Segunda-feira é dia de dar uma passada mais carinhosa nas notícias de jornal do final de semana. O grande problema é que os jornais andam monotemáticos desde que o Congresso aprovou a peça fictícia de orçamento para 2021.
Não é por menos. Pense o quão absurdo é passarmos todo esse tempo sem saber como se dará o fiscal deste ano, posto que a criação dos próprios governantes fere a lei de responsabilidade. Que país é esse, né minha gente?
Quando isso acontece e os jornais só falam de uma coisa, você, investidor, tem que se voltar para o que não está escrito. O que pode acontecer, na margem?
Aliás, me perguntaram outro dia o que eu quero dizer com "na margem". Na margem é "daqui para frente", é "o dado mais recente".
Por exemplo, digamos que os dados de inflação venham acelerando muito ao longo dos últimos meses, mas hoje é publicado um dado abaixo do esperado pelo mercado. O mercado vai operar um número fraco, e não uma tendência forte. Afinal, toda tendência forte é passado, portanto já está incorporada nos preços. A surpresa negativa é o que está acontecendo "na margem", logo, é o que vai impactar o mercado.
Pensando nisso, acredito que estamos atualmente em um dos mercados mais difíceis de se investir que eu me lembro de ter visto. Ainda, ao mesmo tempo que temos excesso de liquidez colocando tudo que é ativo de risco nas máximas, temos também, do outro lado, dívidas globais em níveis nunca antes vistos.
Todo dia eu oscilo em pensar "sai de tudo e volta pra caverna!" e "acho que temos um bom potencial por aí".
Isso é normal em cenários assim. Nada é óbvio. E, ao contrário do que te fazem pensar, você NÃO tem que ter uma opinião formada sobre tudo SEMPRE. Não force uma convicção que não existe na sua cabeça.
Nessas horas é momento de se organizar. Então vou fazer isso aqui, junto com vocês. Vamos organizar nossos argumentos positivos e negativos, e vamos acompanhando eles ao longo das próximas semanas.
Argumentos negativos (para um mercado ruim):
- Mais gastos fiscais no Brasil
A pressão da segunda onda do coronavírus está levando os governantes a propor novos pacotes de estímulos. Atualmente, vimos o pacote de 250 milhões para o setor de eventos e restaurantes. Novos e mais robustos auxílios também foram ventilados. Lembrando que não temos mais espaço no teto de gastos para esse tipo de pacote, vide o orçamento fictício aprovado para que coubessem 26 bilhões a mais em emendas parlamentares. Ou seja, novos estímulos significariam obrigatoriamente o abandono do teto, nossa maior âncora fiscal. O que me leva ao ponto número 2.
- Saída de Guedes
Todo dia temos "Fontes" (não sou eu gente, juro!) falando que o ministro está por um fio de ser exonerado. Foram tantas vezes, que já estamos anestesiados achando que ele não vai sair e que tudo isso é fake. Mas se você junta o meu ponto anterior, de pressões políticas e possível abandono do teto de gastos, me parece bem factível uma saída do ministro. Isso seria terrível para os mercados. Seria lido como "agora eles vão gastar mais mesmo!".
- Eleições de 2022
Para piorar, estamos nos aproximando das eleições de 2022, nas quais teremos Lula e Bolsonaro disputando. Ou seja, as pressões por novos gastos e medidas populistas vão estar no nível máximo. Além disso, morrerá qualquer iniciativa de reformas estruturantes impopulares. Quem sofre é o país. Sem contar que anos eleitorais têm volatilidade acima do normal, tornando o mercado extremamente difícil de se operar.
Antes que você chore, deixei propositalmente o lado bom para o final. Assim, você segue a semana com uma mensagem de otimismo.
Argumentos positivos (para a bolsa subir):
- Commodities bombando
O preço das commodities não para de subir. Esse cenário de liquidez mundial e excesso de estímulos está aumentando o consumo de alimentos, proteína, grãos, além de investimentos em construção e infraestrutura aumentarem o preço de componentes industriais.
E adivinha só qual setor é predominante na nossa bolsa? Exatamente, commodities! Temos empresas de minério, papel e celulose, petróleo, dentre várias outras. Tudo isso é muito beneficiado não apenas pelo aumento do preço desses itens, como também pela valorização do dólar.
Então como pensar em uma bolsa caindo? Fica difícil né?
- Reabertura da economia
Mesmo que de forma tardia, estamos nos aproximando da reabertura econômica, conforme nossa população é vacinada. Isso fará com que o consumo cresça. Podemos inclusive nos surpreender positivamente com a velocidade de retomada, uma vez que muita gente poupou durante a pandemia e pode decidir "compensar" na reabertura.
Isso deve dar uma carga de otimismo para as empresas, principalmente aquelas que mais sofreram, como shoppings, viagens e aéreas.
- Política monetária estimulativa no curto prazo nos EUA
Enquanto o Fed não decidir parar com a festa dos juros baixos, seguiremos com recuperação econômica, otimismo com reabertura, excesso de estímulos e juros baixos. Tudo isso é a receita perfeita para a formação de bolhas.
Ou seja, devemos seguir vendo preços esticados ficarem ainda mais esticados, só porque não temos nenhum contraponto e mais estímulos empurrando os preços.
Temos que festejar perto da porta? Sim! Quando esse ciclo for revertido, o mercado pode azedar de verdade. Mas até lá, segue o jogo.
É isso, meu povo! Estou olhando exatamente para esses pontos que mencionei aqui, e me perguntando qual predominará no mercado de curto prazo.
Mas como vocês podem perceber, esses pontos têm muito do imponderável e dependem de fatores alheios ao fundamento, como vontade política e análise subjetiva dos membros do Fed. Ou seja, não são antecipáveis.
Por isso que os preços podem ser um bom guia nessa situação. Se eles forem muito para um lado, vai valer a pena zerar e ficar esperando o outro chegar.
Enfim, estamos pisando em ovos aqui. Independentemente de tudo, mantenha o risco baixo, e se posicione em empresas e ativos que você gosta, conhece e confia.
Vamos juntos!