O PATINHO FEIO
Semana passada comentei que deixamos de ser o canarinho para virar o patinho feio do mercado… pois veja que do dia 24 de setembro os mercados começaram a perceber uma recuperação, no S&P de cerca de 7,8%
E nos emergentes, de forma agregada, cerca de 7,89%.
Já no Brasil a dinâmica foi meio “peculiar”. A mínima recente do Ibov se deu alguns dias depois do dia 24 e, mesmo desde as mínimas recentes, a alta percebida foi quase metade do resto do mundo… uma performance digna de patinho feio.
Quando colocamos a performance dolarizada do Ibov temos uma noção ainda melhor disso. Obviamente, parta superrelevante desse movimento foi o câmbio. Mas no mínimo chama atenção!
OS MESMOS PROBLEMAS
E o que explica isso? A música dos “Garotos da Rua” ajuda a entender:
Os mesmos problemas
Lá em casa continuam
Me perturbando
Me enchendo o saco
Sim, continuamos com os mesmos problemas! Quando o atual governo se elegeu só se falava da necessidade de uma reforma da previdência que nos ajudasse a sair de um crescimento perigoso do gasto público no futuro. O problema é que o fantasma fiscal segue nos assombrando! Compartilhei esses dois gráficos na semana passada, mas eles ajudam a entender:
Apesar da reforma da previdência, tivemos um corona que abriu a porta para mais gastos. Na semana que passou, a Carta da Verde Asset chamou atenção disso. A leitura do gráfico seria a seguinte: somos endividados e irresponsáveis? É o que parece. Apesar do endividamento alto, resolvemos gastar…
O problema de tudo isso é que transparece para o mercado um certo flerte com a irresponsabilidade! Comentários e declarações de uma possibilidade de contabilidade criativa ou de um furo de teto servem para uma coisa: puxar os juros futuros para cima, o que acaba batendo na bolsa.
Não sei quantos de vocês acompanham o mercado em bases diárias, mas é isso que explica vermos movimentos bem extremos no mercado de DI (juros). Aparentemente “do nada” vemos os DIs dispararem… É a ideia da porta estreita. Com muitos fundos posicionados nisso, uma mudança de humor ou de cabeça acaba gerando correria. Como juros e bolsa se relacionam, em dias como esses a bolsa sofre. Mas o cerne desses movimentos acontece de fato na percepção dos agentes com a solvência e responsabilidade fiscal do país.
Quando vamos ver isso mudar?
Talvez nunca…faz parte de quem somos. Como nação ainda com um contingente muito grande de pobres as ideias populistas de uso do tal dinheiro público sempre acabam retornando. Mas tenho fé que um dia veremos, em vez de um “Renda Cidadã” um “Redução de gatos do governo cidadã”. Ps: não sou contra o programa social.
APESAR DOS PESARES…
Mas, do lado da economia, sigo vendo números e indicadores que apontam para uma melhora. Mais lenta no importante setor de serviços, é verdade, mas ainda assim uma recuperação. Veja que o BofA recentemente revisou sua projeção de PIB de -4.9% no ano para -4%, comentando inclusive que vê PIB positivo no 3T!
Sim, parte dessa recuperação se deve ao subsidio dado pelo governo. A renda extra que entrou e movimentou especialmente o varejo… Mas o setor de serviços que emprega muita gente parece começar a se mexer também, de acordo como o último dado da Markit (fonte).
O que penso:
Na economia temos mostrado melhora, mas na questão fiscal/populistmo/política não há o que dizer. Somos essa confusão aí. Apesar dos pesares, sigo otimista, calcado na recuperação externa dos mercados e na melhora dos dados econômicos. A bolsa brasileira ficou exageradamente para trás. Vejo coisas realmente muito baratas e atrasadas em relação ao resto do mundo. Acho a queda do real igualmente exagerada frente o dólar. Nos juros já deu pra ver que Selic não tende a ficar no patamar que está por muito tempo… a menos que arrumemos a casa.
NOS EUA
Aqui na América vivemos o clima de campanha. Isso tem tomado conta do noticiário dia a dia e, consequentemente, do mercado! Muito se fala de uma “carteira para vitória do Biden” ou uma “carteira Trump”… Não sou muito fã dessas ideias. Elas servem mais para quem gosta de especular, ou uma aposta de curto prazo. Penso que, na prática, você deve ter uma carteira balanceada independentemente de quem ganhar, até porque as promessas de campanha nem sempre se tornam realidade. Ainda assim, o Eliseu fez algo nesse sentido para quem tiver interesse: Impactos das eleições americanas, setores ganhadores.
Veja que interessante esse gráfico das apostas na eleição de Trump. Uma dinâmica igual a que vimos em 2016 quando ele surpreendeu a todos e acabou eleito! (gráfico lá do meu Twitter).
O que isso quer dizer?
A meu ver, apenas uma coisa: que a eleição está totalmente aberta!
Fora isso, nunca sabemos de fato qual é o impacto do mandato sobre determinados setores e empresas. Promessas de campanha são diferentes de realidade!
Hoje muito se fala (eu mesmo já comentei isso) sobre o possível impacto sobre a tributação advindo de uma vitória de Joe Biden. Mas veja que interessante esse estudo do JP Morgan que mostra que, se os democratas conseguirem um “sweep” vencendo câmara e senado e, consequentemente, tendo caminho mais aberto para mudança de tributação aumentando os impostos sobre ganhos de capital, é improvável que isso cause mais do que apenas uma uma queda temporária no mercado de ações dos EUA. Eles trazem como exemplos 1987 e 2013, quando o aumento de impostos sobre ganhos de capital foi superado passadas algumas semanas. Normalmente o mercado obviamente antecipa. Mesmo assim não se poderia dizer ou estimar um efeito prolongado. Segundo o estrategista do JP, Mr. Nikolaos Panigirtzoglou:
“Longer term, we see little impact from a prospective capital gains tax rate increase on risk taking and investors’ attitude toward equities as an asset class, given the current low yield and high equity risk-premium environment,” (fonte)
Já temos visto uma recuperação no mercado americano (tal qual mostrei no início dessa tônica) e isso mesmo considerando que o fluxo para investimento em ações tende a ser menor em anos eleitorais…dá uma olhada no gráfico abaixo que compara o fluxo em anos eleitorais desde 2004 (fonte). 2020 em tese tem sido ainda pior. Mas, passada a eleição, teremos novas máximas?
No mais, seguimos envoltos nas discussões sobre ter ou não ter um novo pacote de estímulos à economia. Com a eleição se aproximando, eu sigo achando pouco provável que algo saia antes do dia 3 de novembro.
Mas, segundo o Morgan Stanley (NYSE:MS), os americanos (cidadãos) estão com um bom colchão de liquidez… algo como US$ 1,1 trilhão nas contas.
Dinheiro esse que pode ajudar na recuperação da economia com ou sem pacote! Abaixo, gráfico publicado no Wall Street Journal a respeito disso. O que fica é a estimativa de melhora para o PIB do próximo trimestre com ou sem estímulos.
E, corroborando com isso, o mercado de trabalho segue melhorando, mostrando uma evolução saudável com a redução do nível de desemprego.
Enfim, as coisas seguem bem por aqui. Não por acaso o mercado de ações segue uma toada de recuperação após o estresse recente advindo dos derivativos, que comentei aqui, lembram?
Never Bet Against America?
Era isso.
Aquele Abs.