Bull in politics, bear in market
Desde quando criei o Bugg em 2016, auge do conflito e das discussões políticas, busquei evitar o assunto como tópico principal, ainda que por vezes ele tenha sido, tal qual agora. Política pode ser conversada no bar ou no churrasco de domingo. Acho uma seara ingrata.
“Bolsonaro foi traído” ; “Bolsonaro está perdido” ; “Moro errou” ; “Moro acertou” ; “Paulo Guedes é o próximo hein” ; “vai cair” ; “não vai cair” ; “não tem governabilidade” ; “vai se juntar com o centrão” ; “vai dar guinada no governo”...
Obviamente tenho opinião sobre tudo isso, mas ela é apenas mais uma no meio de tantas. De forma prática, qual o proveito prático desse tipo de discussão? Levar à seguinte conclusão:
“Bull in politics, bear in market”. Ou, ainda: “Bull market in politics means bear market in risk assets”
Nem lembro quando ouvi essa máxima, mas acho muito verdade. Quando o assunto/tônica do momento se tornam a política, seus desdobramentos e crises, o mercado fica em segundo plano e os agentes acabam se guiando por manchetes que mudam dia após dia.
Não por acaso o risco país, que já vinha em alta com os receios dos desdobramentos do corona+petróleo por aqui, saltou. Abaixo, gráfico do CDS da dívida brasileira (espécie de seguro, sua alta mostra que ficou mais caro se proteger de qualquer interpérie que aconteça no Brasil).
#Chateado
Confesso que fiquei chateado. Foi uma sexta-feira pesada. Daquelas da sofrência estilo Marília Mendonça! O pronunciamento de um presidente traído, dólar nas alturas, bolsa em baixa! Brasilzão se superando mais uma vez! Num momento em que Republicanos e Democratas se unem nos EUA para aprovar pacotes de socorro a sua economia que somam US$ 3 trilhões, algo como 16% do seu PIB, no Brasil arranjamos uma crise nossa! A crise do Moro Day!
Eu quero uma crise pra chamar de minha!
Perguntas chaves
Do que li, achei esse resumo do Lucas Aragão da Arko Advice muito bom:
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Minha opinião?
Acho que é isso…não há muito o que dizer…só especulação mesmo.
Vai conseguir construir base de governabilidade? Vai conseguir manter o apoio popular?
Collor e Dilma caíram depois que o povo foi às ruas pedindo que saíssem. O congresso reage a isso. Leva tempo e depende desses dois aspectos que o Lucas comentou acima: governabilidade e apoio político. São as perguntas chaves para saber se conseguirá executar alguma reforma econômica e, com isso, ajudar a economia do país a andar. Se ficarmos presos nas incertezas os discussões políticas é pior: investimentos travam, gastos param… Já vimos esse filme.
Voltando ao pragmatismo…
Mas, voltando ao pragmatismo: para você que começou a investir ou no mercado há quatro anos (2016), parabéns, esse ano tem sido uma aula de dar inveja! Para os mais antigos como eu, parabéns para nós, estamos ainda mais “cascudos”, rs.
PRAGMATISMO 1
Lembro: (i) crises são e continuarão a ser normais na economia e na política; (ii) o mercado sempre exagera, para cima ou para baixo! As empresas que aí estão sobreviveram! Mesmo as estatais sobreviveram a Collor, Dilma, e outras tantas barbaridades… Então, quando vejo um Banco do Brasil perder quase 20% de seu valor de mercado em uma semana, me pergunto: faz sentido?
Fora isso, um ponto comum em todas crises é que elas criam situações pouco vistas na normalidade. Com a alta do dólar e a queda da bolsa, investir em ativos de risco no Brasil ficou realmente muito barato! O patamar atual é comparável a 2005! Abaixo, o ETF EWZ, que replica o desempenho de uma cesta de ações brasileiras nos EUA.
E uma outra forma de ver isso é comparando o prêmio de risco do Ibovespa, o quanto o risco de se investir em bolsa remunera a mais que o investimento em um bond, no caso a NTN-B45.
Indo além, repasso um estudo que recebi de ativos que estão próximos de mínimas. A leitura seria a seguinte: na quinta coluna, vocês encontram o quanto o ativo já percorreu o caminho de volta da mínima à máxima. Com um exemplo fica mais simples: no caso de ITUB4 (SA:ITUB4), primeira linha, da mínima pra chegar à máxima, imaginando que o caminho todo é 100%, ela só percorreu 6,93%. Ou seja, muito mais perto da mínima do que da máxima.
Nada garante que retornará à máxima, mas achei interessante o estudo.
PRAGMATISMO 2
Pensando em comportamento do investidor... Comprar agora? Tire suas próprias conclusões. Mas esse meme resume bem:
Eliseu fez um post bacana que abordou isso (confere). Sim, é difícil pensar de forma contraria e apostar em ativos de risco em meio à incerteza ou quando esse risco parece ser elevado. Mas essa é a dificuldade e beleza do mercado!
PRAGMATISMO 3
Nunca é demais lembrar o recado que passo no meu post semanal da minha carteira: diversificação internacional!
Esses movimentos do dólar surpreendem muitos.
“Nossa…como o dólar esta caro!”
Ouço isso direto. Mas qual o dólar justo para um país em que a economia se encontra numa situação complexa e envolto numa crise política? Pois é, e veja que esses eventos e crises, em especial derivados da politica, fazem parte da história do Real enquanto moeda! Não deveria surpreender, pois infelizmente isso é o normal!
- Em 1999, uma vez reeleito, o presidente Fernando Henrique Cardoso realiza uma maxidesvalorização do Real com a cotação saindo de R$ 1,20 para R$ 2,08 uma alta de 73% em apenas um mês.
- Em 2002, o receio acerca da politica econômica a ser adotada pelo então candidato Lula levou o dólar saltar dos R$ 2,34 em abril/2002 para R$ 4,01 em outubro/2002, uma alta de 71% em seis meses.
- Em 2014 a perda de popularidade e governabilidade do governo Dilma aliada à crise econômica do país fizeram novamente o dólar saltar R$ 2.24 em agosto/2014 para R$ 4,25 pouco mais de um ano depois (setembro/2015), uma alta de 89,7%.
Abaixo, o gráfico mensal do dólar com essas altas. P.S.: valores aproximados
Era isso.
Aquele Abs.