Bolsa americana cara ou justa?
E o Ibov no samba de uma nota só?
Voltei! Peço desculpas pelo meu sumiço. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e não consegui escrever pelas últimas duas semanas. Mas vamos lá!
Me sinto como Roberto Carlos... ”Eu tenho tanto pra lhe falar…”
Já começo dizendo: FELIZ DIA DAS MÃES!
Vocês merecem! Mãe é uma coisa sublime, inexplicável… Uma missão árdua, mas uma benção de Deus! Então parabéns pelo dia de vocês!
Falando em mãe, vamos começar pela mãe das economias, a maior de todas. Afinal, é o cachorro que abana o rabo, e não o contrário. Logo, o que acontece aqui nos EUA reverbera no mundo.
USA
Depois de uma miríade de bons números, a economia americana apresentou um dado que foi BEEEEMMM mais fraco.
O mercado esperava a criação de 978 mil empregos e o relatório reportou apenas 266 mil. Estaria a economia americana perdendo força?
Dando minha opinião, é cedo para falar. Uma justificativa para o número fraco é a dificuldade que alguns setores estão tendo para contratar. Logo, se não acham o profissional adequado para a posição, a empresa não contrata e isso afeta o número visto do payroll.
“I think this is just as much about a shortage in labor supply as it is about a shortage of labor demand,” essa foi a fala de Jason Furman, um economista da Universidade de Harvard e um conselheiro do governo na administração Obama – fonte.
Abrindo o dado podemos ver que a indústria e construção, dois importantes setores para economia e que empregam muita gente, tiveram impacto negativo nesse payroll. Nesses setores vemos a necessidade de trabalhadores mais especializados, corroborando o que comentei acima. Já nos segmentos de lazer e hospitalidade (hotéis, restaurantes, bares), normalmente posições menos especializadas, seguimos vendo forte ritmo de contratações.
O lado positivo de um payroll mais fraco foi o arrefecimento das discussões sobre aumento de juros. Se a economia não está tão aquecida assim, por que subir juros?
Aliás, a questão dos juros fez sangrar algumas ações de tecnologia ultimamente.
A queda das “empresas Tech” a meu ver reside na frase emitida pela secretária do tesouro, Jannet Yellen que disse: “Caso a economia continue se aquecendo como está, é possível que seja necessário aumentar os juros em algum momento” – fonte.
Nada fora do óbvio dentro da fala dela, mas a possibilidade de incremento de juros caiu mal no mercado e foi usado como justificativa para venda de algumas ações.
As ações de tecnologia têm grande parte do valor derivado do seu crescimento futuro – dos lucros e fluxos de caixa futuros trazidos a valor presente. Ora, se a taxa de desconto usada para trazer os fluxos de caixa futuros a valor presente aumenta, seria normal ver o valor justos das ações de tecnologia se reduzir, em especial daquelas que que são mais dependentes de futuro, ou seja, que ainda têm modelos de negócios não lucrativos ou que têm dificuldades para mostrar seu valor.
Não se desespere.
Quedas em ações são normais.
Umas mais que as outras. Derivam de “n” fatores. Pode haver fundamento por trás, mas também pode haver exagero do mercado. O post do Guide To Investing ajuda a exemplificar isso. Veja que interessante:
Não estou dizendo que sua ação vai subir, mas, como Warren Buffet ensina, o melhor amigo do investidor é o tempo.
Bolsa cara?
Muito da queda também pode ser relacionada a uma coisa: a bolsa americana está nas máximas e estamos em maio (gráfico abaixo de 10 anos do S&P)! Sell in may and go away? Tudo é motivo para realizar lucros!
Alguns pontuam que a bolsa está cara. Será mesmo? Vou colocar minhas ponderações e você pode tirar a sua própria conclusão.
Quanto mais a bolsa americana sobe, mais vemos aqueles comentários de que o mercado americano estaria muito caro e que não vale a pena investir na bolsa americana. Será?
(1) Partindo do pressuposto que investimos em negócios, e que esses são medidos de acordo com a sua capacidade de gerar lucros e dividendos para os seus acionistas, vemos que a margem de lucro das empresas do S&P 500 nunca foi tão alta. Será que a alta das ações não reflete simplesmente isso?
(2) Corroborando isso, a safra de balanços segue mostrando que as empresas têm conseguido surpreender positivamente as expectativas do mercado. Até agora 72% das empresas do S&P divulgaram seus resultados, sendo que 89% bateram as expectativas de lucros e 80% bateram estimativas de receitas. Tão importante quanto superar as estimativas é mostrar crescimento. Nesse sentido, os resultados mostraram crescimento de lucro de aproximadamente 45% e de 12% nas receitas – fonte. E lucros crescentes sustentam um maior pagamento de dividendos.
(3) Outros dois contrapontos a esse pensamento são (i) a economia americana está em franco crescimento e isso sustenta os mercados; (ii) temos políticas monetárias e fiscal também favoráveis ao mercado. Ora, qual é o desempenho da bolsa quando a economia cresce? Não há certeza sobre o futuro, mas o passado ensina certas coisas. Segundo Chen Zhao, o Chief Global Strategist da Alpine Macro, mais de 90% dos ganhos no índice S&P500 ocorreram quando o índice ISM Manufacuturing aumenta (tal qual vemos agora).
E não há nada pra comparar
Para poder lhe explicar
Como é grande o meu amor por você
BRASIL
Saindo de US chegamos em terras tupiniquins... Ah, meu Brasilzão que eu estou morrendo de saudade!
Nunca se esqueça, nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você
A performance recente da bolsa, a meu ver, foi só um catch up daquilo que tinha ficado para trás em comparação a outros emergentes. No gráfico de um ano fica quase imperceptível. Dá para ver que descolamentos acontecem, mas as coisas convergem. O desempenho da bolsa brasileira (verde) converge para a média do mercado emergente (vermelho).
Olhando com uma lupa, da para ver que de março para cá o Brasil performou melhor que a média.
A meu ver, totalmente relacionado à desaceleração do corona e a algum avanço na vacinação.
Mas, além disso, o mar está calmo!
Como já disse, bolsa americana nas máximas, VIX perto das mínimas desde o corona ano passado:
Índice das commodities nas máximas!
Com o mundo demandando muitos dos produtos vendidos pelo Brasil, e esses produtos ficando mais caros, é mais receita em dólar para o país e para algumas de nossas empresas. Isso fica claro na análise da balança comercial e ajuda a explicar o câmbio, a meu ver – me refiro à queda de 10% do dólar desde as máximas.
Em termos políticos temos sempre acontecimentos, mas me parece que também acalmou. Não ouço mais sobre impeachment ou queda do Guedes.
Ora, esse é um céu de brigadeiro para ações brasileiras! Mundo crescendo, commodities em alta, VIX nas mínimas, juros baixos e a necessidade de busca de por ativos de risco que gerem retornos! Não por acaso o dólar já cai mais de 10%! Essa é uma prova de aposta em Brasil!
Até onde vai isso? Não faço ideia, só estou fazendo uma leitura de cenário.
Mas salvo problemas no cenário externo e político, entendo que ponto chave para uma recuperação mais ampla da economia e que seja sentida em setores que não sejam apenas os de commodities é a vacinação, que permite a reabertura da economia.
Economia
Precisa vacinar e reabrir, até porque tivemos alguns dados que mostraram desaceleração.
A produção industrial segue crescendo, mas num ritmo menor.
E o setor de serviços também deu uma desacelerada.
E o ambiente ainda segue contaminando as expectativas dos consumidores.
Como corrigir isso? Simples. Assim como está sendo nos EUA, UK e outros países, a vacinação assume papel chave na reabertura da economia e, consequentemente, na melhora dos indicadores. O Brasil, em contexto global, está melhor do que diversos emergentes, mas pior do que EUA e Europa. Mas é interessante notar que vacinou mais em março e abril e as mortes e internações de idosos já desaceleraram bastante.
A partir da vacinação recente, o UBS faz a seguinte estimativa:
E seguindo esse pace, segundo o UBS, veríamos a atividade começar a retornar ao normal em outubro.
Using vaccination data from the same database—and assumptions that are more
conservative than the government’s—we expect a significant drop in hospitalizations,
ICU arrivals and deaths in Brazil from late May or early June, and activity will normalize
no later than October.
Mas como é grande o meu amor por você
E a Bolsa?
Bom a bolsa brasileira tem sido bem viesada, eu diria, refletindo essa realidade. Ou seja, você tem um setor de commodities indo muito bem e o resto indo mais ou menos.
Eu sei que o gráfico ficou meio confuso, mas a linha verde é o IBOV; a linha preta la em cima é o IMAT (que pega as commodities) a segunda linha mais alta é a roxa das Small caps. E o resto é: setor financeiro (laranja), setor elétrico (azul), consumo (rosa), imobiliário (marrom).
Ou seja, se você apostou em commodities, provavelmente sua carteira vai muito bem. Caso contrário, você não deve estar ganhando dinheiro esse ano….rs.
Mas, em linhas gerais, e até por conta das altas das commodities, o earnings yield da bolsa brasileira ainda está alto, mesmo depois das altas recentes da bolsa e dos juros (Selic). O gráfico abaixo mostra o quanto a mais em termos de yield as empresas do IBOV remuneram o investidor em comparação aos títulos de renda fixa.
E, olhando os múltiplos da bolsa brasileira, não da para dizer que está caro. Exemplo: Petrobras (SA:PETR4) e Vale (SA:VALE3) estariam em uma média histórica (primeiro gráfico). Adicionando Petrobras e Vale, a bolsa ficaria mais “barata” (segundo gráfico).
Será que o samba de uma nota só dura? As commodities têm sido destaque, mas é preciso vacinar e reabrir a economia para ter retornos menos concentrados e mais espalhados nos diferentes setores.
Bom, acho que era esse o meu recado.
Fico por aqui
Aquele abs!