O “estrago” está feito e já não há condições de recuos recuperatórios na economia global.
Os Estados Unidos, instigador principal dos confrontos geopolíticos, passou a temer por uma recessão e isto poderá ser fatal para as pretensões presidenciais de reeleição do atual Presidente, Donald Trump, que está, acreditamos, chegando a conclusão dos grandes danos causados por sua intempestividade às relações comerciais envolvendo a economia mundial e do quase nenhum retorno, fomentando, intensamente, a disfuncionalidade generalizada.
A perspectiva é que a economia global recrudesça na sua dinâmica de crescimento, revelando que todos os países sairão menores e perdedores em intensidades diferentes, mas perdedores, deste embate desorganizador implementado pelo Presidente americano, com foco direto sobre a China.
Afinal, são os líderes mundiais e a economia globalizada naturalmente não permite isolamentos, muito pelo contrário, irradiam em cadeia todos os malefícios oriundos deste embate que começou com conotação comercial e aplicação punitiva de tarifas e, acabou desandando, para ameaça concreta de guerra cambial envolvendo inclusive o juro, tornando as perspectivas absolutamente inseguras e provocando a prevalência da postura defensiva global e a busca pela segurança em detrimento da rentabilidade.
Estados Unidos com perspectivas de recessão, contrapondo-se a sua dinâmica forte até então, Europa, afetada pela perda de atividade da Alemanha, perdendo ritmo de atividade e naturalmente de crescimento e a China revelando queda da produção industrial atingindo o menor ritmo de 17 anos.
E os demais sofrem os efeitos diretos desta “decadência” em proporções díspares, mas de forma mais intensa nos países emergentes, que ficam totalmente vulneráveis com a aversão do risco, e com isto deixam de receber fluxos externos e, o pior, passa a registrar retiradas de recursos estrangeiros alocados em seu mercado financeiro.
E este cenário conturbado encontra o Brasil com sua economia estagnada, que provoca grande desemprego, perda de renda da população, baixo potencial de consumo, e já carente de fluxo cambial visto vir registrando saldo negativo este ano, registrando uma diferença expressiva em torno de US$ 31,0 Bi líquidos em relação aos ingressos em 2018, quando era positivo.
O novo governo implementa reformas pontuais e absolutamente necessárias e outras decisões de ordenamento e desburocratização, mas revela baixíssima capacidade de investimentos estruturais fundamentais e que gerariam emprego, renda e consumo, e, isto o faz “transferir” a obrigação dos investimentos ao setor privado que, por ter grande capacidade ociosa e estoques, demonstra baixa tendência a efetuá-los enquanto não houver melhora da demanda, o que cria um “corner” de difícil superação.
O país está organizado em termos de inflação absolutamente controlada e cadente, consequente em parte da inércia da atividade econômica, juros baixos, e com as reformas, em especial a da Previdência, reorganizando a questão fiscal que estava deteriorada, mas o Governo não obterá recursos a partir deste cenário benigno e tem o “corner” posto como entrave para encetar impulso à atividade econômica e desenvolvimento.
O país detém neste momento um ostensivo CDS 5 anos em torno de 135 pontos, embora não detenha o grau de investimento, que o credencia a ter atratividade externa, mas enfrenta a carência de apelo com oportunidades dada a inércia da atividade econômica e, agora, agravada com a aversão ao risco presente no mercado global.
O Brasil, sabidamente, tem uma situação cambial fortemente defendida ao deter reservas cambiais acima de US$ 380,0 Bi e déficit em transações corrente equilibrado, mas a aversão ao risco deflagrado no cenário global que desloca recursos em busca de proteção para o ouro, dólar, yen e franco suíço, provoca desvalorização conjuntural das moedas emergentes, como o real, frente às moedas e ativos “portos seguros” e provoca a valorização das mesmas no mercado global.
O fluxo cambial neste mês até o dia 9 está positivo em US$ 169 MM, mas as saídas financeiras registram US$ 2,112 Bi que deve ser a tendência doravante com maior dimensão.
No contexto atual é inevitável que o real, moeda de país emergente, a despeito de o país estar bem ancorado na questão cambial, não repercuta de forma direta a pressão do mercado global com a aversão ao risco.
Adicionalmente, o país tem outro fator que deve merecer atenção e que decorre do estreitamento das taxas de juro interna e externa, havendo grande pressão para que a SELIC seja reduzida a 5% ou menos ao ano, e isto pode no estado de aversão predominante afetar o custo do cupom cambial e imputar pressão adicional na formação do preço da moeda estrangeira a partir do mercado de câmbio à vista, provocando disfuncionalidade.
No nosso entendimento, mesmo que o FED ceda às pressões do Presidente Trump ante a ameaça de recessão da economia americana, é muito improvável que o fato arrefeça o viés de alta do dólar no mercado internacional, visto que num contexto de prevalência de incertezas a segurança é prioritária em relação ao rendimento.
Então, a conclusão mais racional que se pode ter para este momento de incertezas e insegurança, será de tendência do preço do dólar manter-se elevado no nosso mercado, ainda que o BC venha a intervir o que entendemos que só criaria volatilidade, e que a Bovespa tem frágil sustentabilidade no entorno de 100 mil pontos, pois com a ausência do investidor estrangeiro, seja pela aversão ao risco seja por falta de oportunidades decorrentes da inerte atividade econômica, o investidor nacional não tem capacidade de promover por si só e pelo estado da economia movimento de alta.
Este é um contexto sem perspectivas de tempo de duração, no momento, por isso compromete a grande maioria das projeções atuais.
Nota:
BC ofertará até US$ 550 milhões/dia no mercado de câmbio à vista à partir de 21 de agosto de 2019
"Posição líquida de cambio é igual reservas cambiais totais menos parcela comprometida com swaps cambiais.
Com esta "bicicleta" mantém a posição líquida inalterada pois reduz o total de reservas cambiais e compensa com a redução de swaps cambiais.
Liquida com os swaps cambiais reversos os swaps cambiais vincendos pagando com moeda efetiva.
Aliviará a pressão adicional que poderia vir do mercado de cupom cambial pela baixa liquidez do mercado à vista e estreitamento do juro interno e externo.
Contudo há uma pressão de alta do preço do dólar conjuntural que manterá a tendência.