3,5 bilhões (até 22/09), com expansão da variante Delta da covid-19 nos EUA e investidores reagindo aos problemas da gigante incorporadora chinesa Evergrande (OTC:EGRNY), que deixou de pagar credores na semana passada e pode não pagar também durante o prolongado feriado chinês.
Virada de mês é sempre mais complicada, pois inclui ajustes de carteiras, num quadro de incertezas que dominam o mundo. Aparentemente, o FED (BC americano) quase definiu que deve anunciar o tapering na reunião de novembro do FOMC, ajustando até meados de 2022. Até lá, não está prevista nenhuma alta dos juros básicos, hoje entre 0% e 0,25%. Outros bancos centrais de países desenvolvidos, como o BCE da zona do euro e o BOE, já especulam quando começarão a retirar estímulos.
Enquanto isso, dois outros importantes bancos centrais – Japão e China – parecem ir para a direção contrária. O Japão terá novo primeiro-ministro (Kono) e pode seguir estimulando a economia, que tem demorado a reagir. Já a China passa não só pelo problema Evergrande, caracterizado por Jerome Powell como particular daquele país e sem causar risco sistêmico, mas também por desaceleração da sua economia. Tanto isso é verdade que, nos últimos dias, o PBOC (BC chinês) tem injetado muitos recursos no sistema financeiro. Só na última segunda-feira (20/09), irrigou com mais US$ 15,5 bilhões, depois de sucessivas injeções nas semanas anteriores.
O mundo (e não só o Brasil) passa também por escassez de energia. A China começa a mostrar esse problema. O Reino Unido, por pane seca de combustíveis, e todo o mundo precisam fazer investimentos pesados em energia limpa nos próximos anos. O Brasil atravessa grave crise hídrica, além de problemas com secas e geadas, que vão encolher a produção de grãos, segundo previsão do IBGE e da Conab. Isso impedirá novos recordes de safras e impulsionará queda na produtividade, atrapalhando o PIB e o superávit da balança comercial.
Daí derivam as expectativas inflacionárias maiores em todo o mundo. Em alguns casos com componentes transitórias maiores, como parece ser o caso dos EUA, e em outros países nem tanto, como no caso do Brasil. Aqui, a prévia da inflação oficial pelo IPCA-15 mostrou altas em todos os segmentos pesquisados, com destaque para passagens aéreas, afetando o segmento de serviços (gasolina e energia vieram a reboque e prometem ficar por algum tempo), já jogando a inflação de 2021 para muito longe do intervalo de variação, na casa de 8,5%/9%.
A semana incorpora a inflação pelo PCE, nos EUA, que o FED dá maior importância para formatar a política monetária. Lá, dois outros fatores podem alterar as previsões de tapering: o contágio pela variante Delta e as indefinições sobre elevação do teto da dívida americana, que deveria sair até o final deste mês. Aqui, o Bacen aposta em alguma transitoriedade, desaceleração do PIB em 2022 e elevação dos juros, mas jogar a inflação de 2022 para quase a metade é uma tarefa árdua. Aposta ainda que reformas serão aprovadas no Congresso Nacional, principalmente após o silêncio do presidente Bolsonaro nos ataques ao Judiciário e Legislativo; que todos torcem para ser duradouro.
Com todas essas incertezas, os gestores de recursos promovem grande rotação de ativos, e o humor muda constantemente, sobretudo na virada de um mês complicado.
Temos que torcer pelo vetor positivo de definição sobre precatórios sem contabilidade criativa, marchas das reformas estruturantes (e boas) e Bacen diligente e independente como guardião da moeda. Além disso, que durem as boas relações do presidente com os demais poderes, para que possamos ter um pouco mais de paz.