O ano de 2021 se iniciou em meio a expectativas de crescimento na área com trigo. Naquele período, produtores estavam atentos à menor oferta de trigo argentino, aos preços recordes em 2020 e ao atraso na janela ideal para a semeadura de milho segunda safra no Paraná, São Paulo e em Mato Grosso do Sul, em decorrência do baixo volume de chuva.
Como resultado da maior área, a safra nacional foi recorde em 2021, mesmo diante de adversidades climáticas no campo durante o desenvolvimento do cereal, como geadas e seca. E, mesmo com a maior oferta no País, os preços também atingiram recordes nominais, influenciados pela forte valorização do dólar, por expectativas de menor oferta internacional, pela demanda firme e, especialmente, pela elevada paridade de importação.
Segundo a Conab, a produção de 2021 foi estimada em 7,81 milhões de toneladas, expressiva elevação de 25,3% em relação à safra de 2020, que, vale lembrar, foi fortemente prejudicada pelo clima. A área nacional cresceu 16,3% sobre a da temporada 2020, atingindo 2,72 milhões de hectares. A produtividade foi estimada em 2,868 toneladas por hectare, 7,7% superior à de 2020 (2,663 t/ha).
Quanto aos preços, dados do Cepea mostram que, de 2020 para 2021, os valores médios do trigo no mercado de lotes (negociação entre empresas) subiram 35,7% em São Paulo, 33,1% no Rio Grande do Sul, 32,9% no Paraná e 31,5% em Santa Catarina. O valor pago ao produtor também subiu praticamente na mesma intensidade.
Nos primeiros cinco meses de 2021, especificamente, as negociações estiveram praticamente travadas no mercado interno e os preços, em forte movimento de alta. Vendedores, com baixos estoques, restringiam o volume ofertado, ao passo que compradores sinalizavam estar abastecidos via importação e apontando baixa demanda dos derivados.
Entre junho e meados de julho, os valores internos recuaram, influenciados por estimativas reforçando o aumento na maior área cultivada e por quedas externas. Já no final de julho, geadas e baixas temperaturas resultaram em perdas em parte das lavouras de trigo do Paraná, de Santa Catarina e de São Paulo, contexto que fez com que os preços reagissem e voltassem a subir. Em agosto, foram a falta de chuvas e as altas temperaturas que preocuparam agentes do setor e mantiveram firmes as cotações internas do trigo.
A colheita da nova safra de trigo no Brasil foi iniciada em setembro, e as expectativas eram de produtividades recordes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No Paraná, o rendimento, embora não atingisse recorde, também deveria crescer frente ao de 2020. À medida que a colheita de trigo avançou em setembro – sobretudo no Paraná – e a disponibilidade do cereal aumentou, a liquidez se aqueceu no mercado interno.
Em outubro, as atenções de agentes do setor tritícola seguiam voltadas à colheita do cereal, e produtores passaram a armazenar o cereal de melhor qualidade, no intuito de negociar tais lotes no primeiro semestre de 2022, quando, sazonalmente, os preços ficam acima da média anual. Nos dois últimos meses do ano, as cotações seguiram firmes, sustentadas pelos altos valores externos, pela menor oferta mundial e pela paridade de importação.
DERIVADOS – Os maiores custos da matéria-prima e o encarecimento da energia e do transporte fizeram com que agentes necessitassem repassar os ajustes nos valores aos derivados. Para os farelos, o movimento de alta acabou sendo reforçado pela maior demanda, diante da valorização de produtos concorrentes na ração animal, como o milho.
INTERNACIONAL – Na Argentina, segundo informações da Bolsa de Cereales, a produção deverá atingir 21 milhões de toneladas na safra 2021/22, um recorde para o país. Os preços FOB no porto de Buenos Aires subiram 16% no ano. Mundialmente, a produção somou 775,90 milhões de toneladas de trigo na safra 2020/21, 1,8% acima da de 2019/20. O consumo foi de 782,25 milhões de toneladas, com estoque final de 289,64 milhões de toneladas. A relação estoque/consumo foi de 39,6%, para 37% na safra 2020/21, segundo dados do USDA divulgados em dezembro/21.