A maior economia do mundo vem dando sinais de que está perdendo o fôlego e, dia após dia, a tese de que a economia norte americana irá entrar em recessão ganha mais adeptos. A realidade indica que o “pouso suave” prometido pelo FED (Banco Central Americano) embora seja possível é improvável que aconteça.
Após 15 anos de euforia e bull market nos mercados internacionais, a economia mundial começa a desacelerar em 2022. As mudanças de rumo da economia global exigem que o investidor brasileiro fique atento a esses acontecimentos, principalmente nos Estados Unidos, pois quanto maior for a inflação por lá maior pode ser a alta dos juros. Logo, um juro mais alto implica em um dólar mais apreciado, que por sua vez, impacta diretamente as expectativas inflacionárias de todos os países do mundo, principalmente de economias emergentes e fragilizadas como as da América Latina.
Para combater a alta dos preços em todo o mundo, os juros são o remédio recomendado. Conforme o gráfico abaixo, a alta da taxa de juros é uma tendência mundial, das 20 maiores economias do mundo 16 já iniciaram seu ciclo de alta. O Brasil foi o primeiro país iniciar o ciclo, enquanto estamos no final o mundo está no início. Isso é um grande diferencial para os ativos de risco brasileiros.
Geralmente o início do ciclo de alta da taxa de juros americanas é associado a fortes crises na América Latina. No início dos anos 2000, esse efeito foi amenizado pelo crescimento econômico chinês e pelo boom das commodities, mas agora o cenário é outro e boa parte das economias estão fragilizadas por conta das medidas de combate a pandemia.
Além dos problemas da maior economia do mundo estamos vendo a segunda maior economia (China) sofrer os impactos por conta da estratégia equivocada de zero Covid. Soma-se ao cenário negativo a alta do petróleo e seu efeito inflacionário e desestimulador da atividade econômica. Hoje, os ventos externos não são favoráveis para a economia brasileira, no entanto a alta das commodities e a taxa Selic nas alturas age como um contrapeso que impede a disparada do dólar, pelo menos enquanto não começa a volatilidade eleitoral.
Além dos ventos externos desfavoráveis as pesquisas eleitorais divulgadas até o momento apontam que o ex-presidente Lula é o principal candidato a vencer a eleição em outubro. Embora as pesquisas sejam passíveis de erro, não se deve ignorar a realidade que diversos institutos apontam.
Na história da nossa jovem república, desde a redemocratização, apenas Fernando Henrique Cardoso, após o lançamento do plano real em 1994, foi capaz de reverter a vantagem que segundo os institutos de pesquisa Lula tem sobre Bolsonaro hoje. Se as pesquisas estiverem corretas, está claro que, para conseguir se reeleger, o governo precisará pisar no acelerador do gasto público para melhorar a economia até outubro. E, assim, condenar o crescimento econômico futuro, assim como Dilma Rousseff fez em 2014.
Diante de toda incerteza quanto ao que pode ou não acontecer com a economia o Índice Ibovespa está com múltiplos bem atrativos, visto poucas vezes nos últimos 20 anos. O cenário atual é bem similar ao vivido em 2002-2004 e 2014-2016. Nesse período, quem teve apetite a risco obteve retornos mais que compensatórios. As turbulências econômicas externas e internas expuseram velhos fantasmas de indexação da economia brasileira, com isso, conclui-se que a inflação tende a permanecer tirando o sono dos brasileiros até 2023.
Se o país seguir a tendência dos seus vizinhos latinos, der uma guinada à esquerda e Lula vencer a eleição, ele tende a aumentar a atuação estatal na economia e o resultado disso será mais inflação. Já se Bolsonaro conseguir se reeleger, será ao custo de muito gasto público e distribuição de pacotes de bondades nos próximos quatro meses. E a conta virá em 2023 por meio de inflação e juros. Afinal, não existe almoço grátis. Independente do caminho escolhido pelos brasileiros em outubro, todos nos levam de encontro à inflação.