A venda do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34) ao bilionário Elon Musk, CEO da Tesla Inc (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34), ostenta valores robustos: o acordo envolveu US$ 44 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões). Considerando todo o mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), porém, cifras como essas não são inéditas. Por que, então, a aquisição da rede do passarinho virou a notícia desta semana?
O apelo é maior, obviamente, porque o cheque saiu do bolso do homem mais rico do mundo. Mas não é só isso. Houve uma preocupação inicial dos usuários quanto a um possível uso político, já que as redes sociais (e seus algoritmos) passaram a influenciar pessoas e países de todo o mundo. O risco sempre existe, mas é difícil imaginar que Elon Musk arriscaria perder usuários – e muito dinheiro – por uma narrativa política.
Mais um fator se destaca: é raro uma transação desse montante ser feita basicamente por uma pessoa física. A aposta é arriscada, mas muito interessante de se acompanhar. Isso porque Musk tem capital para fazer uma mudança acontecer, algo que nunca se viu em outras plataformas. Até hoje, todas as redes sociais cresceram com rodadas sucessivas de capitalização que diluíram a participação de seus fundadores, de modo que há pouca abertura para grandes guinadas (o próprio Mark Zuckerberg possui menos de 15% da Meta (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34)).
Haverá agora no Twitter um controlador com participação econômica suficiente para fazer um movimento mais ousado, inclusive com potencial de mudar a forma de monetização, por exemplo. Desta vez, Musk tem nas mãos a chance de fazer mais um foguete voar.
Nesse sentido, grandes mudanças, como alterar o algoritmo do Twitter e criar uma rede social diferente de todas, explicam a decisão de fechar capital. Uma empresa listada na bolsa vive em função dos resultados do próximo trimestre, muitas delas têm um executivo sem participação substancial no negócio que é sempre medido pelos resultados trimestrais. Assim, a chance de acontecer uma grande mudança, que demande mais tempo para dar resultados, é baixa. Fechar capital, portanto, não é necessariamente um movimento ruim, mas demonstra que Musk está programando uma grande transformação para o Twitter.
Um indício do que está por vir são as recentes aparições do bilionário defendendo uma rede social própria, com uma programação que contribua com o bem-estar dos usuários no longo prazo em detrimento do engajamento desgovernado que rege muitas plataformas hoje.
É uma crítica clara ao imediatismo clickbait do Facebook, no qual certamente Musk quer abocanhar um pedaço do mercado. A Meta, holding do Facebook, é avaliada hoje em cerca de US$ 500 bilhões, enquanto o Twitter vale na bolsa de valores (por enquanto) algo em torno de US$ 40 bilhões. Em termos de rendimento, as margens da Meta chegam a ser cinco vezes maiores – e aqui pode estar o pulo do gato para Elon Musk.
O Facebook foi muito competente em extrair o máximo de rentabilidade de cada internauta, mas ao custo de desgastar essa relação com o passar do tempo. O Twitter não seguiu o mesmo caminho, o que pode ter preservado a rede social e tornado seus usuários mais abertos a mudanças.
Essa receita já traz ingredientes interessantes: um controlador capitalizado com pouca prestação de contas a fazer, a vontade de mudar um algoritmo pela raiz e uma rede social tradicional com grande potencial de crescimento.
Se esse “bolo” vai dar certo, só o tempo vai nos dizer. De fato, o empresário tem muitas coisas para guiar concomitantemente – não à toa, por conta de preocupações de investidores, a Tesla perdeu US$ 275 bilhões em valor de mercado depois do anúncio da compra do Twitter. Mas Elon Musk já provou sua genialidade em 20 anos de Tesla e SpaceX. Ele não deve fazer feio agora.