Agentes do setor tritícola nacional estiveram focados na semeadura da nova safra. No Paraná, mais da metade da área estimada no estado já foi semeada, e a produção deve ser superior à do ano passado, mesmo com a menor área. As atividades de campo também foram iniciadas no Rio Grande do Sul, o estado com a maior produção em 2021. De acordo com dados divulgados em maio pela Conab, a safra 2022/23 deve somar produção de 8,13 milhões de toneladas, 5,9% acima da temporada passada. A área destinada ao cereal deve ser de 2,82 milhões de hectares, 3% maior que em 2021, e a produtividade, de 2,88 toneladas/hectare, alta de 2,8%. O consumo está projetado em 12,76 milhões de toneladas, 5% acima da estimativa de 2021. A disponibilidade interna está prevista em 14,96 milhões de toneladas, recuo de 3,4% em comparação a 2021. Quanto aos preços, seguiram em alta e renovando as máximas nas regiões acompanhadas pelo Cepea, ainda impulsionados pela baixa oferta doméstica, pela menor produção na Argentina e na Ucrânia e por preocupações quanto à menor oferta mundial. O impulso também vem das valorizações externa e do dólar. A maior taxa de câmbio encarece os custos de importação, reforçando o movimento de alta no Brasil, em um ambiente de baixos estoques.
O preço médio do trigo no mercado disponível no Paraná foi de R$ 2.033,79/t, alta de 6,9% frente ao de abril/22 e 23,4% maior em relação a maio/21. Em São Paulo, a média mensal foi de R$ 2.007,38/t, avanço de 4,3% em maio e de 19,3% em um ano. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 2.002,76/tonelada, alta expressiva de 10,1% no mês e elevação de 26,4% em um ano. Já em Santa Catarina, a média foi de R$ 1.979,36/t, elevação de 5,1% frente à de abril/22 e avanço de 23,5% na comparação com a de maio/21. Dados do Cepea mostram que as médias mensais de maio foram recordes nominais nos estados do Sul e em São Paulo, considerando-se as séries de preços iniciadas em 2004. Já no Rio Grande do Sul, a média de maio foi recorde real (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). No Paraná, em Santa Catarina e em São Paulo, as médias mensais foram as maiores reais desde 2013. Diante dos elevados preços e da baixa disponibilidade, os negócios seguiram de forma pontual ao longo de maio.
ESTIMATIVAS – Em temos globais, dados do USDA indicaram em maio redução da produção e dos estoques da safra 2022/23, com a relação estoque/demanda indo para o menor patamar em oito safras. Também chamou a atenção a decisão do governo indiano de restringir as exportações de trigo, diante da escalada dos preços domésticos. A Índia é o oitavo maior exportador mundial, representando 5% das transações na temporada 2021/22. Segundo o USDA, a produção mundial 2022/23 deverá ser de 774,8 milhões de toneladas, 0,6% inferior à temporada anterior, com baixa expressiva na Ucrânia, Austrália e Argentina. A produção da Ucrânia deverá passar de 33 milhões de toneladas na safra 2021/22 para 21,5 milhões de toneladas em 2022/23, devido ao conflito contra a Rússia. O USDA estima consumo mundial de 787,5 milhões de toneladas em 2022/23, 0,4% inferior ao de 2021/22. A consultoria russa Sovecon estima que a safra 2022/23 da Rússia some 88,6 milhões de toneladas, um recorde. Já as exportações da temporada 22/23, que terá início em 1º de julho, estão estimadas em 41 milhões de toneladas pela Sovecon e em 39 milhões de toneladas pela consultoria Ikar. Ainda de acordo com a SovEcon, a safra da Ucrânia deverá ser de 22,2 milhões de toneladas, queda de 900 mil toneladas em comparação à última estimativa e expressivamente inferior às 32,1 milhões de toneladas de 2021. Em relação às exportações do país, até o momento, os terminais marítimos seguem fechados. Na Índia, segundo informações do Ministério da Agricultura do país, a colheita de trigo deste ano deverá ser de 106,4 milhões de toneladas, baixa de 4,4% em comparação à estimativa anterior, em decorrência das altas temperaturas. Na Argentina, informações da Bolsa de Cereales indicam que a safra 2022/23 de trigo deve somar 20,5 milhões de toneladas, redução de 8,5% frente à anterior. A área destinada ao cereal no país caiu 1,5%, indo para 6,6 milhões de hectares.
MERCADO EXTERNO – Nos Estados Unidos, considerando-se as médias de abril e maio, o primeiro vencimento do Soft Red Winter da Bolsa de Chicago (CME Group) se valorizou 7%, a US$ 11,4093/bushel (US$ 419,22/t). Na Bolsa de Kansas, o contrato de mesmo vencimento do trigo Hard Winter avançou 8,3%, a US$ 12,1855/bushel (US$ 447,74/t).
DERIVADOS – Os preços dos farelos de trigo seguiram cedendo de abril para maio, devido à maior oferta – as desvalorizações foram de 10,9% para o farelo a granel e de 8,4% para o ensacado. No caso das farinhas, no mesmo comparativo, os preços subiram, por conta dos repasses contínuos dos maiores custos do trigo. De abril para maio, os preços médios das farinhas subiram 6,4% para massas em geral, 6,3% para massas frescas, 5,3% para bolacha salgada, 4,0% para bolacha doce, 3,2% para farinha integral, 3,0% para panificação e 1,2% para pré-mistura.