Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
O mercado de câmbio tem se comportado como uma montanha-russa nesta semana, com as moedas reagindo a cada manchete positiva ou negativa. Os investidores estavam preocupados com a possibilidade de a comitiva chinesa deixar os EUA depois de apenas um dia de conversas, sem esclarecer como haviam sido as primeiras tratativas. A incerteza era tão grande que os observadores do mercado passaram a dissecar a linguagem corporal de todos os que chegavam. Ao final da sessão de Nova York, o dólar estadunidense ganhou força depois que o presidente Donald Trump tuitou que se encontraria com o “vice-premiê [da China] na sexta-feira, na Casa Branca". No entanto, no mesmo tuíte, ele deixou o mercado em dúvida, ao dizer: "Eles querem fazer um acordo, mas será que eu quero?".
Como ainda não se sabe quais serão os resultados das tratativas comerciais, pode haver mais fogos de artifício nas próximas 24 horas. Se o presidente Trump concordar com um acordo parcial com a China, o par USD/JPY fará uma corrida até as máximas de um mês, perto de 108,50. Outros importantes pares de moedas podem se beneficiar dos fluxos da tomada de risco, com o EUR/USD testando 1,1050 e o AUD/USD indo em direção a 0,6850. Se as negociações falharem e a China deixar os EUA sem um acordo, veremos uma rápida reversão nos ganhos desta quinta-feira, com o USD/JPY e o AUD/USD registrando as maiores perdas. Embora talvez não seja uma boa ideia apostar em um acordo, a disposição do presidente Trump em se encontrar com o vice-premiê chinês Liu He é um sinal de que pode haver um resultado positivo. Isso também poderia distrair as agências de notícias em relação ao processo de impeachment.
Um acordo comercial pode reduzir a chance de uma flexibilização maior por parte do Federal Reserve (banco central dos EUA) neste mês. As pressões de preço estão atenuadas, de acordo com o último índice de preços ao consumidor, que ficou estagnado em setembro. O IPC se manteve estável na comparação mensal, embora os preços de alimentos e energia tenham subido levemente. Relatórios econômicos mais amenos terão pouco efeito sobre o dólar nesta semana, já que as perspectivas de crescimento global dependem das tratativas comerciais.
Enquanto isso, a libra esterlina se valorizou mais de 2% frente ao dólar estadunidense, depois que o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o premiê irlandês Leo Varadkar disseram que “veem um caminho” para um acordo sobre o Brexit. Não foram fornecidos detalhes, mas a Sky News divulgou que o Reino Unido está propondo um acordo de livre comércio restrito. As conversas agora mudam para Bruxelas, onde o secretário do Brexit, Stephen Barclay, se reunirá com o negociador-chefe do Brexit na União Europeia (UE), Michel Barnier. Não acreditamos que o acordo será palatável para a UE, mas os investidores estão se agarrando a qualquer notícia positiva, pois a ação dos preços reflete um grande nível de otimismo. Evidentemente, o sentimento pode mudar rapidamente se a Alemanha ou a UE levantarem dúvidas quanto ao acordo, portanto não é aconselhável abrir grandes posições antes da divulgação de um resultado concreto.
O par EUR/USD foi negociado acima de 1,10 pela primeira vez em duas semanas. Apesar de os números de conta corrente e balança comercial da Alemanha terem ficado aquém das expectativas, o Banco Central Europeu (BCE) declarou que diversos dos seus membros se opuseram à flexibilização quantitativa e acreditavam que esse deveria ser o último recurso. Entretanto, como a maior economia da região está flertando com uma recessão, mantemos o ceticismo quanto à durabilidade do rali no EUR/USD. Os investidores e o BCE esperam que o governo alemão dê suporte à economia através de estímulos fiscais, mas pode não ser fácil implementar essa medida, uma vez que o próprio Ministro de Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, disse, nesta quinta-feira, que seu país já adota uma política expansionista.
As três principais moedas ligadas a commodities se valorizaram nesta quinta-feira graças ao otimismo com as tratativas comerciais, mas devemos ficar de olho no dólar canadense nesta sexta-feira. Os números do mercado de trabalho devem ser divulgados hoje, e os economistas preveem uma desaceleração significativa no crescimento dos empregos. De acordo com o PMI IVEY, as empresas canadenses fecharam postos de trabalho ao ritmo mais rápido desde 2016. O par USD/CAD deve disparar com o relatório desta sexta, mas as previsões são baixas, por isso a reação no dólar canadense dependerá do tamanho da surpresa.