Nasci nos anos 1980. Tenho escutado músicas da década de 80 e sou nostálgico em relação aos filmes, programas e tudo mais da TV dos anos 1980.
Em vez dos cavalinhos do Tadeu Schimit nos gols do Fantástico, tínhamos a zebrinha! Não estou falando que era melhor, apenas pontuando que era diferente. A lógica da zebrinha tinha a ver com a Loteria Esportiva, um ancestral do cartola - bem mais simples, mas a lógica era a mesma: apostar em quem ganharia ou perderia, quantos gols etc. Quando saía algum resultado inesperado, era a zebra!
DEU ZEBRA NA ECONOMIA?
Então: no mercado há algo chamado Boletim Focus, que mostra o consenso do mercado a respeito de alguns indicadores macroeconômicos. Essa é a foto da segunda-feira passada:
Basicamente, é uma métrica para medir o quanto nós, economistas, erramos. Mal começou o ano e parece que surgem algumas zebras….
Sem sobra de dúvidas, o coronavírus é a Zebra do ano. Algumas projeções acerca do impacto estão sendo feitas, mas eu acho pouco válidas porque ainda não se sabe quando o vírus deixará de ter impacto na economia. Essa semana, participei de uma conferência organizada pelo UBS com médicos, alguns entendidos em China. Eles comentaram duas coisas que fazem sentido:
Eles embasaram bem suas opiniões e foge ao escopo dessa tônica comentar, mas o fato preponderante é que parte relevante da China está parada e talvez não retorne ao normal tão rapidamente. Matéria da Bloomberg:
“Don’t Expect China to Rebound Quickly From Coronavirus
Cascading spillovers in trade, supply and demand, and the movement of goods are difficult to reverse rapidly.”
A China responde por mais de 35% do crescimento do mundo, então haverá impacto econômico. Mesmo com injeção de recursos pelo BC chinês, haverá impacto, e isso não é bom para o Brasil, que tem na China um importante parceiro comercial.
Fora isso, os últimos dados da industria decepcionaram, com a produção industrial mostrando queda pelo segundo mês consecutivo.
Os gastos em bens de capital também arrefeceram, decepcionando a todos.
Nos dados acima, não deu tempo de medir o impacto do corona. Acho mesmo que ainda é bem cedo para falar, mas o impacto de uma China parada para o nosso crescimento é sim temerário.
ZEBRA PARA O LONGO PRAZO
Apesar de ser um eterno otimista, não sou sem noção! Tenho consciência de certas coisas: uma delas é que o Brasil possui um talento em nos decepcionar! Fora isso, olhando para o longo prazo, algumas coisas fundamentais precisam ser endereçadas para termos um crescimento sustentado de longo prazo. A thread do twitter abaixo é muito boa! Ela compara o Brasil com o México, levantando a questão de que somente acertar as contas públicas não garante crescimento sustentado de longo prazo….triste verdade. Confira:
Leonardo Siqueira@leosiqueirabr
"Agora que os juros estão na mínima histórica de 4,25%, inflação ~3,50% e a dívida está se estabilizando, o BRASIL vai decolar".
Quem acha isso SUFICIENTE talvez não saiba que, em 2002, o México passou pelo mesmo processo que o Brasil está passando. E NÃO DECOLOU...
Por que?
ZEBRA NAS COMMODITIES?
O coronavírus pode não ter se espalhado pelo mundo (graças a Deus!), mas no mercado já se espalhou. Ao menos nas commodities está claro que já fez preço! Abaixo, a comparação das commodities com o S&P e os emergentes:
Terminamos o ano com a China e os EUA fechando o acordo e o mundo acreditando que veríamos a volta do crescimento e o preço as commodities lá em cima. Já deu zebra! Mas, particularmente em relação ao petróleo, sou comprador a esses preços. Sempre posso estar errado, mas entendo que a assimetria está interessante.
ZEBRA NO CÂMBIO?
Dólar a R$ 4,32! Pode isso Arnaldo?! Acredito que essa já seja uma baita zebra, não?! Durante a eleição em 2018, lembro de falarem de câmbio a R$ 3,00! Depois que passou a reforma da previdência, voltaram a falar em R$ 3,75 ou até R$ 3,50…e cá estamos. Olhe o gráfico. Grafistas dirão que rompeu resistência e que vai subir mais…vai saber?!
O Paulo Guedes já tinha dado o recado, um tempo atrás, quando disse que o novo normal seria “juro baixo e dólar alto”. Dito e feito! Agora ele ataca de novo chamando os especuladores para a briga. Que homem!
Vitor Péricles@VPCRelator
"Pode vim! Pode especular contra! Não tem problema nenhum!"
Profético...@JuMagalhaesBH @CSLupinacci @lmn128
Gringo não para de tirar recursos da bolsa e o fluxo de recursos tem sido bem negativo no Brasil (mais dinheiro saindo que entrando), como mostrado no gráfico abaixo. Se liga na área em azul:
Junto a isso, o juro baixo retira a velha âncora cambial que controlava a inflação. Não é problema pois, como comento mais abaixo, a inflação tem surpreendido pela ponta positiva. Então sem os juros…
O que motivaria o câmbio a voltar a cair?
- Eventualmente, os especuladores voltarem a apostar no Real ou, ainda, reduzirem posições vendidas.
Os dois primeiros motivos levam tempo, logo fica difícil ver, no curto prazo, esse câmbio voltando a R$ 4,00. Enquanto isso, o coronavírus vem parando a China e, por consequência, enfraquecendo as commodities e fortalecendo o dólar. Not good! Mas entendo que a fraca performance do real já antecipou um pouco esse cenário.
ZEBRA NOS JUROS E INFLAÇÃO
Tivemos uma baita zebra na inflação nessa semana que passou. Quem viu?
O IPCA subiu 0,21% na passagem de dezembro para janeiro, no nível mais baixo para o mês desde 1994.
Com isso, vimos os juros darem outro mergulho. Abaixo, a curva para um ano:
Por que isso é importante?
Falo dela porque, com inflação tão abaixo do esperado, será que não tem espaço para mais um corte de juros? Quem sabe acabar o ano com um juro de 4%?! Junto a isso, tem a economia tendo dificuldades para engrenar por conta do impacto econômico do coronavírus... quem duvida é louco! Não é o consenso e por isso mesmo merece atenção.
ZEBRA NA BOLSA?
Vire essa boca para lá!
Sou totalmente viesado porque tenho muito do meu patrimônio em bolsa. Minha opinião é a de que há sim espaço para realização, mas que não teremos zebra no ano, e a bolsa irá sim subir um bocado.
Mas…
Considerando o que falei no início, sobre um crescimento falho e uma intensificação do coronavírus, não seria absurdo que acontecesse. Inclusive, para o Credit Suisse a Bolsa brasileira caiu 5 posições em um ranking global de atratividade entre os mercados emergentes.
O documento considera o valuation (média das avaliações do banco com os preços das ações), sentimento de mercado (desempenho recente contra o de longo prazo) e momentum (mudanças de recomendações do mercado).
Seguimos na torcida do tradicional na bolsa. Nada de zebra, por favor!
Era isso.
Aquele Abs.