As negociações de trigo no Brasil seguiram em ritmo lento em fevereiro. Além do carnaval, muitos agentes de moinhos estavam afastados do mercado, sinalizando estar abastecidos. Outros demandantes estavam atentos à possível necessidade de produtores e de cooperativas de liberar espaço de armazenagem para a chegada mais intensa da safra verão. Isso, por sua vez, pode pressionar os valores. No geral, agentes de indústrias nacionais buscaram se estocar, diante de preocupações com a safra argentina – o país vizinho teve perdas expressivas na temporada de 2022 e, com isso, os excedentes exportáveis recuaram. A colheita brasileira em 2022, por sua vez, foi recorde, o que contribuiu para que a disponibilidade interna ficasse superior a 17 milhões de toneladas, caso as importações ainda fiquem próximas de seis milhões de toneladas. No Brasil, em relatório divulgado em fevereiro, a Conab indicou que a colheita da safra de 2022 (portanto, já encerrada) somou 10,55 milhões de toneladas, expressiva alta de 37,4% frente à temporada de 2021 e um recorde. A produtividade esteve 22% maior que a da safra anterior, indo para 3,4 toneladas/hectare.
A expectativa do volume importado foi novamente reduzida, passando de 6 milhões de toneladas para 5,8 milhões de toneladas de agosto/22 a julho/23, 4,6% menor que na temporada passada. Com a maior produção nacional, a disponibilidade interna foi elevada para 17,07 milhões de toneladas, e o consumo doméstico, para 12,39 milhões de toneladas. Em termos globais, o USDA elevou a produção mundial, o consumo e os estoques finais da safra 2022/23 entre os relatórios de janeiro e fevereiro. A produção mundial está projetada em 783,79 milhões de toneladas, 0,3% maior que os dados de janeiro/23 e 0,6% acima da temporada passada. No mês, a elevação foi relacionada principalmente às maiores estimativas da Austrália e da Rússia. A estimativa de consumo mundial subiu 0,2% no comparativo com o relatório anterior, indo para 791,16 milhões de toneladas, contudo, ainda é 0,2% menor que a da safra 2021/22, e superior à produção global. Os estoques de passagem foram previstos em 269,3 milhões de toneladas, avanço de 0,4% no mês, mas ainda são os menores dos últimos seis anos.
PREÇOS INTERNOS – Em fevereiro, os preços do trigo estiveram em queda na maioria das regiões acompanhadas pelo Cepea. A pressão sobre os valores vem da maior disponibilidade do cereal no spot nacional – vale lembrar que a colheita foi recorde – e do menor interesse de compra por parte de moinhos. Os negócios têm sido pontuais. O preço médio do trigo no mercado disponível no Paraná foi de R$ 1.657,16/t, queda de 2,1% frente ao de janeiro/23 e 3,1% menor em relação a fevereiro/22. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 1.464,73/t, redução de 1,3% frente à de janeiro/23 e 8,7% inferior na comparação com fevereiro/22. Em São Paulo, a média em fevereiro foi de R$ 1.793,07/tonelada, baixa de 1,2% no mês, porém, elevação de 0,2% em um ano. Em Santa Catarina, a média mensal foi de R$ 1.614,97/t, com avanço de apenas 0,1% em relação a janeiro, mas queda de 2,8% em um ano. Em relação ao farelo de trigo, os preços subiram 5,4% para o a granel e 1,6% para o ensacado, evidenciando um aquecimento na demanda. No caso das farinhas, as cotações apresentaram leves reduções no mês, já que a demanda segue baixa.
BALANÇA COMERCIAL – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 18 dias úteis de fevereiro, as importações somaram 291,6 mil toneladas, contra 498,7 mil toneladas em fevereiro/22. Em relação ao preço de importação, a média de fevereiro/23 esteve em US$ 360,8/t FOB origem, 27,1% acima da registrada no mesmo mês de 2022 (de US$ 283,9/t). Quanto às exportações, o Brasil embarcou 536,7 mil toneladas em fevereiro, contra 820,2 mil toneladas em todo o mesmo mês do ano passado, segundo a Secex. Os preços de exportação registraram média de US$ 325,6/t FOB porto no mês, 9,4% acima dos verificados em fevereiro de 2022 (US$ 297,7/t).
INTERNACIONAL – As altas do primeiro vencimento nas Bolsas de Chicago e de Kansas foram de 1,0% e 4,3%, respectivamente, em comparação a janeiro/23, com médias de US$ 7,5180/bushel (US$ 276,24/t) para o Soft Red Winter na CBOT e de US$ 8,8021/bushel (US$ 323,42/t) para o Hard Winter em Kansas. A alta foi relacionada às más condições das lavouras do maior estado produtor de trigo dos Estados Unidos, o Kansas, e à intensificação de ataques da Rússia em território ucraniano.