A Refinaria de Manguinhos (SA:RPMG3), hoje denominada Refit, vive tempos conturbados. Seja pelo seu momento de recuperação judicial, que ocorre desde 2016, seja pela cobrança de débitos tributários bilionários, que se arrasta há tempos.
Problemas judiciais à parte, a Companhia é uma das principais distribuidoras de combustíveis para os postos sem bandeira — conhecidos como “bandeira branca” — da região Sudeste.
Desde o ano passado, a Refit tenta expandir o negócio no varejo com a venda de combustíveis por um aplicativo chamado Gofit. Eles intitulam o serviço como o “Uber dos combustíveis”. As vendas são feitas por caminhonetes equipadas com tanques e bombas, que atendem pedidos feitos pelo celular.
A ideia encontrou objeção da ANP, por conta da falta de autorização dos órgãos reguladores. A Companhia defende que não há concorrência com postos, pois o abastecimento das caminhonetes é feito nos mesmos — e não direto da refinaria.
Essa prática já existe nos EUA, Canadá e Reino Unido, mas ainda enfrentam problemas legais naquelas jurisdições, principalmente por conta da segurança e das dificuldades de fiscalização na prestação dos serviços.
O projeto-piloto foi revisto pela ANP, que recomendou a liberação da Gofit pelo prazo de um ano, até que seja formulada uma regulamentação específica para esse modelo de negócio. A Agência sinaliza o apoio à competição e às inovações no segmento, baseando-se na Lei da Liberdade Econômica, sancionada em 2019.
Por enquanto, a autorização para teste se restringe para a parte da zona oeste do Rio de Janeiro — onde fica localizado o posto onde são abastecidas as caminhonetes do aplicativo.
A despeito do entusiasmo que a ideia inovadora pode provocar, vale ter em mente alguns números de RPMG: a Companhia possui patrimônio líquido negativo da ordem de 2,7 bilhões de reais, decorrente do acúmulo de prejuízos por pelo menos uma década. Além disso, a estrutura de custos da Empresa segue extremamente onerosa.
O delivery de combustíveis parece ser uma ideia interessante. Porém, tem muito mais chances de prosperar se explorada por Empresas em melhores condições financeiras e com maior abrangência geográfica. Poderia ser explorada por Companhias como BR Distribuidora (SA:BRDT3), Cosan (SA:CSAN3) ou Ultrapar (SA:UGPA3)? Sim… mas acredito que, por ora, o risco regulatório limita o apetite delas pela iniciativa.
Quem sabe no futuro?
O negócio de distribuição de combustíveis não é fácil: a competição é acirrada e as margens são extremamente estreitas. Sob boa gestão, porém, trata-se de atividade que gera generosos fluxos de caixa, com bom potencial para colocar dinheiro no bolso dos acionistas.