Em março, os preços domésticos de trigo oscilaram. De um lado, a baixa necessidade de compra por parte de moinhos favoreceu a redução pontual das cotações em algumas regiões acompanhadas pelo Cepea. De outro, os preços foram sustentados, visto que triticultores se mostraram atentos ao clima e às oscilações no câmbio e no preço, ainda incertos quanto ao mercado no segundo semestre.
No mercado balcão (valor pago ao produtor), no acumulado do mês, os preços subiram 1,2% no Rio Grande do Sul, mas registraram queda de 3,4% no Paraná e de 0,6% em Santa Catarina. No mercado de lotes (negociação entre empresas), os valores avançaram 2,3% em Santa Catarina e 1% em São Paulo. Por outro lado, recuaram 1,1% no Rio Grande do Sul e 0,5% no Paraná.
Historicamente, o semeio de trigo tem início em abril em algumas regiões do Brasil. Apesar disso, produtores ainda estão incertos quanto à área a ser destinada ao cereal. Contudo, no Paraná, já foram divulgadas estimativas iniciais quanto à área de semeio, produtividade e produção para a temporada 2019/20. Segundo o Deral/Seab, a área a ser cultivada na próxima safra deve se reduzir em 6% frente à temporada anterior, somando 1,03 milhão de hectare. No entanto, os dados de produção e produtividade para o Paraná indicam elevações de 18% e 24%, respectivamente, o que pode resultar em oferta de 3,32 milhões de toneladas (praticamente a metade da produção total no Brasil), com rendimento a 3,2 toneladas/hectare.
Fatores como o aumento na remuneração mínima aos produtores, por meio da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), e os atuais valores de comercialização, ainda em patamares firmes, podem resultar em ganhos no cultivo do grão no Brasil. Porém, a possibilidade de isenção da TEC para importações do cereal de fora do Mercosul deixou triticultores receosos, desestimulando a intenção de semeio, visto à incerteza de liquidez.
DERIVADOS – No mercado de derivados, parte dos agentes continuou insatisfeita com as vendas de farinha de trigo, já que compradores negociaram apenas poucos volumes necessários. Desta forma, com consumidores retraídos, não houve espaço para reajustes expressivos de preços.
Em março, as cotações da farinha para pré-mistura, massas em geral e massa frescas caíram 1,71%, 1,45% e 0,01%, respectivamente. Já a farinha integral, para bolacha salgada, panificação e bolacha doce se desvalorizaram 1,32%, 1%, 0,17% e 0,13%, na mesma ordem.
Já para os farelos, a queda nos preços tem relação com a melhor condição das pastagens e menor demanda por parte de indústrias de ração animal, devido às recentes desvalorizações do milho. Desta forma, no mesmo comparativo, os preços dos farelos encerram o mês com queda acentuada: o ensacado recuou 3,89% e o a granel, 2,63%.
INTERNACIONAL – No mercado externo, os preços do cereal, seja para entrega futura ou imediata, caíram. Na Argentina, por exemplo, a queda nas cotações refletiu a dificuldade de exportação, visto que a demanda internacional esteve desaquecida. Já nos Estados Unidos, os valores pressionados pelos maiores estoques do cereal – o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontou maior estoque de trigo em grão naquele país, a 43,3 milhões de toneladas, volume 6,3% acima do alcançado no mesmo período de 2018.
Assim, ao comparar as médias mensais entre março e fevereiro deste ano, os preços FOB no porto de Buenos Aires caíram 4,7%, fechando com média de US$ 232,56/tonelada em março – a menor cotação média do primeiro trimestre de 2019.
Quanto aos preços futuros estadunidenses, entre os dias 28 de fevereiro e 29 de março, o contrato Maio/19 do Soft Red Winter negociado na Bolsa de Chicago (CME Group) recuou ligeiro 0,4%, a US$ 4,5657/bushel (US$ 167,67/t) na média de março. Na Bolsa de Kansas, para o contrato de mesmo vencimento, o trigo Hard Winter se desvalorizou 3,3%, a US$ 4,3948/bushel (US$ 161,48/t), no mesmo comparativo.
IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO – Em março, segundo dados da Secex, as importações de trigo em grão somaram 659,53 mil toneladas, volume 8,9% acima do de fevereiro/19. Desse total, 91,5% vieram da Argentina, 4,3%, do Paraguai e 4,2%, dos Estados Unidos. Já as exportações, praticamente dobraram entre um mês e outro, somando 127,27 mil toneladas em março.
Para as farinhas, as aquisições no mercado internacional aumentaram 14% frente a fevereiro/19, indo para 28,8 mil toneladas. As vendas brasileiras no mercado externo, por sua vez, ficaram 44,3% inferiores, no mesmo comparativo, a 477 toneladas.