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Trigo Ainda Busca Novas Máximas, 10 Dias Após Restrições de Oferta da Índia

Publicado 24.05.2022, 09:06
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Dez dias depois que a Índia chocou o mundo ao proibir os embarques de trigo para fora do segundo maior país produtor do mundo, os preços do grão recuaram um pouco, mas não o suficiente para enfraquecer sua trajetória ascendente.

Os gráficos do trigo ainda emitem sinais veementes de novas máximas recordes entre US$ 13 e US$ 14 por bushel no mercado futuro de Chicago, apesar de recuarem para os picos de US$ 12 alcançados logo após a notícia indiana.

Trigo diário

O cenário técnico reforça os fundamentos por trás do trigo. Em 16 de maio, apenas dois dias após o anúncio da proibição por Nova Déli, o USDA, Departamento de Agricultura dos EUA, projetou que o preço médio do trigo na safra 2022/23 atingiria o recorde de US$ 10,75 por bushel nas fazendas, com suporte do que classificou de “estoques domésticos restritos”.

Embora o preço nas fazendas difira dos preços futuros em Chicago, ele reflete o vigor do mercado futuro e à vista do trigo, bem como a incerteza nos mercados globais, sinalizando preços ainda maiores pela frente.

O USDA estimou que os estoques finais do trigo para a safra 2022-23 seriam de 267 milhões de toneladas, mínima de seis anos, bem abaixo das estimativas dos analistas de 272 milhões.

“Apesar de os preços globais do trigo estarem nas máximas recordes para esta época do ano, os participantes do mercado estão otimistas demais com a perspectiva de oferta para o próximo ano se novas projeções do governo americano servirem de indicação”, declarou à Reuters Karen Braun, analista de grãos, em uma matéria de 13 de maio.

"Mas, em relação à demanda global estimada, a expectativa é que as ofertas de trigo para o próximo ciclo fiquem perigosamente perto das mínimas históricas e bem abaixo dos níveis reduzidos deste ano”, afirmou.

Braun ressaltou que, excluindo a China, os estoques para uso do trigo mundial em 2022-23 tinham projeção de queda para 14,9%, de 16,4% neste ano, quarto menor nível histórico. O recorde de 14,3% foi estabelecido em 2007-08, e a média de meados da última década foi de 19%.

Trigo semanal

O USDA diz que, para 2022/23, havia projeção de uma produção levemente maior em comparação com a do ano de comercialização anterior. Mesmo assim, a oferta seria a segunda mais baixa nos últimos 20 anos, com base na estiagem que atingiu as regiões de cultivo do trigo vermelho rígido de inverno. Mesmo com projeções de queda no uso doméstico e nas exportações, a previsão é que os estoques finais registrem queda mais uma vez.

“Isso pode manter os preços do trigo elevados em 2023, impactando os preços dos alimentos para os consumidores globais e mantendo os custos elevados para países importadores”, ressaltou Braun, que ressaltou a possibilidade de riscos maiores para a oferta de trigo em 2022-23.

O contrato futuro do trigo nos EUA já atingiu o recorde de US$ 13,40 por bushel em 4 de março, após a invasão da Rússia na Ucrânia em 24 de fevereiro, virando o mercado do grão de cabeça para baixo. Antes disso, a Rússia e a Ucrânia costumavam fornecer cerca de 30% do trigo mundial, graças aos seus vastos e férteis campos na região do Mar Negro, conhecidos como “cestos de pães do mundo”.

Apesar do déficit de oferta, o trigo de Chicago caiu abaixo de US$ 10 por bushel em 4 de abril, exatamente um mês depois da máxima recorde, diante de sinais de algum alívio nos embarques do Mar Negro, apesar da guerra na Ucrânia.

A proibição imposta pela Índia fez o mercado assumir uma trajetória diferente. O embargo foi anunciado enquanto ondas de calor dizimavam as plantações de trigo no segundo maior país produtor do mundo, responsável pela oferta de 107,59 milhões de toneladas em 2020. Esse volume é superior aos mais de 85,9 milhões de bushels exportados pela Rússia e os 24,9 milhões embarcados pela Ucrânia naquele ano, embora as duas nações cumulativamente tenham respondido por 110,8 milhões de bushels de oferta mundial, contra 134,25 milhões da China.

A Índia previa exportar um recorde de 10 milhões de toneladas de trigo em 2022-23, após os países importadores recorrerem a Nova Déli para fechar a lacuna deixada pela Rússia e a Ucrânia. Mas, depois que temperaturas recordes acima de 50°C prejudicaram a safra em todo o país, o governo indiano foi forçado a reconsiderar sua posição.

A Secretaria Geral de Comércio Exterior da Índia, no entanto, fez concessões, dizendo que as exportações ainda seriam permitidas para países que precisam do trigo para garantir sua segurança alimentar. Todos os outros novos embarques seriam proibidos, afirmou o órgão.

Mesmo assim, a proibição indiana restringe ainda mais o mercado mundial de exportação de trigo, considerando que o país era considerado uma alternativa à Rússia e Ucrânia, em meio à atual guerra.

Trigo mensal

No pregão de terça-feira, o trigo vermelho macio de inverno no mercado futuro de Chicago girava em torno de US$ 11,93 por bushel, contra o pico de US$ 12,84 alcançado em 17 de maio após o anúncio da Índia.

No acumulado do ano, o trigo de Chicago registra alta de 55%, fazendo com que todos os itens produzidos a partir da matéria-prima fiquem mais caros, como pães e bolos, no momento em que a inflação nos EUA está nas máximas de 40 anos.

Os gráficos indicam que o trigo de Chicago pode estabelecer novos picos entre US$ 13 e US$ 14 quando a atual consolidação terminar, disse o analista técnico Sunil Kumar Dixit.

“O movimento de alta testou US$ 12,84 e pausou”, afirmou Dixit.

“A ação dos preços agora indica uma consolidação entre US$ 12 e US$ 11”, explicou, dizendo ainda que os parâmetros do índice de força relativa e do estocástico eram neutros nos gráficos diários do trigo e fortes nos gráficos semanais.

Se o trigo futuro de Chicago continuar abaixo de US$ 12, pode testar os níveis de suporte de US$ 11-11,30, ressaltou, e um rompimento abaixo desse nível poderia forçar uma correção para US$ 10.

“Mas, como a tendência subjacente é altista, os compradores devem aparecer assim que os preços testarem essas zonas de suporte”, disse o analista.

“O rali no trigo pode ser retomado, revisitando US$ 12,80 e fazendo um rompimento consistente acima de US$ 13 para US$ 13,50.”

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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