Publicado originalmente em inglês em 02/2/2021
Os títulos governamentais estão emitindo mensagens mistas aos investidores por causa do cenário político.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados “treasuries”, vêm oscilando bastante com os resultados positivos das vacinas contra a Covid-19, os números do PIB dentro das expectativas e a tendência de os senadores republicanos aprovarem apenas um terço do US$ 1,9 trilhão proposto pelo governo Biden.
A Europa, por outro lado, está tomada pela controvérsia em torno da produção e distribuição de vacinas, mostrando mais uma vez que a União Europeia está longe de ser uma verdadeira união política respaldada na solidariedade. As fronteiras foram fechadas enquanto os países tentam impedir a entrada de novas variantes do vírus.
Além disso, a Itália está imersa em mais uma crise política, após o primeiro-ministro Giuseppe Conte resignar devido à saída do pequeno partido de Matteo Renzi, seu ex-aliado, da coalizão de governo, jogando por terra sua maioria parlamentar.
Conte quer tentar de novo, na esperança de formar uma nova maioria sem recorrer a uma eleição antecipada, mas os investidores estão céticos, o que fez com que os rendimentos dos títulos italianos subissem, até que rumores de que o ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, lideraria a formação de um novo governo. Com isso, os papéis do país dispararam.
Política da Zona do euro e endividamento nos EUA aumentam volatilidade dos títulos soberanos
A Grécia melhorou sua posição com uma emissão de papéis de 10 anos na semana passada, os quais foram vendidos pelo rendimento mais baixo desde que Atenas adotou o euro em 2001, a cerca de 0,79%. A demanda foi tão forte que a agência de gestão da dívida aumentou a quantidade inicial de 2,5 bilhões para 3 bilhões de euros, e acabou arrecadando 3,5 bilhões de euros. Mesmo com uma emissão tão grande a demanda superou em oito vezes a oferta, alcançando 29 bilhões de euros.
A Alemanha, economia mais forte da UE, está tendo problemas para definir um sucessor para a primeira-ministra Angela Merkel, que já está no cargo há 16 anos e deve sair de cena no primeiro semestre. Sua União Democrática Cristã elegeu, como chefe do partido, Armin Laschet, primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestfália, estado alemão mais populoso, mas seu apoio é tênue, de forma que o ex-líder direitista do Parlamento, Friedrich Merz, segue-o de perto na corrida.
Laschet pode acabar liderando seu partido na eleição de setembro como candidato a chanceler, mas Markus Söder, presidente da ala autônoma dos Democratas Cristãos, também está de olho no cargo. O candidato sócio-democrata Olaf Scholz, ministro das finanças, está na linha de fogo por causa do maior escândalo financeiro do país no pós-guerra: o colapso da empresa de pagamentos Wirecard, e foi obrigado a demitir o regulador-chefe financeiro.
No início da semana, os rendimentos dos títulos italianos caíram. O retorno das notas de 10 anos registrou queda de 2 pontos-base e fecharam a cerca de 0,0622%.
Os rendimentos dos títulos de 10 anos da Alemanha subiram para -0,511% nas negociações do fim do dia, reduzindo o spread em relação aos papéis italianos para 113 pb.
O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro americano caiu abaixo de 1,07%, após o presidente Joseph Biden concordar em se reunir com os republicanos moderados que estão dispostos a aprovar um pacote de estímulo menor e viram de perto o índice de manufatura ISM cair de 60,5 em dezembro para 58,7, um indicativo de desaceleração na atividade. A combinação de notícias fez os preços dos “treasuries” subir, que se movem na direção inversa dos rendimentos.
O Departamento de Tesouro surpreendeu os mercados na segunda-feira à tarde ao estimar um empréstimo de apenas US$ 274 bilhões para o primeiro trimestre, muito menos do que o US$ 1,127 trilhão previsto em novembro. O governo gastou muito menos do que se previa no quarto trimestre de 2020, deixando US$ 1,7 trilhão em caixa ao final do ano.
O departamento alertou que a estimativa de empréstimo não inclui despesas com qualquer estímulo aprovado pelo Congresso, portanto o volume de empréstimo pode ser maior. Mas os investidores estão reduzindo suas expectativas de oferta de novas emissões, o que está elevando os preços e pressionando para baixo os rendimentos dos treasuries.