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Trump Poderia Usar o Irã como Cartada Final se o Petróleo Ultrapassar os US$70?

Publicado 05.04.2019, 04:23
Atualizado 02.09.2020, 03:05
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Primeiro, a Arábia Saudita coloca em xeque sua participação de mercado. Agora, está ameaçando arriscar décadas de relação com os Estados Unidos para vender petróleo ao preço que deseja.

A questão é: o que Donald Trump vai fazer em retaliação?

Com a intensificação da briga pelos preços mundiais do petróleo, os EUA e seus aliados no reino do deserto, incluindo o aparentemente implacável príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, estão se arriscando de forma inédita em mais de 75 anos de história diplomática entre as duas nações.

Uma reportagem da Reuters na sexta-feira indicou que Riad aumentou as apostas em seu enfrentamento com Washington, ameaçando vender seu petróleo em outras moedas que não o dólar, se os americanos aprovarem uma lei expondo membros da Opep a processos antitruste nos EUA.

O movimento é uma resposta à Lei contra Cartéis Produtores e Exportadores de Petróleo (NOPEC, na sigla em inglês), que alguns parlamentares estão pedindo que Trump use contra a Opep, liderada pelos sauditas.

A Opep e mais 10 países produtores de petróleo – separadamente liderados pela Rússia – vêm cortando a produção desde o início do ano, recuperando a maior parte da queda de 40% que o WTI e o Brent sofreram no crash do mercado petrolífero em 2018. Os futuros de gasolina saltaram ainda mais, quase 50%, provocando uma disparada nos preços das bombas, o que, em pouco tempo, poderia afetar o bolso dos americanos durante a preparação de Trump para sua campanha à reeleição.

De acordo com a Reuters, que citou fontes familiares com a política energética da Arábia Saudita em sua reportagem, as chances de os sauditas deixarem de usar o dólar na comercialização do seu petróleo eram tão improváveis quanto o uso da NOPEC pelos EUA para regular a oferta mundial de petróleo e obter o preço por barril ideal para sua própria economia.

Jogo ousado dos sauditas

Mas os movimentos recentes mostram o dano que a Arábia Saudita está disposta a causar – minar a posição do dólar como moeda de reserva, eliminar a paridade do rial com a divisa norte-americana, reduzir a influência de Washington no comércio internacional, enfraquecer a capacidade de os EUA aplicarem sanções a outros estados e acabar com cerca de US$1 trilhão de investimentos sauditas nos Estados Unidos – se o governo Trump quiser entrar em uma briga.

Essas ações também mostram o quanto Riad precisa que o petróleo volte para cerca de US$ 80 por barril ou mais (o Brent, referencia mundial do petróleo, superou momentaneamente os U$ 70 na quinta-feira, antes de voltar a cair) para que o reino consiga financiar seu orçamento anual e continuar proporcionando, tanto aos membros da família real quanto aos seus súditos, um estilo de vida que poucas nações podem sonhar.

Os riscos para a Arábia Saudita no petróleo também são maiores do que nunca, desde o estabelecimento de relações diplomáticas com os EUA em 1933. Depois de anos planejando e recuando, o país está agora pronto para abrir o capital da sua petrolífera estatal Saudi Aramco, que gera US$ 356 bilhões por ano ao reino. Um mercado petrolífero forte é crucial para o IPO.

Como dito anteriormente, os agressivos cortes de produção dos sauditas pode custar a participação de mercado do seu petróleo Arab Light (SA:LIGT3) na Coreia do Sul, Índia e outros países asiáticos, à medida que o óleo de xisto corre para preencher o vácuo deixado. Os exportadores americanos de petróleo atingiram o recorde de 3,6 milhões de barris por dia em março, e a previsão é que sua produção cresça explosivamente até 2025, quando os Estados Unidos devem produzir mais do que a Arábia Saudita e a Rússia juntas, segundo projeções. Até agora, Riad tem dado uma boa imagem pública à concorrência.

Mas voltemos ao argumento central: como Trump reagirá se o rali do petróleo continuar?

Tuítes de Trump sobre o petróleo não estão funcionando tão bem

O petróleo acima de US$ 70, ou pior ainda acima de US$ 80, por barril provavelmente desencadeará uma série de reações por parte do presidente.

Apesar de os sauditas aparentemente terem vencido o segundo round das “Ameaças de Tuítes” – com hedge funds dando apenas alguns centavos de concessão no preço nominal do petróleo após Trump disparar seu último alerta amigável à Opep há algumas semanas – há evidências suficientes de que esse presidente pode tomar ações bizarras quando é colocado contra a parede.

Algumas previsões dão conta de que ele pode vender o petróleo da Reserva Petrolífera Estratégica dos EUA – ou pelo menos ameaçar fazê-lo – para derrubar novamente o mercado. Poucos, no entanto, acreditam que ele brincará com reservais emergenciais tão importantes.

A teoria mais popular é que ele concederá uma nova rodada de concessões generosas a compradores do petróleo iraniano quando suas permissões de exportação expirarem em maio. O governo Trump fala em “zerar" as exportações petrolíferas iranianas, mas ninguém acredita nisso.

Trump poderia usar o Irã como cartada final?

Trump pode ir além disso tudo. Pode recorrer à sua cartada final sugerindo que os EUA estão dispostos a se sentar com o Irã se o país do Oriente Médio quiser evitar uma crise econômica ainda maior com seu programa nuclear. A mera noção de um acordo nuclear 2.0 entre EUA e Irã, permitindo que Teerã exporte seu petróleo novamente, ainda que com certas restrições, poderia fazer com que o preço do petróleo caísse cerca de US$ 5 e US$ 10 por barril.

No entanto, há muitas razões pelas quais tal acordo pode não acontecer. Entre as principais razões está o próprio desgosto que o presidente Hassan Rouhani tem por Trump, em comparação com seu antecessor, Barack Obama, bem como protestos por parte de Israel. A relação com a Arábia Saudita e Israel tem sido essencial para a política norte-americana no Oriente Médio, a fim de equilibrar as ambições do Irã na região.

Mas, a julgar pelo comportamento de Trump, o presidente pode propor conversas com o Irã apenas para plantar a semente do medo nos hedge funds que parecem agora dispostos a fazer o petróleo voltar às máximas anteriores ao crash de outubro de 2018.

Ninguém esperava que Trump se sentasse com Kim Jong-un depois de um ano trocando farpas com ele, embora a cúpula com o líder norte-coreano não tenha permitido que Washington avançasse nenhum passo em seu objetivo de desarmar nuclearmente Pyongyang. Até agora Trump tem feito o jogo chinês nas tratativas com a Coreia do Norte.

Uma oferta para negociar com os iranianos poderia prejudicar Trump, principalmente se Teerã gostar da ideia. Afinal, Obama fez a mesma coisa.

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