Certamente essa foi uma das eleições presidenciais americanas em que o mundo mais deu atenção da história. Foram mais de 140 milhões de votos, sendo o ex vice-presidente Biden o presidente eleito com o maior número de votos da história. A escolha do presidente nos Estados Unidos é um pouco diferente do que estamos acostumados. Aqui, (moro nos Estados Unidos desde 2016) os votos dos delegados têm um peso muito grande, sendo eles que decidem o rumo dos Estados Unidos. O mundo, assim como o Brasil não é uma ilha, sendo assim, tudo o que ocorre gera reflexos para o Brasil.
Mas e como devemos investir, visando lucros máximos para os próximos quatro anos?
Lendo as propostas que foram feitas na campanha pelo Biden, podemos fazer um resumo do que tende a ocorrer para os próximos anos e os setores que tendem a ser mais privilegiados.
1) Gastos por parte do Governo Americano e impressão de dólares
Os incentivos do Governo Trump tendem a continuar no Governo Biden. Impressão de dólares pelo Fed e o seu atual presidente, Jerome Powell, tendem a desvalorizar o dólar, trazendo como consequências, a valorização de ativos reais, como propriedades, áreas de terra, shopping centers, e ativos que têm finitude, como exemplo, o Bitcoin (há um limite de 21 milhões de unidades de bitcoin e que eu não invisto pela dificuldade de se fazer uma avaliação de quanto vale um bitcoin, hipoteticamente), ouro (que serve mais como proteção em tempos de crise, mas que não tem valor intangível como os ativos comentados anteriormente). Há rumores de que a alta dívida dos estudantes americanos (que muitos acreditam, onde iniciará a próxima bolha) será perdoada em grande parte.
2) Maior abertura econômica dos Estados Unidos
Biden quer “reabrir” a economia americana e fazer mais acordos. Enquanto Trump tinha um perfil mais nacionalista e protecionista, focando em trazer empresas que estavam fora dos Estados Unidos de volta para a Terra Natal, Biden possui um perfil de realizar maiores acordos, por exemplo, com a China, favorecendo o aumento das trocas comerciais entre os países, inclusive o Brasil. Isso tende a favorecer o crescimento dos Estados Unidos e é visto como algo positivo para o comércio internacional. Brasil e mercados emergentes também tendem a ser favorecidos.
3) Aumento de impostos
São esperados aumentos de impostos por parte do Governo Biden. Hoje, a alíquota média de impostos para empresas nos Estados Unidos é de 21% e tende a ser elevada para 28-29%, o que traria uma queda, segundo estudos, de cerca de 12% nas ações americanas.
4) Legalização da maconha
O Partido Democrata tende a legalizar a maconha como uso por todo o País, entrando em acordo com a legislação dos Estados Americanos para aprovação nos estados que ainda não é permitida. Ações ligadas à produção e consumo da maconha tiveram uma alta forte nos últimos dias e podem ser beneficiadas, caso isso venha a acontecer.
5) Incentivo para energias alternativas
Há a tendência de incentivos para veículos elétricos, sendo a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34), um dos beneficiários. Falarei sobre a Tesla e o seu valor adiante. Outro término é a diminuição do fracking, que consiste na retirada de petróleo do subsolo. Estados como o Texas teriam a perder com isso, teríamos uma diminuição na produção de petróleo, consequentemente, teríamos um menor estoque, o que poderia elevar o seu preço no curto prazo.
Segue um resumo abaixo dos setores que podem ser mais privilegiados:
Ser teimoso ao investir ou não ser, eis a questão?
Ferdinando, o touro mais conhecido entre os personagens da história tem como característica fazer totalmente ao contrário do que a maioria espera o que faça um touro, mas mesmo assim ele é um dos personagens mais conhecidos da história. Um touro é reconhecido por sua valentia e coragem. Ferdinando preferia a natureza, a paz e o status quo, algo totalmente diferente do que se espera de um touro.
Investidores em valor, que focam em avaliar empresas pelo método tradicional, via fluxo de caixa, usando valuation ou comparativo de múltiplos, certamente estão sentindo-se como um Ferdinando nos tempos atuais. Confesso que tenho um pouco do Touro Ferdinando, na parte de ser teimoso e muitas vezes contrário do que a maioria dos investidores pensa. Já comentei aqui sobre a grande entrada de pessoas físicas na bolsa de valores brasileira e mundial.
Muitos desses investidores mesmo sendo um peso grande na hora de investir (são mais de 3 milhões de pessoas físicas, sendo que o número dobrou do ano passado para hoje) estão ingressando no mercado e focando sua atenção em youtubers (nada contra, tenho vários amigos que são e que geram um grande valor em termos de informação) que muitas vezes não têm tempo de preparar conteúdo e avaliar empresas. Nota-se uma relação entre vídeos lançados comentando sobre empresas que estariam atrativas e a alta no preço dessas ações.
Dado o movimento de curto prazo de alta, muitos desses investidores começam a acreditar que acertaram o Santo Graal, quando na verdade muitos desses movimentos de curto prazo apenas os tiraram do caminho mais correto da forma de investir: estudar empresas, procurar estudar fontes primárias de informação (dados das próprias empresas que investem e serviço de Relações com Investidores dessas empresas) e complementares, como relatórios de casas de research, de bancos de investimentos, sendo complementos do dever de casa de ter estudado o que os administradores dizem sobre a empresa que o investidor aloca o seu capital.
Comparamos nosso dinheiro na hora de comprar um ar condicionado, uma televisão, mas a maioria de nós nem sequer sabe quanto lucrou a empresa que investiu 20% do dinheiro que alocou pensando na aposentadoria. Há um longo trabalho a ser feito com esses novos investidores que entraram no mercado recentemente, ajudando-os a investir de maneira consciente, ao menos com noções entre a diferença de preço e valor.
Valor x Crescimento
Duas das escolas de investimento mais tradicionais, a escola de investimentos em valor e a escola baseada em empresas Growth (crescimento), nesse ano de 2020 estão com uma das maiores discrepâncias dos últimos 2o anos, vistas em período conhecido como a “bolha.com”. Além disso, os mercados emergentes (O Brasil inclui-se) estão com valuations extremamente depreciados. O mercado é compostos por ciclos, tivemos o período 2002 a 2008, em que tivemos um boom nas commodities e em mercados emergentes. Entre os anos 2010 e 2020, tivemos empresas ligadas ao termo tech, como as que mais subiram. Hoje novamente estamos com os mercados emergentes e empresas de valor depreciadas, como podemos ver abaixo:
Nos últimos 5 anos, tivemos o comparativo entre empresas value e growth, muito similar aos movimentos do final dos anos 90, atualmente com as empresas tech, muito sobreavaliadas.
Como em 1999, a moeda dos mercados emergentes também está muito depreciada. O Brasil, junto com Lira Turca e o Peso Argentino é uma das moedas que mais cai no mundo em 2020. Para 2021, acredito que isso tende a mudar, inclusive o valor próximo do Dólar x Real, tende a ser ao redor de R$5,20, usando a metodologia de usarmos os dados da inflação americana e brasileira, desde o início da criação de ambas as moedas, no caso do Brasil, em 1994, no Plano Real..
Todo esse dinheiro no mercado, traz desequilíbrios, como o valor de mercado de Tesla, que vale mais que as 9 empresas automobilísticas, que produzem quase 100x mais em receia que a Tesla. Inclusive, já havia escrito aqui, sendo os dados utilizados pelo Economista Ricardo Amorim. Abaixo, podemos ver a discrepância de Tesla e outras montadoras (essa é mais uma das discrepâncias):
Em resumo:
- Biden eleito, devemos ter impressão de moeda, legalização da maconha, investimentos em infra-estrutura, maior abertura econômica, acordos com a China, incentivos para energia alternativa, entre outros;
- Número de casos de Covid aumentando, porém aumentou-se a quantidade de testes. Taxa de mortalidade está menor que o pico de março, estamos sabendo lidar melhor com a situação;
- Economia americana, recuperando-se;
- Nunca tivemos uma diferença tão grande entre crescimento x valor nos investimentos e isso tende a mudar, ao meu ver;
- Cuidado com as empresas que estão embutindo altos ciclos ou altos retornos no preço das ações, muitas delas não terão como entregar o resultado que está precificado;
- Grana é liberdade e o tempo mais precioso que temos é o tempo. Use o seu com sabedoria, incluindo não utilizá-lo para investir de maneira equivocada!
- Foque em estudar mais as companhias e a seguir menos “dicas” de pessoas na internet.
Fico por aqui!
Era isso!!
Um grande abraço