Os preços do trigo em grão encerraram fevereiro, período de entressafra, em alta. Segundo colaboradores do Cepea, o foco dos produtores esteve na colheita da safra de verão, especialmente de soja, e na definição do cultivo da segunda safra, em que se enquadra o trigo. Assim, a oferta esteve baixa. Do lado comprador, moinhos permaneceram ausentes do mercado no final de fevereiro, visto que afirmavam ter estoques elevados de produtos acabados. Nesse cenário, apesar das altas dos valores, as negociações seguiram lentas. No acumulado do mês (de 29 de janeiro a 26 de fevereiro), os preços no mercado de balcão (valor pago ao produtor) avançaram 3,6% em Santa Catarina, 3,1% no Rio Grande do Sul e 1,6% no Paraná. No mesmo período, no mercado de lotes, as altas foram de 3% em SC, 1,7% no PR, 1,6% no RS e de leve 0,1% em São Paulo. Quanto às médias mensais, no Paraná, o valor foi de R$ 1.490,64/tonelada em fevereiro, aumentos de 5,8% em relação ao mês anterior e 53,2% frente a fevereiro/20. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 1.445,57/t, com altas de 7,1% em comparação a janeiro/21 e de 71% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em Santa Catarina, a média mensal foi de R$ 1.504,16/t, elevações de 5,3% frente a janeiro/21 e de 63,7% em comparação com fevereiro/20.
Dados da Seab/Deral divulgados em 25 de fevereiro indicaram que a produção de trigo vendida e/ou consumida nas propriedades do Paraná havia atingido 92,4% do volume previsto, contra 86,3% em janeiro/21 e 82,4% em dezembro/20, demonstrando que havia baixo volume disponível nas mãos do produtor. Assim, as importações serão ainda mais relevantes no primeiro semestre de 2021. O relatório da Conab divulgado em fevereiro indicou que a área nacional de trigo deve crescer 2,1% neste ano. A produtividade deve aumentar 1,1% frente à temporada anterior, resultando em produção 3,3% maior. A Conab prevê importações de 6,8 milhões de toneladas de trigo entre agosto/20 e julho/21, o que deve gerar disponibilidade interna de 13,46 milhões de toneladas, acima das 13 milhões de toneladas da temporada passada. Este volume deve atender a uma demanda doméstica de 11,8 milhões de toneladas. As exportações continuaram estimadas pela Conab em 700 mil toneladas. Com isso, os estoques em julho/22 devem ser de 965,8 mil toneladas, contra 227,4 mil toneladas previstas para julho/21.
IMPORTAÇÕES – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 18 dias úteis de fevereiro, foram importadas 449,6 mil toneladas de trigo, contra 526 mil toneladas em fevereiro/20. Em relação ao preço de importação, a média de fevereiro/21 esteve em US$ 248,84/t FOB origem, 22,6% acima da registrada no mesmo mês de 2020 (de US$ 202,96/t).
DERIVADOS – As negociações das farinhas permanecem em ritmo lento, devido à menor demanda – indústrias indicaram ter estoques elevados de produtos finais. De acordo com colaboradores do Cepea, devido ao avanço da pandemia, as restrições nos locais de produção aumentaram no Sul. Nesse cenário, a moagem seguiu lenta. As farinhas apresentaram comportamentos opostos, com valorizações de 2,01% para bolacha doce e 1,3% para panificação. Já as farinhas destinadas à bolacha salgada, massas em geral, pré-mistura, massas frescas e integral se desvalorizaram 2,2%, 1,48% 1,1%, 0,61% e 0,60%, respectivamente. Para os farelos, as elevações nos preços foram de 2,3% para o a granel e de 3,7% para o ensacado.
PREÇOS INTERNACIONAIS – Considerando-se as médias de janeiro e fevereiro, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter, negociado na CME Group (Bolsa de Chicago), se desvalorizou 1,2%, a US$ 6,5186/bushel (US$ 239,52/t). Na Bolsa de Kansas, o primeiro vencimento do trigo Hard Red Winter recuou 2,1%, a US$ 6,2997/bushel (US$ 231,48/t). Dados divulgados em fevereiro pelo USDA indicam que a produção mundial em 2020/21 deve aumentar ligeiro 0,1% em relação ao relatório anterior, a 773,435 milhões de toneladas, e deve ser 1,2% maior que a safra 2019/20. A elevação ocorreu principalmente devido à maior safra no Cazaquistão, apesar da redução nas estimativas da Argentina, do Paquistão e da África do Sul. Quanto ao consumo mundial, houve aumento de 1,3% entre as estimativas de janeiro e fevereiro, atingindo 769,320 milhões de toneladas, e relevante alta de 3% frente à safra anterior (dados do USDA). Esse reajuste se deve ao maior consumo por parte da China, para alimentação animal, e da Índia, para consumo humano, sementes e industrial. Na análise dos estoques mundiais, houve redução de 2,9% frente ao relatório de janeiro, somando 304,217 milhões de toneladas, mas continuam 1,4% acima dos disponíveis na safra 2019/20 (300,102 milhões de toneladas). Assim, a relação estoque/consumo permaneceu em queda, indo de 41,2% para 39,5%.