AMARGO
Começo essa tônica meio amargo. Não temos mais futebol…ficar em casa é bom mas cansa…não dá para ir à praia…as pessoas andam deveras desconfiadas…e não há mais espaço para otimismo! Nos grupos de WhatsApp que participo, qualquer visão mais otimista é logo rechaçada, com “mas você viu o que sei lá quem falou sobre o PIB”, a clássica “não, mas essa crise é diferente”, ou, os mais em cima do muro, “não sairemos os mesmos, o mundo será diferente”.
AGORA É DIFERENTE
Não tenho resposta a essa questão, mas a história nos ensina certas coisas, por isso gosto de pesquisar sobre o passado. Acho que ainda voltarei a faculdade para estudar mais história. Enfim.
30 de setembro de 2008
Outubro 2008
Quem está com medo de investir por conta dos jornais, eu sugiro nunca investir. Melhor deixar o dinheiro na poupança mesmo.
2008 X 2020 A BATALHA DAS PIORES
Não há como como não comparar a atual crise com a última que tivemos. Eu vivi 2008 e me surpreende muita gente afirmando peremptoriamente que essa crise é pior do que a 2008. Para mim, não há como afirmar que essa crise será maior!
Pode até ser, mas lembro bem que, em 2008, o medo diário era: qual banco irá quebrar? Como o sistema financeiro reagirá a tudo isso? Sem os países desenvolvidos comprando a China vai vender para quem suas bugigangas? O dólar já era, mas qual será a moeda? O que o FED pode fazer? Juro a zero, existe isso? Desemprego na Europa foi a níveis recordes, bancos europeus quebraram, países endividados... EUA e Europa tinham e têm uma relevância gigante no consumo e no PIB do mundo - com eles quebrados, como seria o pós crise? O mundo parecia acabar! O sistema capitalista parecia ter falhado duramente e deveria ser revisto! Essa eram discussões da época.
Desemprego. A Crise de 2008 gerou 10 milhões de desempregados nos EUA e jogou a taxa de desemprego para 10%.
A crise atual jogou o desemprego para 4,4%, sendo que grande esmagadora maioria dos empregos é da chamada GIG economy (entenda) - o famoso “bico”. É tipo o motorista de Uber, o freelancer, o garçom... Esse cara já esta desempregado. É cedo para dizer que para por aí, mas em 2008 o desemprego vinha de bancos, indústrias e muito do potente e importante setor imobiliário. Eram grandes nomes que desmoronavam. Nessa crise atual, grandes indústrias e bancos ainda não foram afetados. Alguns setores inclusive estão contratando pessoas.
PIB. Em 2008 os EUA tiveram uma forte contração de PIB que foi sendo sentida por meses. Para ser exato, foram 4 trimestres de contração econômica. E, ao todo, a crise trouxe seus efeitos por pelo menos 18 meses.
Essa crise tem tudo para ser mais severa em termos de PIB… em 1 trimestre, ou quem sabe 2? EUA está parado há cerca de 1 mês. Será que ficará fechado por mais 6 meses? Ninguém sabe. Meu ponto aqui é: não há como afirmar que essa crise é pior que a de 2008. Veja que essa é uma crise de demanda. Empresas não estão investindo e os consumidores não estão gastando, porque não podem, basicamente! Desaceleração de demanda gera recuperações mais rápidas. Por exemplo, em 2008, os bancos não tinham condição de emprestar e fazer a economia rodar. Hoje esse ainda não é o caso.
Endividamento das famílias. Em 2008, as famílias se encontravam significativamente mais endividadas do que atualmente. Isso quer dizer o quê? Que a máquina de consumo americana estava quebrada e que iria levar tempo até ser consertada! Com consumidores alavancados e bancos sem ter condições de emprestar, como a economia iria se recuperar? Esse não é o problema hoje, pois o endividamento é menor e os bancos ainda parecem em condições de emprestar.
Inadimplência. Em 2008 muita gente quebrou e o cara que não tinha como pagar simplesmente perdia seu imóvel. "Não teve arrego”! Ia morar num motor home! O banco, por sua vez, via-se com um monte de casas que ninguém queria comprar, sem liquidez e correndo risco de quebrar! Atualmente o que temos? Você que tem sua mortgage não precisa pagar…aluguel? Relaxa, waiver de alguns meses…fora isso o governo distribuindo dinheiro. A mim parece diferente.
Pacotes de Socorro. Outro ponto é que os atuais pacotes de socorro econômico têm sido sensivelmente maiores que 2008. O gráfico abaixo compara os pacotes com o PIB de cada país. O pacote americano atualmente é 2x maior, o Inglês, 10x (talvez com medo do Brexit), o alemão, 5x maior.
Opinião Pública. E o que dizer da opinião pública? Não havia consenso algum! Críticas e mais críticas ao salvamento de bancos. Governos e o dinheiro público sendo usado para salvar e resgatar bancos e banqueiros milionários? Esse era o dilema com que as autoridades tinham que lidar diariamente. Quem lembra do movimento “Ocupy Wall Street“? O povo puto com seu dinheiro sendo dragado para algo que eles nem sequer entendiam?! E hoje? US$ 2 trilhões foram aprovados em recursos destinados a pessoas e pequenas empresas. Pouca crítica. Parece haver um consenso da necessidade. Afinal de contas, é uma questão de saúde, não é? Ajuda aos velhinhos, máscaras, luvas… Me parece haver muito maior conscientização sobre essa crise e isso facilita muito na hora de chegar a uma solução.
Solução? Fora isso, quem entende o que é uma crise de confiança no sistema bancário mundial? Ninguém! Eu recém estava saindo da faculdade de economia e não achei a solução nos meus livros! A crise atual é de demanda. O governo injeta dinheiro para tentar ajudar e depois discute o risco/custo econômico/social de abrir a economia tomando os devidos cuidados para com os vulneráveis. Não estou dizendo que é uma solução fácil, não existe isso. Mas parece haver alternativas.
MAIS UMA COISA…
Ninguém sabe de fato sobre o futuro, então, em momentos de maior incerteza, abre-se espaço para especulações diversas. Muitos previam que o dólar não seria mais moeda de reserva pós 2008; ou que os EUA não seriam mais potência; ou que o sistema bancário americano não seria mais crível; ou que os países desenvolvidos como um todo teriam um papel de coadjuvante na economia mundial, pois foram mais afetados, e tinha a questão do endividamento dos países europeus. Sabe o quanto dessas previsões se tornaram realidade?
Se você quiser se aprofundar ou mesmo dar umas risadas, veja uma lista de previsões furadas acerca da economia ao longo da história.
12 of the worst economic predictions ever made by highly intelligent people
PORQUE ESCREVI TUDO ISSO
Número 1:
Para ressaltar minha ignorância e total incapacidade de prever o que vai acontecer. Justamente por não saber eu não afirmo nada sobre ser maior ou não.
Número 2:
Porque na crise de 2008, da máxima à mínima o S&P se desvalorizou 56% e o IBOV, 57%. No mesmo período, o dólar saltou 61% em menos de 5 meses. Até aqui, o dólar se valorizou 32% (em 2020), o IBOV caiu 42% e o S&P, 27%. Então temos 3 possibilidades
(i) Se essa crise é pior… Se você acredita que essa crise é pior que a de 2008, então você imagina que o S&P, que hoje é composto majoritariamente por empresas do setor de tecnologia (Google (NASDAQ:GOOGL), Microsoft (NASDAQ:MSFT), Facebook, Intel…) e menos exposta a essa crise, venha a cair mais de 29%, lá para os 1700 pontos! O IBOV, por sua vez, deveria cair pelo menos mais 15% e ir abaixo dos 60 mil pontos. Ah, e o dólar deve ir para cima de R$ 6,4 (~60% de alta ante o fechamento de 2019). Se isso é o que você acredite, compre dólar a R$ 5.34 e opere vendido em ambas as bolsas .Tem um bom espaço ainda, não?
(ii) Se essa crise é igual… Se você acredita que o impacto dessa crise para os mercados será igual ao de 2008, me parece que o que comentei acima também se aplica.
(iii) Eliseu fez um PUTA post sobre “prever crises”…se não leu acesse! Se você acredita que essa crise não será tão impactante quanto 2008, ou se você, assim como eu, não acha nada, me parece que faça sentido você seguir investindo seu dinheiro. Sabendo que essa, assim como outras crises do passado, PASSARÁ!
Era isso.
Aquele Abs.