Ficou para hoje (9h) a leitura do relatório da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara dos Deputados. Após a série de recuos do governo para garantir o mínimo de votos necessários e avançar a proposta ao plenário da Casa, o mercado financeiro deve manter o otimismo, um dia após não se intimidar com as mudanças.
Apesar de o texto original ter sido desfigurado, em grande medida, os investidores veem um fator positivo no acordo firmado entre o governo e a base aliada. Cientes de que a proposta está longe do ideal – e do essencial para resolver a trajetória da dívida pública - os investidores continuam dando o benefício da dúvida e mostrando sangue-frio.
O que importa, neste momento, é fazer o possível. Até mesmo a idade mínima para aposentadoria – ponto que era tido como imexível – foi alterada. Pela proposta, mulheres a partir de 62 anos poderão se aposentar, enquanto os homens terão de esperar até os 65 anos. Na regra de transição, o mínimo é de 53 e de 55 anos, na mesma ordem.
Segundo o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), cerca de 80% da proposta original ainda deve ser mantida e a expectativa é de que não haja novas modificações no Senado. Mas o presidente da Casa, Eunício Oliveira, já avisou que os senadores podem alterar pontos do texto. Por ora, a economia a ser gerada já foi reduzida em 20%, passando de R$ 800 bilhões para R$ 630 bilhões em 10 anos.
E o mercado avalia que isso ajuda, e muito. Assim, mesmo com o tratamento diferenciado aos servidores estaduais e municipais, às classes política e militar, além de professores e dos trabalhadores rurais, prevalece a percepção de que “qualquer reforma é melhor do que reforma nenhuma”. A manutenção dessas desigualdades e o ônus maior sobre o trabalhador privado são detalhes...
O parecer do relator da reforma da Previdência, Arthur Maia, será apresentado somente hoje – e não se sabe se até a produção do texto final novas alterações serão feitas. Contudo, um novo adiamento na leitura do texto pode trazer incômodo aos negócios. Trata-se do grande evento do dia, que traz também leituras parciais de abril do IGP-M (8h) e do fluxo cambial (12h30)
Mas o placar expressivo entre os deputados na aprovação do texto-base do projeto que prevê socorro aos estados em crise financeira, por 301 votos a 127, deve animar. A larga vantagem alimenta as chances de uma nova vitória em relação à emenda da aposentadoria e ofusca a derrota na votação da urgência da reforma trabalhista.
Os 230 votos obtidos na tentativa de acelerar as mudanças nas leis de trabalho assustaram o Palácio do Planalto. A votação era considerada o primeiro grande teste do governo após a divulgação das delações da Odebrecht e o total de votos foi insuficiente para aprovar o requerimento.
Daí, foi uma mobilização de emergência que evitou uma nova derrota e garantiu a aprovação da recuperação fiscal aos estados. Se o governo tivesse sofrido uma nova derrota, a credibilidade em relação à aprovação da reforma da Previdência ficaria arranhada. Portanto, não sejamos ingênuos, foi um grande alívio.
Por mais que ainda haja incertezas no ar, tudo indica que o ciclo de cortes na taxa básica de juros para abaixo de 9% já parece estar contratado até fim do ano. A trajetória de queda da inflação combinada com a recuperação lenta da atividade permite essa queda expressiva da Selic, o que, ainda assim, deixaria um juro real na faixa de 5%.
Ontem, o Banco Central sinalizou a intenção de reduzir a Selic em mais que um ponto porcentual em abril, mas alguns fatores impediram isso. Ainda assim, a dose deve ser o novo ritmo de cortes e é mais provável haver uma aceleração para 1,25 pp do que uma redução para 0,75 pp.
No exterior, as atenções também se voltam para o BC dos Estados Unidos. O Federal Reserve divulga o Livro Bege (15h) e o documento pode calibrar as apostas em relação aos juros norte-americanos, em meio aos indicadores econômicos mais fracos, que afastaram as chances de uma alta adicional na taxa, além das duas já precificadas.
A possibilidade de aperto em junho caiu para 44%, de mais de 60% no início do mês. Na safra de balanços, saem os resultados trimestrais do Morgan Stanley (NYSE:MS).
Nesta manhã, os mercados internacionais ensaiam uma recuperação, diante da melhora nos preços dos metais básicos. As ações de produtores e exportadores das commodities metálicas lideram os ganhos nas bolsas, em meio às ganhos do zinco, do alumínio e do minério de ferro, após as fortes quedas no início da semana. O cobre também avança.
O petróleo, porém, está na linha d'água, à espera dos estoques semanais da commodity e seus derivados nos EUA (11h30). Os investidores também aguardam as propostas do presidente norte-americano, Donald Trump, para materializar o plano de corte de impostos e aumento dos gastos, ainda sem previsão, ao mesmo tempo em que acompanham a possibilidade de os franceses elegeram um eurocético, no domingo.
No Reino Unido, a convocação de eleições antecipadas para o próximo dia 8 de junho zerou os ganhos da Bolsa de Londres no ano. As incertezas políticas na ilha também abalam a libra esterlina, um dia após a moeda saltar mais de 2% ante o dólar. A moeda norte-americana, aliás, mede forças ante os rivais, tentando recuperar parte do terreno perdido recentemente.
O movimento acompanha os ganhos nos rendimentos (yield) dos bônus dos EUA. Porém, o yield do título soberano japonês de 10 anos caiu a zero, ao passo que o papel australiano de mesmo vencimento recuou à mínima desde novembro. Em Wall Street, os índices futuros ensaiam alta, embalando o pregão europeu, após uma sessão mista na Ásia.