A pandemia de coronavírus, seu impacto na economia e os esforços para combater ambos os desafios continuam agitando o mercado de títulos do tesouro americano, os chamados treasuries, ora pelo pessimismo, ora pelo otimismo dos investidores, dependendo do noticiário.
Os ursos predominaram na semana passada, em meio a dados econômicos relativamente fortes, esperanças de vacinas e a perspectiva de um novo pacote de estímulo pelo congresso dos EUA. Sinais positivos para a economia são baixistas para os treasuries, pois os títulos governamentais fornecem segurança para investidores preocupados. Boas notícias diminuem as preocupações.
Os rendimentos do bônus de 10 anos do tesouro americano subiram 0,71% durante a semana, com o declínio dos preços (a rentabilidade se move em sentido contrário à cotação).
As vendas de US$ 112 bilhões em títulos e bônus, inclusive US$ 26 bilhões em dívidas de 30 anos, também contribuíram para amenizar os preços.
Mas o sentimento mudou novamente no início desta semana, diante da disparada do medo causado pela Covid-19 no noticiário, dando conta de que os testes nos EUA estavam caindo e o congresso estava interrompendo seu recesso de agosto para debater questões de financiamento do serviço postal norte-americano, em meio aos temores relacionados à votação por correio em novembro.
A rentabilidade do papel de 10 anos caiu para 0,676%, à medida que os touros impulsionaram os preços. Cerca de 733.000 pessoas estão sendo testadas diariamente em agosto, em comparação com 750.000 em julho, com o número de casos superando 5,4 milhões e o de mortes, 170.000.
A capitalização do serviço postal e seu impacto na votação por correio continuam dividindo os legisladores, com os democratas buscando recursos para o USPS como parte do pacote de estímulo, e os republicanos dizendo que preferem destinar os fundos para uma ação separada.
Na semana passada, os investidores se sentiram aliviados com a queda de novos pedidos de seguro-desemprego para menos de 1 milhão pela primeira vez desde março, além dos números de vendas no varejo acima das expectativas, desconsiderando a volatilidade das vendas de carros e combustíveis, sem falar no aumento dos preços acima do esperado (sim, o aumento da inflação é uma notícia positiva neste ambiente).
As projeções de inflação para 10 anos, derivadas do rendimento real dos papéis do tesouro americano protegidos pela inflação, subiram para 1,72% na quinta-feira, em comparação com 0,50% em determinado momento de março, antes de encerrarem a semana a 1,67%.
A montanha-russa deve continuar nesta semana. As vendas de US$ 54 bilhões nas letras de 13 semanas e de US$ 51 em bônus de 26 semanas do tesouro americano na segunda-feira gerarão uma venda de US$ 25 bilhões em papéis de 20 anos na quarta-feira, o que deve contribuir para a redução dos preços e o aumento dos rendimentos.
A Convenção Nacional Democrática, que será realizada virtualmente, e não mais em um centro em Milwaukee, foi aberta na segunda-feira pela manhã e terminará na quinta-feira, com a nomeação formal do ex-vice-presidente Joe Biden como candidato presidencial e da senadora californiana Kamala Harris como vice na chapa.
A candidatura já está liderando as pesquisas, e os candidatos geralmente ganham impulso com a convenção, embora seja difícil dizer o que acontecerá sem todo o teatro político desta vez.
Enquanto isso, as atas da reunião de política monetária do Federal Reserve de 28-29 de julho serão divulgadas na quarta-feira, e os analistas ficarão de olho em pistas de como o Fed pode mudar sua visão em relação à meta de inflação. O banco central dos EUA deve alterar sua posição de tolerância a aumentos acima da meta de 2% para trabalhar atividade nessa direção, no intuito de alcançar uma taxa média de 2% com o tempo. Entretanto, como sugere o indicador de expectativa de inflação TIPS, ninguém prevê que a inflação chegue perto de 2% no futuro próximo.