Os preços de trigo alcançaram os maiores patamares do ano em abril, em termos nominais. Este movimento altista seguiu sustentado pela baixa oferta de trigo de boa qualidade, apesar da demanda enfraquecida. Outro fator que vem contribuindo para as valorizações do produto nacional é a alta das cotações externas do cereal– como o Brasil é importador líquido, os preços internos tendem a seguir a paridade de importação.
No acumulado do mês, as cotações no mercado de balcão aumentaram 17,7% no Rio Grande do Sul, 12,9% no Paraná e 12,3% em Santa Catarina. No mercado de lotes (negociações entre empresas), as altas foram de 25,8% no Rio Grande do Sul, 21,2% no Paraná, 17,7% em Santa Catarina, 14,2% em São Paulo e 12,7% em Minas Gerais.
No campo, o semeio de trigo já se iniciou em algumas regiões do Paraná, ainda que de forma tímida. No entanto, o clima seco no estado tem deixado produtores cautelosos quanto ao atraso no avanço das atividades. Nas regiões norte e oeste do Paraná, onde tradicionalmente os trabalhos também começam em abril, o receio é ainda maior, visto que a previsão é de clima seco nas próximas semanas. No Rio Grande do Sul, a implantação do trigo deve começar em maio, mas agentes consultados pelo Cepea ainda estão indecisos quanto à área destinada ao cereal. De um lado, produtores que conseguem remunerações mais atrativas podem elevar o cultivo, mas, de outro, a baixa liquidez deste mercado frente ao de outros grãos tende a reduzir o semeio. A Emater/RS, por sua vez, aponta que a procura por sementes esteve aquecida em abril e que, assim, pode haver manutenção ou até mesmo ampliação da área de semeio.
Quanto à Argentina, as chuvas ocorridas no final de abril permitiram a recuperação da umidade do solo, o que pode estimular o semeio de trigo até mesmo antes do período ideal no país, onde, historicamente, as atividades têm início em maio e término em agosto. Além disso, os preços atrativos do cereal podem contribuir para este movimento, visto que produtores esperam boa rentabilidade com a comercialização de trigo.
DERIVADOS – Entre março e abril, as cotações das farinhas para pré- mistura, massas em geral, integral, bolacha salgada, panificação, massas frescas e bolacha doce registraram alta de 6,06%, 5,84%, 5,65%, 4,9%, 4,64%, 4,47% e 4,36%, respectivamente. Estas valorizações foram influenciadas pela necessidade de repasse de custos, desde a aquisição da matéria-prima até gastos com energia elétrica.
Para o farelo, as valorizações foram ainda mais intensas. De março para abril, o preço do derivado ensacado subiu 13,4% e o do a granel, 10,64%.
INTERNACIONAL – Na Argentina, principal país fornecedor de trigo ao Brasil, os preços alcançaram os maiores patamares desde abril/15, impulsionados pela firme demanda pelo cereal daquele país. Assim, entre 30 de março e 30 de abril, os preços no porto de Buenos Aires avançaram 8,3%, a US$ 234,00/t em 30 de abril.
Nos Estados Unidos, por outro lado, as cotações foram sustentadas por adversidades climáticas, tanto para a germinação do cereal de inverno, quanto para o avanço do semeio de primavera. Em abril, o contrato Maio/18 do trigo Soft Red Winter na CME Group registou alta de 13,6%, a US$ 5,1250/bushel (US$ 188,31/t) no último dia do mês passado. Para o trigo Hard Winter, o contrato de mesmo vencimento na Bolsa de Kansas se valorizou 11%, a US$ 5,1850/bushel (US$ 190,51/t).
SECEX – Em março, segundo dados da Secex, as importações brasileiras de trigo em grão somaram 665,68 mil toneladas, volume 43,4% superior se comparado ao do mês anterior. Do volume importado, 98,6% vieram da Argentina e 1,4% teve o Paraguai como origem. As exportações brasileiras, por sua vez, ficaram limitadas em apenas 27 toneladas, redução de 99% em relação a março. Para o segmento de farinhas, as importações recuaram 13,7% entre um mês e outro e as exportações, fortes 62,8% no mesmo comparativo.