Um Tênis da Mesbla nos Anos 80 e um CDB no Banco do Brasil Hoje

Publicado 25.08.2016, 14:27
IXIC
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Final dos anos 90 quando terminava a faculdade de engenharia civil fui apresentado à internet, sentado num terminal Linux do laboratório da faculdade me empolgava a possibilidade de trocar mensagens de texto, via email, com outra pessoa conectada à rede em qualquer lugar do mundo. A Web ainda não passava de um feto recém-saído do útero da mãe, uma revista lançada na época listava os websites brasileiros e alguns meses depois um garoto fez fortuna com um catálogo on line, onde ele simplesmente digitava o endereço dos sites brasileiros após uma pesquisa diária. Hoje tudo é web.

Interessante que mesmo com a óbvia percepção de que a rede mundial de computadores se tratava de algo revolucionário, poucos entenderam o seu real potencial de transformar a economia global e se perderam. Alguns muito afoitos saíram financiando qualquer site que se propunha a qualquer coisa, ignorando a facilidade de entrada de novos concorrentes no mundo digital naquele momento e quebraram no estouro da bolha da Nasdaq. Num segundo momento que vimos nascer os fenômenos Apple, Google e Facebook, nenhuma delas desbravadoras em seus segmentos, mas oferecendo novas experiências aos usuários e também se beneficiando do novo impulso gerado pela mobilidade trazida pelos smartphones.

O interessante é que se todo este avanço quebrou paradigmas diversos em algumas áreas, alterando a relação entre prestadores de serviços e clientes, outras ainda continuam caminhando à mesma marcha, com ganhos apenas marginais de produtividade: ainda se constroem arranha-céus com tijolos e mão-de-obra de baixa qualificação, os restaurantes ainda disponibilizam um bufê com os pratos selecionados por seus chefs, com preços fixos ou a quilo e as pessoas ainda continuam indo aos supermercados efetuar suas compras, por mais que estes tenham tentado disponibilizar a venda on line no passado, não colou, a experiência de se passear com os carrinhos pelos corredores escolhendo os produtos ainda supera a comodidade de recebê-los em casa.

Por isto sou um pouco cético, quando pela 3ª vez nos últimos dias vejo alguém falando que as profissões de 25 anos à frente ainda estão por ser inventadas. Engenheiros, médicos, dentistas, advogados e outros continuarão sendo necessários e importantes na economia, independente da nova onda de inovação que tenhamos pela frente. Novos serviços surgirão explorando as lacunas ainda abertas em setores ainda amarrados a fenômenos culturais como o dos supermercados, mas o cerne se manterá.

No meio de todo o ocorrido talvez o caso mais intrigante seja o do setor bancário, onde a automatização gerou ganhos de produtividades incríveis, permitindo que o cliente faça de tudo de qualquer lugar, do smartphone ou do computador, exceto por enquanto operações envolvendo papel moeda. Ir ao banco está longe de ser uma experiência agradável, porém as filas nas agências persistem, ainda há parte significativa da população avessa ao uso do computador ou do smartphone, o que mantém os empregos dos caixas.

E da mesma forma que estes clientes ainda continuam a resolver tudo pessoalmente no banco, enfrentando a demora no atendimento das agências, outros continuam a ignorar a existência de novos canais de investimentos, com melhores produtos e melhor atendimento que os dos bancos de varejo tradicionais, não se dão conta de que continuam avessos ao avanço como aqueles que enfrentam a fila dos caixas para pagar um boleto. Abrem mão de retornos superiores para seus depósitos, principalmente para os de longo prazo, apenas por se manterem presos a um costume do passado.

Vejo uma agência bancária hoje como uma grande loja de departamentos dos anos 80, quando era menino ir à Mesbla era uma diversão, passear entre as diversas sessões ouvindo o hit da época que vinha da discoteca seduzia a muitos, me incluo nesta, porém o tempo foi mostrando que não era possível a sobrevivência das grandes lojas apesar das forças de suas marcas. As lojas especializadas lhes tomaram os clientes, oferendo dentro de cada nicho maiores opções tanto em preço, como em qualidade. Hoje o banco em que você recebe o seu salário e paga suas contas não passa de uma grande loja de departamento do passado. Há casas especializadas prontas para te oferecer um serviço mais eficaz, que estão submetidas às mesmas regras e fiscalização de todo o sistema financeiro.

Não há dúvidas de que a mudança virá, cedo ou tarde a segmentação do sistema financeiro se fará presente no mercado e naturalmente todos estarão procurando os escritórios especializados, uns podem se antecipar e começar a usufruir dos benefícios agora, outros podem continuar deixando dinheiro para os grandes bancos, aplicando na caderneta de poupança ou num CDB mal remunerado. O status quo agradece.

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