Senhoras e senhores, hoje é meu aniversário. Há alguns anos, na década de 1980, eu vinha a esse mundo. Dias como o de hoje sempre te fazem pensar na vida. O Bugg é parte importante, ainda que seja um projeto paralelo ao meu trabalho. Dá trabalho, mas é algo que estimo muito: a ideia de legado e deixar algo de valor, fazer algo para ajudar as pessoas com o conhecimento que adquiri ao longo de alguns anos de estudo e vivência no mercado. E o mais legal é hoje poder contar com outras pessoas, como Eliseu, Breno e Jonas nesse projeto totalmente voluntário. Enfim, desfrutem!
ELEIÇÕES NOS EUA
Começo pelo assunto do momento e que tem permeado o dia dia de mercado. Estou aqui nos EUA, e o ambiente é de campanha. Vemos por aqui carreatas, pôsteres, adesivos dos candidatos e outras representações de apoio e suporte ao seu candidato. Nas pesquisas, Biden lidera (link para as últimas pesquisas) por estado e nacionalmente.
E, na sexta-feira, após o conturbado debate, fomos surpreendido com a notícia de que Trump contraiu a Covid-19, algo certamente ruim para a sua campanha. Não por acaso, em apenas dois dias ele entrou e saiu do hospital, além de fazer alguns vídeos mostrando que está bem e se recuperando. Sem dúvida, esse fator “eleições nos EUA” adiciona um componente de volatilidade e incerteza no curto prazo.
Mas deixe-me expor o que penso a respeito:
Penso que as pessoas e a mídia tendem a polarizar as disputas, a criar cenários de 8 a 80 para justificar suas preferências políticas, ou mesmo para atrair leads e leitores (no caso da mídia). As pessoas tendem a assumir promessas de campanha como verdades absolutas e inequívocas e colar isso nos preços como se aquilo já fosse verdade. Pessoas superestimam as propostas dos candidatos, a meu ver. Veja, por exemplo, o que se falava de Trump. Ele não construiu um muro para separar EUA e México, não destruiu a economia norte-americana, não isolou os EUA, não rompeu totalmente com a China e não entrou em guerra efetiva com ninguém! Ele também não salvou a indústria americana, não resolveu o problema do déficit comercial com a China, não resolveu as deficiências de infraestrutura dos EUA. Enfim, argumentos dos dois lados mostrando que “a vida real não é bem assim”. Promessas de campanha, em sua grande maioria, não se tornam realidade. Logo, elas não deveriam tirar seu sono e nem definir sua carteira.
Pra corroborar essa ideia, dê uma olhada nesses dois gráficos. A ideia aqui é mostrar que, ao menos nos EUA, a política não tem todo esse poder, e que, independente do presidente, as empresas continuaram a gerar retornos de longo prazo para os investidores (fonte).:
E a evolução dos mesmos US$10.000 ao longo de governos de diferentes presidentes, sejam eles republicanos ou democratas.
O resumo ou recado nesse sentido é: foque na sua carteira, que é algo que você controla. Foque nas empresas que você investe, independente de quem será o inquilino da Casa Branca nos próximos quatro anos!
ECONOMIA POR AÍ…
A despeito de tudo que ouvimos, notícias, manchetes, comentários aqui e acolá, projeções e profecias econômicas, mais e mais receios com um avanço do corona, a verdade é que a economia tem se recuperado! O gráfico abaixo pode parecer confuso, mas mostra uma única coisa: em maior ou menor medida, diferentes vertentes da economia vieram se recuperando ao longo dos últimos meses, voltando ao “normal”, ou ao “novo normal”.
Nos EUA não tem sido diferente. Façam o seguinte exercício: abram o Investing.com no calendário e selecionem para ver apenas os dados que foram divulgados a respeito da economia americana nos últimos dias. Os mais importantes. Eu fiz isso. Dê uma olhada nesse link. Grande parte dos indicadores tem surpreendido pela ponta positiva. Pra não ficar enfadonho, um resumo:
- O PIB do segundo trimestre mostrou contração de 31,4% – um número que assusta, mas que se mostrou melhor que o esperado pelo mercado -31.7%. Fonte.
- A criação de empregos no setor privado surpreendeu positivamente. Foram criados 749 mil empregos em setembro ante 650 mil esperados pelo mercado. A taxa de desemprego se reduziu de 8,4% para 7,9% e se mostrou melhor que os 8,2% esperados pelo mercado. Fonte.
- A confiança do consumidor segue se recuperando saindo de 86,3 para 101,8 em setembro. Fonte.
- Os dados do mercado imobiliário mostram que ele segue aquecido. Foram vendidas mais de 1 milhão de novas moradias em agosto, um recorde. As vendas de casas usadas e as vendas pendentes também têm demostrado força (fonte), assim como os pedidos por novas hipotecas, que seguem em patamares elevados quando comparados a outros anos (fonte).
- O dado divulgado dia 1º de outubro pela IHS Markit a respeito da atividade da indústria mostrou uma nítida melhoria nas condições operacionais no setor manufatureiro americano – o gráfico abaixo ajuda a ver isso. Um crescimento geral apoiado por uma expansão mais rápida da produção e um sólido aumento de novos pedidos (fonte).
Isso, a meu ver, é uma prova inegável de que aquela ideia de recuperação em “L” ou em “U” não passava de pessimismo embalado de análise econômica! Se vamos ver um “W” eu não sei dizer, alguns falam num “K”, com setores vencedores e outros que morrem, sendo por exemplo o setor de petróleo, varejo tradicional e bancos os modelos “mor” dessa teoria. Pode até ser, mas os economistas e o mercado sempre tendem a perpetuar o momento, como se “agora fosse diferente”, então sou sempre meio reticente em aceitar essas grande quebra de paradigmas, ainda que seja inegável que venha acontecendo.
CORONA FEZ PICO?
Gostaria de poder afirmar que sim, mas não há como dizer. Mas olhe o gráfico abaixo, que compila os dados do coronavírus no mundo, e mostra que, apesar do crescimento do número de casos recentes, talvez o pico já tenha acontecido. Não sei se estou sendo muito torcedor.
E o gráfico do Bacen mostrando que o número de mortes também parece arrefecer.
No mais, é seguir orando pela vacina – a meu ver, essa é a única forma de afastarmos esse fantasma.
NO BRASIL
No Brasil temos visto algo semelhante: uma recuperação da economia junto com um ruído político que atrapalha qualquer análise. Mas, sobre a economia, veja esses dois gráficos do BTG Pactual Digital mostrando melhora em diferentes vertentes – algo que já tinha comentado aqui quase um mês atrás (confere).
E o PMI, que mostra que somos o emergente que tem se recuperado de forma mais intensa!
Inclusive, participo de alguns grupos de WhatsApp, e o pessoal andou fazendo umas pesquisas empíricas nos shoppings no Brasil… Aparentemente há muita coisa cheia, muita loja cheia. Pode parecer uma análise simplista, mas é no mínimo interessante.
O problema é que no Brasil o ruído político é parece britadeira, operando sem parar do ladinho do seu ouvido!
O problema do Brasil atual (ou melhor, o maior problema) é de cunho fiscal... endividamento alto em relação ao PIB concomitante a um resultado de contas públicas que não fecham e rodam em déficit – vide gráfico abaixo. Um orçamento engessado que te dá pouco espaço de manobra.
A reforma da previdência já atenuou isso, mas aí veio o coronavírus e bagunçou bastante as coisas. O problema desse cenário de endividamento alto e déficit é que o financiamento tende a ficar mais caro no longo prazo… Não é possível manter isso financiando dívida com 2% de juro ao ano como na Selic atual. Fora isso, toda e qualquer declaração que afete a percepção dos agentes de que não há um real comprometimento em ajustar isso gera um estresse que o resultado já sabemos.
Não por acaso a curva de juros de 10 anos veio subindo. Juros de 2% a.a.? Não é isso que a curva de longo prazo nos diz!
Essa escalada do juro longo a meu ver trouxe impacto negativo. A bolsa é longo prazo e, se os juros sobem, lá na frente o investimento em renda variável fica menos atrativo. A lógica clássica do juro para cima, bolsa para baixo. Olhando no relativo é ainda mais impressionante!
E o outro impacto óbvio é no câmbio… enquanto o dólar perdia força no mundo, ele seguiu se valorizando contra o real (vide gráfico). Isso vale até final de agosto. Aí, quando parecia que teríamos um ajuste, o dólar volta a se valorizar no mundo, e ainda mais contra o real.
Deixamos de ser um canarinho e viramos o patinho feio do mundo.
A underperformance recente tem a ver com esse ruído que comentei acima. Algo sério e que preocupa. No entanto, há certas coisas que em termos de valuation ficam absurdas, a meu ver. Minha carteira tem 35% alocada em bancos que me parecem deveras baratos – dê uma olhada nesse gráfico do Bofa.
- Setor de properties, shoppings e até construção me parecem bons para estudo e busca de oportunidades.
- Saneamento, infraestrutura e elétricos são bons ativos para balancear carteira… oferecem bom yield e estabilidade de fluxo de caixa e, com a economia retomando, a demanda por energia aumenta.
- As empresas industriais podem surpreender a muitos, dado que os números do setor têm se mostrado bons.
- Não tenho nada de varejo, mas penso que há espaço, especialmente vendo a recuperação em curso.
- Não tenho nada de frigoríferos… Me parece um trade crowdeado, que todo mundo tem, ainda que de fato as empresas venham vendendo e faturando muito bem, além de oferecerem um certo “hedge” para o dólar.
Fico por aqui. chegou o café da manhã surpresa que minha mulher preparou para mim… sorry… me voy!
Era isso.
Aquele Abs.