Biden se aproxima dos 270 colégios eleitorais necessários para vencer e Trump insiste na judicialização do processo eleitoral, o que não assusta o mercado financeiro
A vitória de Joe Biden em estados decisivos, como Michigan, aproxima o candidato da Casa Branca, com 264 delegados. Os seis colégios eleitorais restantes para alcançar o número mágico de 270 podem ser atingidos hoje com a apuração em Nevada, onde o democrata já aparece na frente. Prestes a perder a disputa, o presidente Donald Trump pediu a recontagem de votos em Wisconsin e tenta suspender a apuração em outros três.
Se fosse um jogo de futebol, o republicano estaria pedindo o famoso árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês), que ficou consagrado no esporte desde a Copa do Mundo da Rússia. A campanha de Trump entrou com ação na Justiça para tentar rever os votos em lugares onde o candidato à reeleição ficou atrás e interromper a contagem em dois estados em que já aparece na frente e outro em que foi superado, o que pode atrasar o resultado definitivo.
De alguma maneira, Trump acredita que vai conseguir aqueles 500 votos a mais que garantiram a vitória de Bush filho na Flórida, no ano 2000. Mas a tentativa de judicialização do processo eleitoral nos Estados Unidos não assusta o mercado financeiro, pois o movimento do presidente já era esperado. Para responder às manobras do republicano, Biden discursou ontem à noite como um estadista, falando em defesa da democracia.
Diante disso, os investidores surfam na onda do risco, acreditando que com a Casa Branca sob nova direção a partir de 2021 novos estímulos serão lançados à economia norte-americana, após os democratas igualarem o total de assentos dos republicanos no Senado, com 48 cada. Na Câmara, o partido do futuro presidente manteve a maioria, com mais de 200 assentos.
Exterior ávido por estímulos
A expectativa é de que a possibilidade de novos estímulos já seja ventilada hoje, ao final da reunião do Federal Reserve, que é o grande destaque da agenda do dia. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm o tom positivo visto na véspera, exibindo ganhos acelerados nesta manhã, de mais de 1%. O desempenho em Wall Street impulsiona a abertura do pregão europeu, após uma sessão de fortes altas na Ásia.
Nos demais mercados, o dólar segue em queda livre em relação às moedas rivais, em meio às chances de um novo pacote fiscal trilionário nos EUA, o que recua o rendimento do juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) para perto de 0,7%. Ainda assim, o preço do barril do petróleo tipo WTI segue abaixo de US$ 40, diante dos riscos de um “duplo mergulho” da atividade por causa da segunda onda de coronavírus na Europa.
Aliás, a acirrada disputa presidencial nos EUA tirou o radar da pandemia, mas sabe-se que assim que o pleito for definido os impactos econômicos da disseminação da covid-19 devem voltar ao foco. O novo fechamento (lockdown) na Europa para conter o avanço do vírus deve reduzir o ritmo da atividade global na virada para 2021 e, enquanto novos ciclos de infecção não forem controlados, apoios fiscal e monetário serão cada vez mais necessários.
Dia de Fed
A quinta-feira traz, excepcionalmente, o anúncio da decisão de juros do Fed (16h), seguida de entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell (16h30). A expectativa é de que a autoridade monetária possa lançar pistas sobre estímulos adicionais a serem lançados já em dezembro, após fracassar as negociações entre republicanos e democratas sobre um novo pacote fiscal antes das eleições. A ver, agora, com o pleito perto de ser definido, o que Jay tem a dizer.
Antes do anúncio do Fed, às 9h, sai a decisão de juros do Banco Central da Inglaterra (BoE), que também aguarda o fim do impasse em relação ao Brexit. Entre os indicadores econômicos, a agenda está esvaziada no Brasil. Lá fora, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA e dados preliminares sobre o custo da mão de obra e da produtividade no terceiro trimestre de 2020, ambos às 10h30.