DE REPENTE AS COISAS MUDAM DE LUGAR?
Quando você disse nunca mais
Não ligue mais, melhor assim
Não era bem o que eu queria ouvir
E me disse, decidida
Saia da minha vida
Que aquilo era loucura, era absurdo
O ano de 2020 não tem sido fácil para os investidores. Muitos devem ter se sentido assim como nessa música do Paulo Ricardo, tipo: Chega! Saia da minha vida! É loucura esse negócio de investir em ações. Não dá! Nunca mais!
Mas…
De repente, as coisas mudam de lugar
E quem perdeu pode ganhar
Hehehe…pois é. A bolsa é algo muito louco, tipo futebol. É uma caixinha de surpresas. Por isso gosto tanto! Na mesma semana leio o Credit Suisse chamando a moeda brasileira de tóxica; a Franklin Templeton dizer que o Brasil está uma pechincha e o Goldman Sachs vendo o Brasil como atrativo para investir agora. Abaixo, um resumo do último comentário:
We think Latin America offers the most value in EM equities – Bovespa likely the best rebound candidate. Latin America’s underperformance versus the rest of EM since January has opened up significant value across assets on both a relative and an absolute basis. The severity of the underperformance was likely due to the commodities-centric nature of the shock, a story that we expect to reverse in the second half of the year. Brazilian equities in USD terms have been the worst-performing asset through the EM sell-off, and we would recommend investors go long the Bovespa given its “catch-up” room to improving global risk and its historically close relationship with commodities prices. (Fonte: Goldman Sachs)
NÓS AVISAMOS!
Talvez eles tenham lido as tônicas do Bugg. Duas semanas atrás chamamos atenção ao fato do Ibovespa estar bastante descontado em dólar (3 Opiniões sobre o Mercado). E, na semana passada, chamamos atenção para alguns exageros que vemos atualmente na bolsa brasileira. Teve papel que subiu 30% nessa semana! Quem não leu: Algumas coisas nos chamam atenção.
Mas Will, por que você disse:
De repente, as coisas mudam de lugar
E quem perdeu pode ganhar
?
Porque:
ELES QUEREM A NOSSA HEMORROIDA
Essa foi a frase da semana, do mês e talvez do ano - ou, quem sabe, até a do mandato, rs! Posso estar exagerando, mas a frase resume um pouco do que se passou na política brasileira nos últimos dois meses, na minha opinião. Veja bem, não quero discutir política. No Bugg buscamos não entrar muito nesse assunto porque me parece ser papo para discutirmos no bar, onde nos xingamos, brigamos, mas ao final nos abraçamos e cantamos “moro num país tropical" bêbados. Quando eu voltar ao Brasil eu aviso e marcamos esse chopp, rs. Mas, de fato, eu apoio a política liberal adotada por esse governo. Uma vez abandonada, eu abandonaria o apoio. Mas por ora ela segue em vigor e segue tendo o meu apoio.
Minha opinião: sendo pragmático, vamos ao que penso ser relevante para o mercado essa semana e porque o tal discurso foi importante. Em relação à covid, eu sempre ressaltei aqui que cedo ou tarde passaria e que estava tranquilo dentro do possível quanto a ela. O que me perturbou foi a confusão política que poderia descambar para uma perda total de controle do governo atual, algo que a meu ver seria muito ruim. O vídeo vazado na sexta-feira me parece reafirmar a postura de um presidente excêntrico sim, mas que talvez não esteja sendo desonesto com os seus eleitores. E, se isso for verdade, e não existirem provas concretas capazes de derrubá-lo, o mesmo sai fortalecido. E, se isso for verdade, ele ganha capital político e, quiçá, a sustentação e apoio popular. Com isso, é possível que vejamos deputados e senadores se alinhando. E, se isso for verdade, abre-se um espaço magnífico para aprovação de reformas que ajudem o país a crescer. E, se tudo isso for verdade, a bolsa reage bem!
Geraldo Samor do Brazil Journal resumiu bem, num texto muito bem escrito: “O vídeo pariu um rato: a derrota da narrativa”
QUEM PERDEU PODE GANHAR?
De repente, as coisas mudam de lugar
E quem perdeu pode ganhar
Fato é que houve um fluxo muito intenso de recursos saindo do Brasil nos últimos meses que ajudou a puxar o câmbio para cima e a bolsa para baixo. Nas últimas oito semanas os fundos estrangeiros com investimentos no Brasil tiveram redução de recursos, ou seja, tiraram grana do Brasil.
No caso dos fundos locais que investem em ações, em quatro das sete semanas houve redução do valor aplicado, ou seja, saques e desinvestimento na bolsa. Bem verdade que muito dinheiro já foi para a bolsa por conta do juros baixos, mas esses recursos parecem ter parado nas ultimas semanas.
Mas talvez isso esteja mudando?
Com a política um pouco menos nebulosa, abriria-se espaço para a bolsa andar. Tanto que o ETF que replica uma cesta de ações brasileiras na bolsa americana reagiu bem ao discurso. Se liga (sublinhado em azul o desempenho do after, pós discurso):
Sendo assim, espero que a bolsa brasileira (verde) reaja bem e reduza o descompasso hoje existente com mercados emergentes (vermelho) e USA (preto).
UM PESSIMISMO QUE FOMENTA O OTIMISMO?
E mais uma vez você ligou
Dias depois, me procurou
Com a voz suave, quase que formal
E disse que não era bem assim
Não necessariamente o fim
De uma coisa tão bonita e casual
Soa estranho, mas uma coisa “boa” é que muito do pessimismo com a situação atual foi sendo colocada nos preços. O IBOV cai quase 50% em dólar no ano, contra queda de menos de 20% dos emergentes.
Outro ponto é que muito das revisões de lucros já foram feitas. Nas últimas semanas ou meses, os analistas revisaram suas estimativas de lucros para baixo, como reflexo dos impactos do corona. Na média, os lucros das empresas brasileiras já foram revisados 40% para baixo!
Por que isso é bom? Porque dá margem para surpresas positivas, ou melhores do que o esperado. Quando as estimativas estão baixas é mais fácil que vejamos isso acontecer.
Em termos setoriais, o Eliseu tem um ponto importante.
TECHS, VALUATION E OPORTUNIDADES (por Eliseu Mânica)
Nos últimos dois meses, tivemos, tanto nas bolsas americanas quanto no Ibovespa, um destoar entre setores. Vimos setores de companhias tech e exportadoras performando muito bem e, por outro lado, empresas sendo precificadas com extremo negativismo, como se nunca mais fossem reabrir ou operar, sendo essas empresas mais tradicionais e mais ligadas ao investimento em valor.
No Brasil, chamou atenção empresas que não possuem lucros e, mesmo assim, tiveram uma valorização nas suas cotações. Empresas como a queridinha Magazine Luíza, a B2W (SA:BTOW3) e outras similares, negociadas a 70-80x lucros, seguindo o valuation de empresas americanas. Mas, ao contrário de muitas empresas dos EUA que vêm aumentando os lucros e geração de caixa, aqui no Brasil muitas delas têm aumentado dívidas e prejuízos ininterruptos, ou seja, temos um descompasso entre quedas nos lucros e um aumento nas cotações, o que aumenta o risco de investimento. Os ativos ligados ao “setor tech brasileiro” atualmente estão embutindo valuations e premissas de crescimento extremamente altos, o que pode ou não se confirmar. O fato é que tanto ações de empresas tech brasileiras quanto as linkadas a exportação são as ações “modinha” do momento.
O fato é que tanto no Brasil quanto nos EUA a diferença entre o retorno de empresas tech e empresas mais tradicionais vem aumentando. Nos EUA, segundo artigo do Goldman Sachs, as top 20 empresas estão sendo negociadas a 27x lucros, enquanto as 20% com menores múltiplos estão sendo negociadas a 9x lucros. Essa é a maior diferença em 20 anos, segundo o Goldman Sachs. Entendo que isso nos mostra a oportunidade existente em setores que ainda não subiram e que ainda podem estar muito descontados.
Minha opinião: acredito que as maiores oportunidades se encontram nos setores como petrolífero, bancos (principalmente), properties, utilities e saneamento. As melhores companhias “tech brasileiras” já subiram bem e existem setores muito baratos no momento, o problema é que poucos estão querendo ter esses setores. Empresas de salas comerciais e shopping centers nunca mais voltarão ao normal? Será que merecem ser negociadas a 60% do valor de book? Será que teremos empresas de saneamento, em plena votação de projeto de lei para uma abertura maior no setor, o que é positivo, tendo suas ações negociadas como sempre tivesse uma seca, mesmo com votação de aumento nas suas receitas?
Acredito que o Brasil não é pior do que a Suzilândia, mas, pela queda da moeda brasileira, isso vem sendo precificado. Esse exagero no negativismo com o Brasil é que abre oportunidades. A moral da história? Investir é difícil! Agir contra a manada é difícil, mas é o que mais traz recompensa no médio-longo prazo!
Era isso.
Aquele Abs.