A forte queda nas temperaturas em agosto no Sul do Brasil, além das geadas e chuvas volumosas, deve diminuir a produtividade das lavouras de trigo. Ainda há incertezas quanto às perdas totais, mas estima-se menor produtividade nos três estados da região Sul. Na Argentina, por sua vez, é a estiagem que preocupa triticultores e compromete a produtividade das lavouras. De acordo com relatório divulgado pela Conab em agosto, a área com trigo em 2020 cresceu 14,1%, indo para 2,33 milhões de hectares, devido ao maior cultivo no Sul do País (os aumentos foram de 25,1% no Rio Grande do Sul e de 10,4% no Paraná). A produtividade nacional esperada é de 2,9 t/ha, 16,1% superior à média de 2019, sustentada pela estimativa de aumento de expressivos 41,8% no Paraná. Assim, a previsão atual é que a oferta chegue a 6,8 milhões de toneladas, 32,5% acima da de 2019.
Com isso, a Conab reduziu a estimativa de importações entre agosto/20 e julho/21, para 6,7 milhões de toneladas, em linha com os 12 meses anteriores. A disponibilidade interna (estoque inicial + produção + importações) deve chegar a 13,76 milhões de toneladas, 5,6% superior à da temporada passada. O consumo interno está previsto em 12,5 milhões de toneladas, volume observado também nos dois anos anteriores, gerando um excedente de 1,26 milhão de toneladas, contra 570 mil t na temporada anterior, o que deve recuperar parcialmente os estoques de passagem. No Paraná, especificamente, conforme o Boletim Informativo do Deral, a microrregião sudoeste do estado deve registrar as maiores perdas, devido às geadas em agosto. No norte, que não foi atingido pelo frio excessivo, a produtividade deve recuar por falta de chuvas no mês, pelo acamamento e pela ocorrência pontual de doenças e granizo. Já nas microrregiões sul e centro-sul, a frente fria ajudou na recomposição da umidade do solo, beneficiando as lavouras. De modo geral, no estado, o Deral estima redução de cerca de 5% do potencial produtivo, que é de 3,7 milhões de toneladas.
Enquanto isso, na Argentina, os dados da Bolsa de Cereais revelam que o semeio de trigo foi finalizado em agosto. Todavia, a escassez hídrica, a incidência de geadas e o enchimento de grãos no centro e norte da área agrícola comprometeram o desempenho da cultura. As estimativas de perdas variam entre 20% e 50% nos setores de NOA, NEA e Córdoba. Com produtores atentos às ofertas da nova safra e a contabilização de possíveis danos da frente fria, as negociações de trigo no mercado interno estiveram pontuais em agosto. Dados da Seab/Deral indicam que a comercialização antecipada do cereal está em 15,7% do volume previsto. Em relação aos preços internos, no acumulado do mês (de 31 de julho a 31 de agosto), no mercado de lotes, as quedas foram de 2,4% em São Paulo e de 0,3% no Rio Grande do Sul. Já no Paraná, as cotações subiram 1,2%. No mesmo período, o preço do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) avançou 6,9% no estado catarinense, 3,1% no sul-rio-grandense e 2,3% no paranaense. Quando comparadas as médias mensais de julho e agosto, caíram 5% em São Paulo e de 0,4% no Paraná. Já no Rio Grande do Sul, a média de agosto foi 0,4% superior à de julho e, em Santa Catarina, o avanço foi de 0,04%.
IMPORTAÇÕES – De acordo com dados da Secex, nos primeiros 21 dias úteis de agosto, foram importadas 595,3 mil toneladas de trigo, contra 486,7 mil toneladas em agosto/19. Em relação ao preço de importação, a média de agosto/20 esteve em US$ 224,50/t FOB origem, 2,3% abaixo da registrada no mesmo mês de 2019 (de US$ 229,70/t).
DERIVADOS – De julho para agosto, os negócios de farinhas estiveram pontuais, e os agentes consultados pelo Cepea aguardam a entrada da safra para renovar os estoques. Todavia, houve pressão do mercado consumidor, visto que os preços estão em alta, de modo geral, desde o início da pandemia – as cotações de algumas farinhas já chegaram a sinalizar queda. Para os farelos, a procura e os preços permanecem elevados. Em agosto, as cotações das farinhas destinadas às massas frescas, integral, massas em geral e pré-mistura se valorizaram 1,8%, 0,4%, 0,3% e 0,1%, respectivamente. Por outro lado, as farinhas para bolacha doce, bolacha salgada e panificação se desvalorizaram 1,3%, 0,4% e 0,5%, respectivamente. Para os farelos, houve valorização de 3,9% para o ensacado e de 3,5% para o a granel.
PREÇOS INTERNACIONAIS – Considerando-se as médias de julho e agosto, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter, negociado na CME Group (Bolsa de Chicago), se valorizou 2,4%, a US$ 5,4425/bushel (US$ 199,98/t). Já na Bolsa de Kansas, o primeiro vencimento do trigo Hard Red Winter avançou 6,3%, a US$ 4,7050/bushel (US$ 172,88/t). Conforme o relatório do USDA, a projeção para a produção mundial em 2020/21 recuou 0,4% em relação ao relatório de julho, a 766,028 milhões de toneladas, mas ainda está 0,3% maior que a da safra 2019/20 (764,114 milhões de toneladas). Esta queda mensal se deve à menor produtividade na União Europeia. Quanto ao consumo mundial, a redução foi de 0,2% no mesmo comparativo mensal, a 750,142 milhões de toneladas. Em relação aos estoques mundiais, devem avançar 0,6% frente ao relatório de julho, somando 316,793 milhões de toneladas, e a relação estoque/consumo deve ser de 42,2%.