A notícia de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a primeira-dama, Melania, testaram positivo para coronavírus mergulha os ativos de risco no vermelho nesta sexta-feira, roubando a cena em dia de dados sobre a indústria no Brasil e o emprego nos EUA. Os índices futuros das bolsas de Nova York caíram drasticamente e exibem perdas de mais de 1%, contaminando a abertura do pregão europeu. O petróleo cai 3%.
O teste positivo para covid-19 de Trump foi anunciado na madrugada desta sexta-feira, horas após a notícia de que a assessora Hope Hicks, que viajou com ele para Cleveland para participar do primeiro debate eleitoral, havia contraído o vírus. Por causa da idade, 74 anos, Trump faz parte do grupo de risco e os investidores monitoram agora o período de quarentena. Pelo Twitter, o presidente disse que ele e a esposa estavam “se sentindo bem”.
O fato inesperado traz nervosismo ao mercado financeiro, pois a notícia chega a cerca de um mês antes das eleições nos EUA e após um debate, no mínimo, caótico entre Trump e o rival Joe Biden. Apesar da troca de insultos e acusações, o democrata abriu vantagem em relação ao republicano, nas pesquisas eleitorais e nos mercados de apostas, e a visão de curto prazo dos investidores é que a Casa Branca, sob nova direção, poderia revisar os cortes de impostos implementados por Trump, afetando em cheio o setor corporativo.
Outro fator potencialmente negativo para o mercado é o quanto a covid-19 se espalhou para os escalões superiores do governo dos EUA, incluindo lideranças do Congresso, o que poderia emperrar de vez as negociações sobre um novo pacote de estímulo fiscal. Tampouco há informações sobre o estado de saúde de Biden. Portanto, a notícia de que Trump testou positivo para coronavírus é vista como a “surpresa de outubro”, em alusão à conspiração não comprovada durante a campanha de Reagan, que pode mudar a eleição no país.
Exterior contaminado
Diante disso, a reação imediata dos investidores foi buscar proteção em ativos seguros, como o dólar e o ouro, saindo do risco em ações e nas commodities industriais. Ainda assim, as movimentações são contidas. Os índices futuros em Nova York se afastam das mínimas, mas seguem com perdas aceleradas, o que inibe uma melhora mais firme das bolsas europeias. Na Ásia, em uma sessão esvaziada pelo feriado na China, Tóquio caiu 0,7%.
Já o petróleo segue em queda acentuada, com o barril dos tipos WTI e Brent cotados abaixo de US$ 40. Os metais básicos também recuam, com o cobre caindo ao redor de 2%. Entre os preciosos, o ouro apagou o sinal negativo e exibe leves ganhos, cotado na faixa de US$ 1,9 mil por onça-troy. A prata também reverteu as perdas e sobe. Entre as moedas, a resposta clássica de porto seguro fortalece o iene e o franco suíço.
Esse comportamento dos mercados no exterior reflete o desconforto dos investidores com as incertezas surgidas após o diagnóstico de Trump e a expectativa para o dia é de intensa volatilidade nos negócios, sem descartar ordens de venda mais profundas (sell off). Ainda mais diante da proximidade do fim de semana e da agenda econômica do dia, que traz nada menos que o relatório oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano.
Indústria e payroll em destaque
A primeira sexta-feira do mês ainda reserva dados sobre a indústria no Brasil e o emprego nos EUA (payroll), que devem apontar para o processo de normalização da atividade doméstica e também do mercado de trabalho norte-americano, passados os movimentos abruptos sob impacto da pandemia. Em ambos os casos, portanto, deve haver desaceleração no ritmo de alta, observado nos meses anteriores.
Tal comportamento só reforça a percepção de perda de tração da recuperação econômica, evidenciando a necessidade de estímulos adicionais. Mas o vaivém na cena política dificulta a injeção dessa dose extra. Democratas e republicanos não conseguem chegar a um consenso sobre um novo pacote fiscal antes das eleições presidenciais, enquanto, aqui, segue a divergência sobre as formas de bancar o Renda Cidadã.
É nesse contexto que os investidores recebem hoje os dados da produção industrial brasileira, que deve crescer pelo quarto mês seguido em agosto, em +4,0%, praticamente a metade do observado no mês anterior, mas registrar o décimo resultado negativo consecutivo no confronto anual, com -2,0%. Os dados efetivos serão conhecidos às 9h e são o único destaque da agenda doméstica.
Depois, as atenções se voltam para o exterior. Às 9h30, sai o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll), que deve apontar a criação de 850 mil vagas em setembro, após a abertura de 1,4 milhão de postos em agosto. Ainda assim, a taxa de desemprego no país deve cair de 8,4% para 8,2%, com mais de 11 milhões de pessoas que estavam empregados antes da pandemia seguindo fora da força de trabalho.
O calendário no exterior traz ainda as encomendas às fábricas nos EUA em agosto (11h). Logo cedo, na zona do euro, sai a prévia de setembro do índice de preços ao consumidor (CPI).