Apesar das fortes desvalorizações externas em junho e de estimativas apontarem safra recorde no Brasil neste ano, os preços internos do trigo seguiram firmes e operando em patamares recordes reais em alguns estados. A sustentação veio da baixa disponibilidade de trigo no País e da valorização da moeda norte-americana. Colaboradores do Cepea informaram, inclusive, que foi necessário importar o cereal de países vizinhos, Argentina e Paraguai, para suprir a demanda interna no curto prazo. O preço médio do trigo no mercado disponível no Paraná foi de R$2.180,70/t, alta de 7,2% frente ao de maio/22 e 38,9% maior em relação a junho/21. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 2.147,24/tonelada, elevações de 7,2% no mês e de 42,2% em um ano. Em São Paulo, a média mensal foi de R$ 2.095,44/t, avanços de 4,4% em junho e de 31,8% em um ano. Já em Santa Catarina, a média foi de R$ 2.094,40/t, elevação de 5,8% frente à de maio/22 e 32,8% superior na comparação com junho/21. Em termos reais, os preços médios mensais de junho foram recordes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, considerando-se a série histórica do Cepea, iniciada em 2004. No Paraná e em São Paulo, as médias de junho são as maiores desde 2013.
INTERNACIONAL – Os preços externos do trigo caíram de forma expressiva em junho, influenciados pelo avanço da colheita do cereal nos Estados Unidos, pela desvalorização do milho (substituto na alimentação animal) e por expectativas de safra volumosa na Rússia. Além disso, a possibilidade de exportação recorde por parte da Rússia reforça o movimento de queda nos preços externos, à medida que reduz preocupações com a oferta mundial do cereal. Dados divulgados pela consultoria russa SovEcon elevaram a produção de trigo russa para 89,2 milhões de toneladas, um recorde. A alta de 600 mil toneladas na safra 2022/23 foi justificada pela maior área destinada ao cereal no país e pelo clima favorável. A consultoria também elevou em 300 mil toneladas a estimativa de exportação do país na temporada 2022/23, atingindo o recorde de 42,6 milhões de toneladas. Ressalta-se, contudo, que há preocupações com a falta de navios na região, devido às atividades militares. Nos Estados Unidos, considerando-se as médias de maio e junho, o primeiro vencimento do Soft Red Winter da Bolsa de Chicago (CME Group) se desvalorizou 11,4%, a US$ 10,1081/bushel (US$ 371,41/t). Na Bolsa de Kansas, o contrato de mesmo vencimento do trigo Hard Winter cedeu 10,7%, a US$ 10,8774/bushel (US$ 399,68/t). No final do mês, os valores diários do primeiro vencimento eram os menores desde o final de fevereiro deste ano, evidenciando que os preços voltaram aos patamares anteriores aos registrados no início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
BALANÇA COMERCIAL – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 21 dias úteis de junho, foram exportadas 47,02 mil toneladas de trigo. Já as importações somaram 627,11 mil toneladas, contra 541,58 mil toneladas em junho/21. Em relação ao preço de importação, a média de junho/22 esteve em US$ 388,9/t FOB origem, 44,6% acima da registrada no mesmo mês de 2021 (de US$ 269,0/t).
ESTIMATIVAS NACIONAIS – Segundo dados divulgados em junho pela Conab, a estimativa da produção nacional na safra 2022/23 aumentou em comparação ao relatório anterior e deve somar 8,35 milhões de toneladas, 8,8% acima da temporada passada. Isso está atrelado à elevação de 5,4% da área destinada ao cereal, que deverá atingir 2,88 milhões de hectares, e à produtividade, de 2,89 toneladas/hectare, alta de 3,2%, ambos em relação a 2021. A Conab manteve a estimativa de importação de 6,5 milhões de toneladas, mas aumentou em 500 mil toneladas o volume exportado na temporada 2022/23, que pode ser de 1,5 milhão de toneladas. A disponibilidade interna está prevista em 15,04 milhões de toneladas, recuo de 2,9% em comparação a 2021.
ESTIMATIVAS EXTERNAS – De acordo com dados da Ikon, a semeadura deste ano foi praticamente finalizada na Austrália e atingiu 14,45 milhões de hectares, um recorde. A previsão é colher entre 30 e 35 milhões de toneladas no final de 2022, um pouco menor que as 36 milhões de toneladas registradas na temporada 2021/22. A Bolsa de Cereales reduziu, novamente, a projeção da área semeada com trigo na Argentina, devido ao déficit hídrico em algumas regiões. Assim, a safra 2022/23 deve somar 6,3 milhões de hectares. Em termos globais, dados do USDA indicam reduções da produção, do consumo e dos estoques da safra 2022/23 em comparação ao relatório de maio e também à temporada anterior. A produção mundial 2022/23 deve ser de 773,4 milhões de toneladas, 0,7% inferior à temporada anterior. O USDA estima consumo mundial de 785,9 milhões de toneladas em 2022/23, 0,7% inferior ao de 2021/22. Em relação aos estoques finais, podem somar 266,8 milhões de toneladas, queda de 4,5% no mesmo comparativo, com reduções expressivas da oferta da Índia (baixa de 4,9 mil toneladas) e da União Europeia (recuo de 3,4 mil toneladas).