Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- EUA são os maiores produtores de soja e milho
- Trigo é uma outra história
- O trigo é a commodity mais política do mundo
- Movimento até nova máxima plurianual
- WEAT é um fundo que investe em trigo na CBOT
O aumento das pressões inflacionárias provocou um tsunami de liquidez e estímulos econômicos por parte dos bancos centrais e governos, o que, em conjunto com os problemas causados pela pandemia nas cadeias de fornecimento, criou um bull market nas commodities. O primeiro mercado a atingir nova máxima histórica foi o ouro, que subiu para US$2063 em agosto de 2020. O metal precioso já vinha subindo antes de a pandemia causar uma reviravolta nos mercados, atingindo níveis recordes em várias divisas em 2019. O ouro passou o “bastão" de alta para outras matérias-primas, após seu preço perder força e corrigir.
Em maio de 2021, a madeira, o cobre e o paládio registraram novos preços recordes. Diversas outras commodities, como carvão, petróleo, gás natural, grãos e soja, café, açúcar e algodão, atingiram máxima plurianuais no último ano. Em outubro, as commodities energéticas continuaram registrando picos mais altos. No início de novembro, o algodão e o trigo futuro também se valorizaram até máximas plurianuais.
Quando instada a dizer qual commodity tem maior impacto político no mundo, a maioria dos participantes do mercado tende a citar o petróleo. Afinal, mais da metade das reservas mundiais estão no Oriente Médio, região mais turbulenta do planeta. O petróleo continua movendo o mundo. Mas eu discordo dessa visão.
Ao longo da história, a escassez de trigo e a alta dos seus preços causaram os maiores estragos políticos, derrubando governos inteiros, na medida em que ele é o ingrediente principal do pão, fonte nutricional essencial ao redor do mundo. O fundo Teucrium Wheat (NYSE:WEAT) rastreia os preços do mercado futuro do trigo na CBOT, que serve de referência para a cotação do produto no mundo. A Rússia é o maior país exportador de trigo do planeta.
EUA são os maiores produtores de soja e milho
Os Estados Unidos lideram a produção de milho e soja e são os exportadores mais influentes do grão e da semente oleaginosa.
Na terça-feira, 9 de novembro, o USDA, departamento de agricultura dos EUA, divulgou seu último relatório WASDE, que fornece estimativas de oferta e demanda agrícolas no mundo. Muitos produtores e consumidores acompanham esse relatório mensal, que se tornou referência para dados de produção e consumo no setor. O WASDE de novembro mostrou-se mais otimista com os preços da soja e do milho, que passaram a subir após sua divulgação.
Em novembro de 2021, os preços da soja continuavam bastante acima da cotação registrada no mesmo mês do ano passado, enquanto a soja continuava no mesmo nível.
Fonte: CQG
Como destaca o gráfico, a máxima do milho futuro em novembro de 2020 foi a US$4,3050 por bushel. A US$5,6825 em 10 de novembro de 2021, seus preços estão 32% acima do preço de um ano atrás.
Fonte: CQG
O gráfico mensal mostra que o contrato futuro de soja atingiu a máxima de US$12,00 por bushel em novembro de 2020. Em 10 de novembro de 2021, seus preços estavam um pouco acima desse patamar. Após a divulgação do relatório WASDE deste mês, seis preços se recuperaram da mínima de US$11,7125.
Trigo é uma outra história
Embora os EUA dominem os mercados futuros de soja e milho, a produção de trigo vem de diversas partes do mundo. Os americanos são grandes exportadores desse ingrediente primário do pão e cereais, mas a Rússia é a exportadora líder do grão.
O último relatório WASDE não gerou muito entusiasmo no mercado do trigo. A ação altista dos preços ocorreu no início de novembro, quando sua cotação atingiu o nível mais alto desde dezembro de 2012. O contrato futuro do trigo suave vermelho de inverno negociado na CBOT é o mais líquido e serve de referência mundial para a cotação do produto.
Fonte: CQG
O gráfico mostra que o contrato futuro de trigo atingiu a máxima de US$6,2625 por bushel em novembro de 2020. Ao nível de US$7,9975 em 10 de novembro, o trigo acumulava alta de 27,7% em um ano. O contrato mais líquido do trigo atingiu a máxima de US$8,07 por bushel no início deste mês.
O trigo é a commodity mais política do mundo
Inúmeros participantes do mercado acreditam que o petróleo seja a commodity mais política do mundo, e por uma boa razão. O Oriente Médio vive sob constante turbilhão político. Mas a commodity que alimenta o mundo é o trigo. A escassez e disparadas de preços do trigo já derrubaram diversos governos ao longo da história.
A Revolução Francesa começou como um protesto pelo pão e acabou com uma viagem de Maria Antonieta para a guilhotina, última rainha da França. No início dos anos de 2010, a Primavera Árabe começou como uma série de protestos pelo pão na Tunísia e Egito, gerando uma onda de mudanças na África Setentrional e Oriente Médio. Se os governos não conseguem alimentar sua população, tendem a desmoronar.
Fonte: CQG
Como o trigo está sondando o território de US$8 por bushel, podemos ver mais turbulência política em 2022 e nos próximos anos, caso continue em tendência de alta.
Movimento até nova máxima plurianual
O trigo negociado na CBOT superou o patamar de US$8 pela primeira vez em quase nove anos no início deste mês. O trigo não está sozinho nessa jornada. Outras matérias-primas atingiram máximas plurianuais ou históricas desde que tocaram o fundo no início de 2020 com a eclosão da pandemia mundial.
A primeira commodity a registrar novo pico foi o ouro, principal barômetro da inflação. O ouro alcançou US$2063 por onça em agosto de 2020 antes de corrigir. A prata ultrapassou US$30 por onça em fevereiro de 2021, preço mais alto desde o início de 2013. Em maio de 2021, o cobre, madeira serrada e paládio alcançaram picos recordes. Nos últimos meses, as commodities agrícolas vêm superando máximas plurianuais.
Bull markets raramente se movem em linha reta, e muitos passam por correção antes de registrar novos picos. O que temos visto é uma verdadeira corrida de revezamento, em que uma commodity passa o bastão de alta para a outra. Quem recebeu o bastão mais recentemente foram o algodão e o trigo, que atingiram novas máximas em novembro
As commodities não são os únicos mercados a se valorizar. As ações, o mercado imobiliário e as criptomoedas vêm se movimentando em níveis recordes nos últimos tempos. A liquidez injetada pelos bancos centrais e os estímulos governamentais inundaram o sistema financeiro, provocando a alta da inflação. A política monetária e fiscal acomodatícia para lidar com a pandemia é a causa principal para as pressões inflacionárias.
O petróleo e o trigo são as duas commodities mais políticas do mundo. Ironicamente, a Rússia é uma potência na produção do grão e da commodity energética. Vladimir Putin está enchendo os cofres do país que preside com a alta dos preços do petróleo e do trigo. Ele aumentou a influência da Rússia em ambos os mercados nas últimas décadas.
No trigo, Putin investiu na produção e na logística na região do Mar Negro. No petróleo, ele passou a cooperar com a Opep, cartel internacional do petróleo, tornando-se o aliado mais influente do grupo. A Rússia é a principal beneficiária da alta dos preços do petróleo e do trigo, e a tendência nesses mercados era de alta em 10 de novembro.
WEAT é um fundo que investe em trigo na CBOT
O predomínio da Rússia nesse mercado faz com que consiga extrair preços mais altos em todo o mundo. A alta da inflação nos EUA e a robusta demanda da China e outros países fazem com que a Rússia esteja em posição privilegiada para fazer o petróleo e o trigo atingirem preços mais altos nos próximos anos. Em razão da natureza política da commodity energética e do grão, o controle dos mercados permite que os russos aumentem sua esfera de influência em caso de mudanças políticas.
A rota mais direta para uma posição de risco no trigo é via contratos futuros e de opções negociados na divisão CBOT da CME. O fundo Teucrium Wheat fornece aos participantes do mercado uma alternativa para quem deseja ter exposição ao trigo.
Ao nível de US$7,77 em 10 de novembro, o WEAT ETF tinha US$79,885 milhões em ativos sob gestão. O ETF negocia em média 249.425 cotas por dia e cobra uma taxa de administração de 1,91%. O WEAT é o único ETF baseado em contratos futuros do trigo na CBOT.
Fonte: Barchart
O fundo não teve o mesmo desempenho do contrato futuro do trigo para dezembro, já que mantém em carteira três contratos com datas de vencimento distintas. O maior nível de volatilidade tende a ocorrer no contrato com vencimento mais próximo. O alto custo do fundo também pesou para o seu desempenho.
O trigo registrou mínimas e máximas ascendentes desde a virada do século. Em 1999, o contrato futuro do trigo na CBOT era negociado na mínima de US$2,2250 por bushel. O aumento da população mundial, a inflação e o controle russo do mercado do trigo são fatores que explicam a alta desse ingrediente primário do pão. Quanto mais alto sobe o trigo, mais suscetível ele se torna a correções. No entanto, os elementos técnicos e fundamentalistas dão suporte à continuação de mínimas e máximas no mercado do trigo.