As lições de meu pai
Onze anos atrás, meu pai me passou a perna. Com uma nota promissória fria, me levou todas as minhas economias de estudante. A valores de hoje, coisa de trinta mil reais.
Meu pai me ensinou que não há dinheiro que compense a perda de confiança. Que não deveria, jamais, envolver as pessoas que amo em meus problemas financeiros. Que honra é o maior patrimônio de um homem e que, quando perdida, dificilmente se recupera. Que, quando as coisas vão mal, é fundamental ter a hombridade de realizar perdas antes que elas se agigantem. Que, ao contrário daquilo no que depositamos nossas mais profundas esperanças, há situações na vida que simplesmente não têm conserto: nem tudo é perdoável, nem tudo tem volta e nem sempre as coisas ficarão bem no final.
O custo financeiro das lições mais importantes de minha vida foi uma fração ínfima do verdadeiro custo: salvo raras exceções — todas forçadas por familiares que queriam nossa reconciliação a qualquer custo —, mal nos falamos desde tal episódio. Entre denunciá-lo ou riscá-lo de minha vida, escolhi a segunda alternativa. Faleceu em 2011, e não fui ao enterro. Raramente lembro dele — mais precisamente, nos Dias dos Pais e quando informo minha filiação em formulários. Schweitzer é meu sobrenome materno.
Em dias como ontem, nos quais a grande maioria homenageia seus pais e agradece pelos ensinamentos que dele, lembro do meu como um legítimo anti-herói. Aprendi o caminho que deveria seguir observando — para não repetir — a infindável sucessão de erros que meu pai cometeu. À sua maneira, ele me ensinou tudo que eu precisaria aprender. Agradeço as lições, mas reconheço: teria pago trezentos mil, talvez três milhões, para tê-las aprendido de outro jeito que me permitisse, hoje, escrever coisas bonitas a respeito do meu velho. Quem sabe, se a Empiricus tivesse sido fundada uns vinte anos atrás, ele tivesse tido a oportunidade de gerir a própria vida financeira com mais sabedoria?
Teria feito toda a diferença do mundo para mim. E há de fazer para os filhos de muitos de nossos leitores.
Mandem os palhaços
“Send in the clowns”, cantava Sinatra (e Streisand, e tantos outros, mas prefiro A Voz), para distrair a plateia em meio à falha no picadeiro.
Bolsas em alta mundo afora, renovando votos de que governos agirão para sustentar o crescimento econômico ante indicadores fracos aqui e acolá. Mercados europeus reagem a declarações de Theresa May, que sinaliza que Brexit dar-se-á gradualmente e só deve ser concluído em meados de 2019, afastando rupturas e tranquilizando investidores sobre impactos de curto prazo. Nos EUA, bolsas com máximas renovadas. Mercados emergentes, em sua maioria, nos maiores níveis em mais de ano.
Petróleo segue em recuperação na esteira de rumores de que os principais produtores do ouro negro coordenarão esforços para conter a oferta do produto. Minério de ferro de lado, ainda acima dos 60 dólares. Em Londres, quedas para níquel (realizando após rally recente, creio eu) e cobre (alta de estoques). Na China, autoridade bancária orienta investidores a não darem tanta atenção ao curto prazo, dando a entender que indicadores econômicos fracos vistos recentemente não devem ser interpretados como tendência. Ninguém parece, no momento, preocupado com a credibilidade dos discursos...
Todos os problemas persistem, mas a maioria parece não ligar muito para eles.
Ponha seu dinheiro onde sua boca está
“Put your money where your mouth is” é a regra de ouro do alinhamento de interesses no mercado financeiro.
O volume de posições vendidas em dólar vem chamando a atenção do Banco Central. Com investidores locais ávidos em apostar na queda da divisa americana, bancos locais estão na prática financiando o déficit de dólar físico. Posições vendidas já somavam quase 30 bilhões de dólares em julho e, com o fluxo de agosto, certamente já romperam essa marca.
Ao toparem financiar operações nessa magnitude (e, consequentemente, carregando no mínimo riscos de crédito), os bancos estão fazendo algo cada vez mais raro: estão apostando junto com os clientes. Os motivos? Uma imagem vale mais do que mil palavras:
Acredito que sim , há recursos em volume significativo aguardando pelo grand finale de Dilma para entrar no país. É o lado bom do cenário de liquidez exacerbada no âmbito global. Não sei se Deus é brasileiro, mas Tina (a do There is No Alternative, não a Turner) certamente é.
Minha métrica favorita
Acompanhamos o sucesso do Contragolpe por diversas métricas. A despeito da importância de visitas, adesões à oferta e repercussões por aí, minha métrica favorita é extraoficial: estou de olho no número de inimigos que estamos fazendo.
Falar verdades duras é parte da vocação da Empiricus. Isso restou provado quando o Felipe rompeu o silêncio com O Fim do Brasil . A enxurrada de críticas, inclusive por parte dos partidos da então situação, fala por si própria. Agora quem quer nossa cabeça são os bancos. Sinceramente? Estamos adorando: nossa missão é ajudar você a cuidar melhor do seu dinheiro. O tamanho da reação só serve para demonstrar a desfaçatez com que as principais instituições financeiras do país estão apunhalando seus clientes pelas costas. Mas tem agência bonita, com café e balinha...
Sabe o que será, para mim, a redenção? Se algum parlamentar de esquerda lançar mão de uma das tribunas do Congresso para repercutir a expropriação que o grande capital está promovendo contra os trabalhadores. Já pensou que lindo?
A propósito...
…tenho a sensação de que o problema é ainda maior do que estamos pintando. Que tal nos ajudar a descobrir respondendo nossa pesquisa?
A pergunta é simples: com que tipo de corretora você trabalha?