Existe alguma esperança de uma grande redução nos estoques de petróleo nos EUA neste momento da temporada de viagens automotivas?
Desde o começo de 2019, os mercados petrolíferos sofreram algumas das mais incríveis restrições de oferta e tensões geopolíticas, o que, em anos anteriores, poderia facilmente ter feito os preços atingirem os três dígitos.
Porém, os temores de uma recessão impediram que os touros do petróleo alcançassem os preços que queriam durante a maior parte deste verão nos EUA, fazendo com que o petróleo West Texas Intermediate se consolidasse na faixa inferior dos US$50 por barril, e o britânico Brent, abaixo dos U$ 65.
Enquanto o avanço nas negociações comerciais sino-americanas e os rumores de cortes de juros tenham sido responsáveis por rompimentos de preços, os ralis mais duradouros são geralmente aqueles derivados de sólidos números de demanda por petróleo. É aqui que entram os dados semanais de estoques fornecidos pela Agência de Informações Energética dos EUA (EIA, na sigla em inglês).
Antes do relatório de estoques da EIA para a semana finalizada em 16 de agosto, uma preliminar fornecida pelo grupo comercial American Petroleum Institute (API) mostrou uma retirada de 3,5 milhões de barris.
Touros agradecerão qualquer redução de estoques... Quanto maior, melhor
Após duas semanas de acúmulos de estoques, totalizando cerca de 4 milhões de barris, uma retirada de qualquer magnitude pode ser motivo de oração silenciosa de agradecimento por parte dos comprados no mercado.
Mas, para que um bom rali se sustente, o mercado pode precisar de uma queda de pelo menos 3 milhões de barris.
Se os números do API estiverem corretos, seria prova de que a demanda de petróleo das refinarias ainda está surpreendentemente saudável, haja vista que a maioria dos analistas havia previsto uma retirada de menos de 2 milhões de barris para a semana passada. O API também citou uma redução de 2,8 milhões de barris no importante centro de armazenagem de Cushing para o petróleo americano em Oklahoma. Mas os estoques de destilados, que incluem diesel e óleo de aquecimento, subiram 1,8 milhão de barris, neutralizando alguns dos impactos positivos dos dados.
A questão, evidentemente, é qual a probabilidade de haver uma confirmação das retiradas relatadas pelo API, faltando apenas uma semana para o pico de demanda das viagens automotivas de verão nos EUA, antes do feriado do Dia do Trabalho em 2 de setembro.
A história mostra que é possível haver maiores retiradas de petróleo
Embora as variáveis de cada conjunto de dados de oferta-demanda semanal sejam únicas, uma perspectiva histórica pode ser útil.
Há um ano, durante a semana encerrada em 22 de agosto de 2018, a EIA registrou uma retirada de 5,8 milhões de barris. E não para por aí. Nas quatro semanas seguintes, os estoques petrolíferos continuaram apresentando declínios, perdendo cumulativamente 14,2 milhões de barris.
Em 2017, as retiradas de petróleo norte-americano abruptamente cessaram na semana final de agosto, antes de três semanas seguidas de acúmulos, que adicionaram cerca de 15 milhões de barris aos estoques. Mas praticamente toda essa quantidade foi consumida nas quatro semana seguintes, à medida que os estoques caíam sem parar.
Se tudo der errado, caberá à Opep levantar o mercado
Se, por qualquer razão, não houver retirada de petróleo nas próximas duas semanas, a única esperança dos touros para uma alta dos preços será contar com maiores cortes de produção por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
A Arábia Saudita sugeriu, nas últimas semanas, que o país, juntamente com as forças da Opep, fará tudo para “reequilibrar” o mercado: em outras palavras, reduzir a produção até a recuperação dos preços. O cartel continua comprometido em manter 1,2 milhão de barris por dia fora do mercado, apesar de os sauditas geralmente se esforçarem mais.
No entanto, alguns analistas não estão convencidos de que a Opep disponha dos meios necessários para manter o mercado em alta.
Olivier Jakob, fundador da consultoria Petromatrix, em Zug, Suíça, é um deles, pois acredita que os estoques petrolíferos tenham ficado inalterados pela primeira vez desde 2016.
O analista disse ainda:
“Se a Arábia Saudita quer dar suporte a equilíbrios (preços) mais fortes, precisa deixar as exportações de petróleo caírem abaixo de 6,5 milhões de barris por dia, alcançando 6 milhões, algo que se recusou a fazer em 2014 ou 2017.”