A baixa disponibilidade de grão de qualidade, a desvalorização do Real frente ao dólar e preocupações quanto à safra e à comercialização do trigo argentino impulsionaram as cotações brasileiras do cereal em novembro. A postura retraída de compradores, que se mostram abastecidos, no entanto, limitou o movimento de alta. No acumulado do mês (de 31 de outubro a 29 de novembro), os preços de lotes no Paraná e no Rio Grande do Sul subiram 5% e 6,5%, respectivamente. Quando comparadas as médias mensais, nota-se alta de 2% no Paraná, com o trigo a R$ 849,40/tonelada em novembro. Já no Rio Grande do Sul, a média de novembro foi 4,9% inferior à de outubro, a R$ 709,98/t. No mês, o preço do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) registrou alta de 2,3% no Rio Grande do Sul e no Paraná. No mercado de lotes (negociações entre empresas), os valores apresentaram alta de 3,4% em Santa Catarina e de 2,5% em São Paulo. O dólar alto tem deixado compradores domésticos retraídos também para a importação. Entre 31 de outubro e 29 de novembro, a moeda norte-americana se valorizou 5,6%, com média mensal de R$ 4,1580. Tomando-se como base dados da Conab, até o dia 22 de novembro, a paridade de importação com origem na Argentina estava em US$ 245,17/tonelada para o produto posto no Paraná. Considerando-se a média da moeda norte-americana até a data, o cereal importado era negociado a R$ 1.013,35/t, ao passo que o trigo brasileiro, no Paraná, estava em R$ 842,54/t no mesmo período, segundo o Cepea. Para o Rio Grande do Sul, a paridade do produto argentino seria de US$ 238,02/t em novembro (até o dia 22), de acordo com a Conab, o equivalente a R$ 983,80/t em moeda nacional. Já o trigo brasileiro no estado sul-rio-grandense era negociado a R$ 702,15/t, conforme o Cepea.
CAMPO – O Deral/Seab indica que a colheita no Paraná foi encerrada, com produção média de 2.186 kg/ha. O Deral aponta que, até o dia 20 de novembro, 68,7% da safra paranaense havia sido negociada. No Rio Grande do Sul, a Emater indicou, em relatório divulgado no dia 28 de novembro, que a colheita está na reta final, com apenas 2% da área para ser colhida. Na região de Santa Rosa, a produtividade média foi de 2.974 kg/ha. Nas regiões de Soledade e Ijuí, a área colhida e a produtividade diminuíram frente ao estimado inicialmente – a maior parte do trigo obteve PH entre 74 e 78. Em Santa Maria, faltando 1% da área da região a ser colhida, o PH do cereal está entre 64 e 72. Na região de Erechim, cerca de 20% do cereal é de baixa qualidade, com PH entre 70 e 72. Já na região de Caxias do Sul, algumas áreas registraram PH excelente (acima de 78) e outras, ruins. Em Santa Catarina, segundo colaboradores do Cepea, a qualidade do trigo, em geral, tem sido boa.
DERIVADOS – Em novembro, as negociações das farinhas ocorreram em ritmo lento e, em geral, moinhos apenas cumpriram contratos. No mês, as cotações das farinhas para bolacha doce, massas em frescas e massas em geral subiram 1,75%, 0,29% e 0,08%, respectivamente. Já as farinhas para panificação, integral, prémistura e bolacha salgada recuaram 1,57%, 1,19%, 1,14% e 0,38%, na mesma ordem. Para os farelos, houve valorização de 1,16% para o a granel e 0,79% para o ensacado. O impulso veio da elevação nos preços do milho, o que aqueceu a demanda pelo derivado de trigo.
PREÇOS INTERNACIONAIS – Nos Estados Unidos, os futuros foram impulsionados pelo maior volume de vendas externas do produto norte-americano e pelas chuvas na França, que estão atrasando o semeio. A seca na Austrália, que deve reduzir expressivamente a safra no país, a valorização do milho, a piora na qualidade das lavouras norte-americanas e a cobertura de posições vendidas também sustentaram os futuros. Nesse cenário, considerando-se as médias de outubro e novembro, os primeiros vencimentos do trigo Soft Red Winter, negociados na CME Group, e do Hard Red Winter, na Bolsa de Kansas, avançaram 1,6% e 2,1% respectivamente, a US$ 5,1595 /bushel (US$ 189,58/t) e a US$ 4,2629/bushel (US$ 156,63/t) no último mês. Na Argentina, por outro lado, os preços cederam expressivamente em novembro. Notícias de que o Brasil abriu cota de 750 mil toneladas de importação de trigo livre de tarifas preocupam triticultores argentinos – este volume representa 6% do consumo do País em 2018. Esse acordo, vale lembrar, foi assumido no início do mês por prazo indeterminado pelo governo brasileiro junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em reunião do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex).
SECEX – Em novembro, segundo dados da Secex, as importações de trigo em grão somaram 446 mil toneladas, volume 26,5% inferior ao de outubro/19 e 9,7% menor que o do mesmo período de 2018. Desse total, 60,1% tiveram como origem a Argentina, 21,3%, os Estados Unidos, 7,7%, o Canadá e 5%, o Paraguai. As exportações, por sua vez, foram quase nulas. Para as farinhas, as aquisições no mercado internacional foram 20,4% menores em relação a outubro/19, totalizando 25,6 mil toneladas. As vendas brasileiras no mercado externo foram de 1.483 toneladas, volume 46,1% inferior ao do mês anterior.