É sempre ruim escrever um texto pessimista.
As pessoas tendem a esperar sempre uma voz otimista do outro lado.
E isso se tornou mais frequente, praticamente um "quase mantra", nos últimos 10 anos no Brasil.
O Brasil foi o "queridinho do mundo", sempre é claro, dentro do chamado "BRIC", que incluía Rússia, China e Índia.
O Brasil seria imune a qualquer tipo de turbulência externa, estaria sempre pronto a superar todo e qualquer obstáculo.
É preciso muita coragem pra ir contra essa visão otimista.
Vide a previsão de crescimento de 1,5% para o PIB do Brasil para esse ano feita pelo Credit Suisse há cerca de 2 meses.
O Ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, prontamente taxou a previsão de "uma piada".
Pois sim.
Dentro desse contexto, é fato que lá fora, a visão acerca do Brasil no últimos 6 meses tem mudado rapidamente.
Aqui dentro, parece que não, a despeito de uns poucos, eu aí incluso.
Escrevi um texto no início do ano acerca da inversão da pauta de nossas exportações a favor das commodities, isto é, o Brasil já apresentava àquela época, uma participação de mais de 60% de commodities na pauta de exportações, bem mais do que os anos 90.
Essa semana, 2 notícias importantes parecem ter passado despercebidas.
Dados da Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB) apresentados essa semana mostram que o superávit do comércio exterior brasileiro pode fechar o ano com um tombo de 76% em relação ao ano de 2011, o que seria o pior saldo desde 2001, quando tivemos um superávit de US$ 2,6 Bilhões segundo a entidade.
Outra notícia veiculada essa semana diz respeito a queda da arrecadação fiscal do governo federal e consequente aposta do mercado na dificuldade do governo em cumprir a meta do superávit primário. A nova previsão agora é de 2,95% do PIB para o superávit primário.
Quando estamos dentro do "zum-zum-zum", é mais dificil ver o que se passa.
Até mesmo porque o ser humano é um "animal" sempre otimista. Mas o Brasil dos últimos 5 anos, além de ser "impregnado" pelo "animal otimista", é o Brasil de políticas populistas, assim como o país da Copa e das Olímpiadas.
Dado esse pano de fundo, acho até que me alonguei demais, vamos mergulhar em alguns gráficos.
O primeiro ponto a se destacar é em relação as commodities.
Ora, o BOVESPA carrega um peso muito grande em commodities, principalmente VALE e Petrobrás.
O Mundo está em forte desaceleração econômica e boa parte dessa desaceleração é impactada diretamente no consumo de commodities.
Portanto, não é dificil especular num bear market das mesmas, salvo questões circunstanciais aqui e ali.
Abaixo temos o principal índice de referência das commodities, o "CRB".
O índice no TEMPO SEMANAL mostra uma Média móvel Simples de 50 já embicada pra baixo. Na sexta-feira última, bateu em uma LTB longa.
Portanto, há uma forte chance de vermos agora um novo mergulho desse índice, muito possivelmente na direção de 250 pontos.
Gráfico semanal, escala linear
Se de fato isso acontecer, as mineradoras ao redor do mundo acompanharão. Aí incluo algumas das principais, Rio Tinto, BHP e a brasileira VALE.
Vamos repassar as 3 ações listadas em NOVA YORK no TEMPO SEMANAL abaixo.
Vejam que todas também carregam MÉDIAS MÓVEIS SIMPLES DE 50 EMBICADAS PRA BAIXO, assim como o índice "CRB".
Gráficos semanais, escalas lineares RIO TINTO, BHP e VALE
Ora, afetando a VALE , afeta o nosso índice. Abaixo, coloquei uma correlação BOVESPA-VALE, gráfico semanal.
VALE em candles azuis e BOVESPA em "preto"
Gráfico semanal, escala linear
Passamos agora para um momento mais de discussão e especulação.
Vejam abaixo que nos últimos 3 anos o BOVESPA tem mantido por muito tempo sua média móvel simples de 50 embicada pra baixo, antes de pernas de alta mais acentuadas.E tal média muitas vezes serviu de balizamento antes de novos pivots de baixa
Gráfico diário, escala linear
Acima, quando coloquei o gráfico do IBOV sobreposto ao da VALE5, deu pra ver que sua MÉDIA MÓVEL SIMPLES de 50 no TEMPO SEMANAL já está embicada pra baixo desde meados do ano passado, praticamente reproduzindo o "CRB".
Vamos ao gráfico isoladamente:
Gráfico semanal, escala linear
Agora, vamos ver analisar mais de perto quando ocorreu em períodos mais distantes o mesmo comportamento.
Vejam abaixo que em 1997 e no ano de 2000, as médias móveis simples de 50 embicaram pra baixo e permaneceram assim por cerca de 2 a 3 anos.
Tal comportamento produziu alguns pivots de baixa no semanal durante esse tempo.
Do topo do período a mínima, vejam que em 1997-1999 a queda foi mais acentuada, cerca de 70%; a de 2000-2002, cerca de 55%.
Gráfico semanal, escala linear
Abramos um parênteses aqui para contextualizar as épocas.
Em 1997-1999 vivemos um período conturbado, com ataques as moedas dos países emergentes, Crise da Ásia, quebra da Rússia e Argentina e a desvalorização do Real Brasileiro.
Em 2000-2002, vivemos o estouro da Bolha da Internet , 11 de setembro e aqui no Brasil o apagão.
Os 2 períodos, olhados sob a ótica fundamentalista, externa e interna, me parecem ainda de gravidade menos intensa do que o momento atual.
O Momento atual , do ponto de vista interno e à luz do que foi dito no início do texto, compreende no caso do Brasil pontos frágeis, difíceis de serem atacados no curto-médio prazo.
Do ponto de vista externo, falamos de uma fortíssima desaceleração econômica que afeta, emtre outras variáveis, moeda, crédito e dívidas soberanas de países.
Enfim, o quadro atual é muito mais grave.
Tudo isso pra dizer o quê ?
Pra discutir e especular em que estágio estamos e onde podemos chegar.
Pra começar é importante dizer que, desde o momento que rompemos o pivot no semanal de 58 k ano passado, o BOVESPA está em bear-market.
Se tenho isso como ponto de partida, as pernas de alta são simples correções de alta de uma grande tendência de baixa.
A perna até o 69k do início do ano foi uma perna de alta dentro de uma tendência maior de baixa.
Logo, é possível especular que esse divisor de 48 k pode não ser forte o suficiente no curto prazo pra pensarmos em uma nova perna de alta.
É possível sim discutirmos, inseridos em todo esse pano de fundo, que possamos romper os 48 k, com teste nos 45 k , antes de uma nova e forte perna de alta.
O teste nos 45 k pode ser visto abaixo em movimento executado no ano de 2007 e 2008, quando da perda dos 48 k, tanto no TEMPO DIÁRIO, COMO SEMANAL
Gráfico diário, escala linear
Gráfico semanal, escala linear
Enfim, o artigo não tem como propósito pregar o "fim do mundo".
O objetivo do mercado é sempre "comprar barato" e "vender caro", não é ?
Pois sim, num ambiente atual, não o ambiente otimista dos políticos e formuladores de política econômica, e sim, o ambiente real, com dados e números, o que "pode ser barato" ?
A intenção aqui é essa......
Apresentar uma visão "não otimista", fora do "tom usual".......
O Brasil não é mais o "queridinho do mundo".......
Falta ousadia aqui dentro pra dizer que hoje estamos muito longe da "tranquilidade".