Os agentes do setor tritícola se mantiveram focados nas atividades de campo em julho, tanto na colheita e no clima no Hemisfério Norte quanto nas projeções de safra e plantio para o Hemisfério Sul. Para o Brasil, a Conab reajustou positivamente as estimativas de área, produtividade e produção na temporada deste ano (2022/23), que deve começar oficialmente neste mês de agosto. A colheita está prevista em 9,03 milhões de toneladas, um recorde e 17,6% superior à da temporada anterior (2021/22). A produtividade deve crescer 10,3%, para 3,092 toneladas/hectare. E a área com o cereal deve aumentar 6,6%, somando 2,92 milhões de hectares. Em julho, o setor nacional esteve atento às estimativas indicando quedas nas produções mundial e da Argentina – vale lembrar que o país vizinho é o principal fornecedor de trigo ao Brasil. Dados divulgados pelo USDA em julho indicaram reduções na produção, no consumo e nos estoques mundiais da temporada 2022/23 frente à anterior. No caso dos estoques finais, houve aumento em relação ao relatório de junho. O USDA estima que a produção mundial em 2022/23 some 771,6 milhões de toneladas, queda de 0,2% em comparação ao apontado em junho/22 e 0,9% abaixo da temporada passada. Quando ao consumo mundial, está previsto em 784,2 milhões de toneladas, baixas de 0,2% no comparativo mensal e de 0,8% no anual, devido às reduções na Ucrânia e na União Europeia. Em relação aos estoques finais, podem somar 267,5 milhões de toneladas, leve aumento de 0,3% frente ao relatório de junho, mas queda de 4,5% na comparação com 2021/22. Na Argentina, a Bolsa de Comércio de Rosário estima que a semeadura no país caia de 6,2 milhões de hectares para 5,9 milhões de hectares na safra 2022/23, devido ao déficit hídrico. No país vizinho, a área com trigo não ficava abaixo de 6 milhões de hectares desde a temporada 2017/18 (5,4 milhões de hectares). Assim, a produção também foi reduzida, prevista agora em 17,7 milhões de toneladas. A consultoria russa SovEcon aumentou a estimativa de exportação russa de trigo na temporada 2022/23 para 42,9 milhões de toneladas, alta de 300 mil toneladas frente ao divulgado em junho/22. Se confirmado, este será um volume recorde para o país. A consultoria também elevou as projeções de produção da safra russa de 2022/23, para 90,9 milhões de toneladas, um recorde.
MERCADO EXTERNO – Em julho, as cotações internacionais do trigo foram fortemente pressionadas pelo acordo para exportação de grãos ucranianos e pelo aumento das estimativas de produção da Rússia. Esse cenário foi observado mesmo após a divulgação de queda na safra da Argentina. Vale ressaltar que a Ucrânia é um importante exportador de milho e de trigo. Desde a invasão do país e a paralisação de suas exportações, as cotações externas vinham apresentando altas expressivas. Os recuos do primeiro vencimento nas Bolsas de Chicago e de Kansas em julho foram de 20,2% e de 19,7%, respectivamente, em comparação a junho/22, com médias de US$ 8,0670/bushel (US$ 296,41/t) para o Soft Red Winter na CBOT e de US$ 8,7326/bushel (US$ 320,87/t) para o Hard Winter em Kansas. Essa foi a primeira vez que os preços mensais externos fecharam abaixo de US$ 10,0000/bushel desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
MERCADO INTERNO – No Brasil, apesar das baixas externas, os preços do trigo seguiram firmes em julho na maioria das praças acompanhadas pelo Cepea. As negociações ocorreram de forma pontual no último mês, cenário que deve permanecer até a chegada da safra que está sendo semeada, quando há expectativa de redução expressiva de preços. No Rio Grande do Sul, a média mensal foi de R$ 2.173,95/tonelada, alta de 1,2% frente à de junho e elevação de 46,7% na comparação com julho/21. O preço médio do trigo no mercado disponível do Paraná foi de R$2.168,29/t, baixa de 0,6% frente ao de junho/22, porém, 41,3% maior que o de julho/21. Em São Paulo, a média mensal foi de R$ 2.131,34/t, aumentos de 1,7% frente a junho e de 32,9% em um ano. Em Santa Catarina, a média foi de R$ 2.114,72/t, elevação de ligeiro 1% frente à de junho/22 e 37,6% superior na comparação com a de julho/21. Em relação aos preços mensais, vale ressaltar que a média nominal estadual do Rio Grande do Sul foi superior à do Paraná em julho, o que não era verificado desde novembro de 2020. Em termos reais, utilizando o IGP-DI, os valores mensais nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina são recordes da série do Cepea.
BALANÇA COMERCIAL – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 21 dias úteis de julho, as importações de trigo somaram 499,49 mil toneladas, contra 534,87 mil toneladas em julho/21. Em relação ao preço de importação, a média de julho/22 esteve em US$ 420,5/t FOB origem, 53,5% acima da registrada no mesmo mês de 2021 (de US$ 274,0/t).