2024 começou promissor. O mercado financeiro vinha de uma euforia nos últimos dois meses de 2023, quando um novembro azul e o rali de Natal garantiram os ganhos dos ativos de risco em todo o ano passado. Mas o entusiasmo teve vida curta.
Aos poucos, os investidores foram se convencendo de que o Federal Reserve não iria cortar os juros nos Estados Unidos o tanto quanto era esperado. O choque de realidade veio pouco antes do fim do primeiro trimestre, depois de janeiro ter “ido pro vinagre”.
Agora, neste último dia útil do primeiro semestre, o cenário é frustrante. Das sete quedas projetadas para a taxa dos Fed Funds ao longo deste ano, restou apenas uma - aliás, que nem aconteceu, mas provavelmente virá em algum momento do segundo semestre.
O índice de preços preferido do Fed, o PCE, que será conhecido hoje (9h30) tende a calibrar as expectativas em relação ao timing. Por ora, a aposta é de que seja mais cedo do que tarde, com o tão esperado corte acontecendo em setembro.
Afinal, novembro tem eleições presidenciais nos EUA. O primeiro reencontro entre Joe Biden e Donald Trump à luz do pleito teve o republicano como vencedor. A performance do democrata foi tão ruim que o fator político deve entrar de vez no radar de Wall Street.
O que vem por aí…
É a essa perspectiva que os mercados tendem a se ajustar com a virada para os próximos seis meses. Contudo, os olhares mais atentos observam que este movimento já teve início, inclusive em Nova York, onde o rali das grandes empresas de tecnologia perdeu tração.
Por aqui, o Ibovespa caminha para registrar o segundo mês positivo em 2024, subindo 1,8% em junho e reduzindo a queda no ano para pouco mais de 7%. O entrave continua sendo o dólar, que sobe quase 5% só em junho. No ano, a valorização é de 13,5%.
Embora alguns “cretinos” queiram atribuir parte desse movimento a declarações do presidente Lula e/ou ao prêmio de risco do Brasil - em especial, o fiscal - a aposta dos estrangeiros contra o real em nível recorde e próximo a US$ 80 bilhões tem apenas uma única razão: os gringos dolarizaram a posição nos ativos locais à espera do Fed.
Isso significa que, quando os juros dos EUA estiverem perto de deixar o maior nível desde 2001, essa posição dolarizada tende a ser revertida, fazendo jus ao velho jargão do mercado, que diz que “dólar cai, bolsa sobe”. Em outras palavras, será a vez dos emergentes.
Até porque o Fed sinalizou que deve continuar cortando a taxa em 2025, seja quem estiver no comando da Casa Branca. Isso pode abrir espaço para a taxa Selic voltar a cair, após a ata da reunião deste mês do Copom deixar claro que se tratou de uma interrupção do ciclo de queda - e não um fim dos cortes. Ao mesmo tempo, o alívio na prévia da inflação reforça que o IPCA-15 e o IPCA+ seguem fora da ordem, como mostrou o Relatório do BC.
Por tudo isso, o mercado não deve se esquecer do que aconteceu neste semestre em relação ao que era estimado para, enfim, acertar nas previsões do que está por vir.