Os preços do trigo estiveram relativamente firmes no correr de 2017, mas ficaram abaixo dos patamares verificados em anos anteriores, conforme indicam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. O fato é que, entre o segundo semestre de 2016 e a primeira metade de 2017, o cenário era de produção brasileira recorde e de importações abundantes, o que gerou o maior volume de estoques de passagem em oito anos. Nesse contexto, o ganho ficou para os consumidores, especialmente.
Em 2016, a produção interna foi de 6,7 milhões de toneladas, um recorde. Além disso, se aproveitando da maior oferta externa e de preços atrativos, as importações entre agosto/16 e julho/17 foram de 7,09 milhões de toneladas. Ao adicionar os estoques disponíveis em julho/16, a disponibilidade interna chegou a 14,6 milhões de toneladas, um recorde. Entre agosto/16 e julho/17, o consumo interno foi estimado em 11,5 milhões de toneladas e as exportações, em 577 mil toneladas. Com isso, no final de julho/17, os estoques foram projetados em 2,53 milhões de toneladas, o maior volume desde a safra 2009/10.
Segundo pesquisadores do Cepea, no primeiro trimestre, especificamente, os valores do trigo caíram, pressionados pela maior disponibilidade do cereal e pela desvalorização do dólar. Já nos meses seguintes, os preços foram sustentados pelo baixo interesse de venda de produtores, que passaram a priorizar a colheita e a comercialização de soja e/ou milho. Mesmo assim, no balanço do primeiro semestre de 2017, as cotações subiram em praticamente todas as regiões acompanhadas pelo Cepea.
O movimento de alta nos preços na primeira metade do ano, no entanto, não foi suficiente para atrair produtores para a cultura. Com isso, houve redução da área com o cereal, o que, somado à menor produtividade em 2017 (devido ao clima desfavorável do plantio à colheita), reduziu em quase 1/3 a produção nacional de 2017 frente à do ano anterior, voltando ao volume obtido em 2007. Mesmo assim, a disponibilidade interna superou as 14 milhões de toneladas.
No começo do segundo semestre, de acordo com pesquisas do Cepea, as cotações seguiram em alta, sustentadas pelo maior interesse comprador e por preocupações com a safra até então em andamento. Naquele período, vendedores também estiveram retraídos, diante das incertezas climáticas no Brasil e nos principais países fornecedores. No final de agosto, contudo, os preços caíram com força, movimento que seguiu até outubro. Nesse caso, a pressão veio do recuo comprador, que aguardava cotação menor, enquanto vendedores estavam mais ativos, no intuito de negociar o excedente da safra 2016/17. Além disso, nesses meses, o trigo ainda vinha sendo importado em um cenário de maior oferta de cereal recém-colhido.
Nos últimos dois meses de 2017, os preços voltaram a subir. No Sul do País, as elevações foram atribuídas aos estoques menores do produto de boa qualidade. No Sudeste, além do maior custo com a compra do trigo de outras regiões e da demanda mais aquecida, o valor do transporte aumentou, especialmente para o trecho Paraná/São Paulo.
No agregado de 2017 (de 29 de dezembro de 2016 a 28 de dezembro de 2017), os preços no mercado de balcão (valor pago ao produtor) subiram 6% no Paraná, 3,7% no Rio Grande do Sul e 0,7% em Santa Catarina. No mercado de lotes (negociações entre empresas), os aumentos foram de 10,5% no Rio Grande do Sul, 7,6% no Paraná, 5,5% em Santa Catarina e 2,8% em São Paulo – os dados são do Cepea.
INTERNACIONAL – O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta que a produção de trigo na temporada 2017/18 deve ser de 755,21 milhões de toneladas, aumento de 0,21% frente à safra anterior. Estes reajustes vieram dos novos dados, especialmente da União Europeia e China, que devem ter sua produção acrescida em 5% e 0,9%, a 152,5 milhões de t e 130 milhões de t, respectivamente. Segundo o USDA, a produção da Argentina, principal fornecedor de trigo ao Brasil, deve cair 4,9%, a 17,5 milhões de t. Reflexo da menor disponibilidade do produto, as vendas deste país devem recuar 14%, a 11,7 milhões de t.