Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 04/09/2020
O Índice Dólar sofreu forte queda nas últimas semanas diante da disparada dos gastos do governo dos Estados Unidos e do derretimento das taxas dos títulos do tesouro americano de 10 anos. Isso fez com que o euro atingisse a máxima de 1,20 frente ao dólar. Desde o pico de 19 de março, o Índice Dólar despencou cerca de 10%. Entretanto, esses significativos declínios podem ter acabado.
O grande sinal de alerta pode vir do economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, que indicou que a taxa de câmbio do euro é importante para a saúde da região. Quando o BCE instituiu a política de juros negativos em 2015 e 2016 sob a presidência de Mario Draghi, o resultou foi um enfraquecimento da moeda única frente ao dólar para cerca de 1,05, disparando rapidamente para quase 1,20 em 2018, para logo em seguida afundar novamente.
Entretanto, foram essas agressivas políticas monetárias que reprimiram e mantiveram o euro desvalorizado frente ao dólar e perto da paridade.
Política monetária mais agressiva
Agora, Draghi não está mais à frente do banco e o euro disparou para cerca de 1,20 frente ao dólar, na medida em que o Federal Reserve passou a adotar uma política monetária extremamente agressiva para combater as forças deflacionárias da recessão induzida pelo coronavírus. Se a intenção do BCE é reduzir a taxa de câmbio, é muito provável que tenhamos pela frente uma política monetária mais agressiva, o que resultaria na valorização do dólar. O euro mais fraco ajuda a impulsionar a inflação e o crescimento na região, ao mesmo tempo em que auxilia a aumentar a competitividade dos bens europeus no exterior, dando ímpeto às economias exportadoras da Zona do Euro.
Padrão de fundo
Se, de fato, o BCE adotar uma política monetária mais agressiva, é provável que tenhamos um movimento de alto de mais longo prazo no dólar. O gráfico técnico sugere inclusive que uma reversão pode estar em andamento.
O Índice de Força Relativa (IFR) do DXY ultrapassou os níveis sobrevendidos de 30 e atingiu a marca de 18. O IFR agora está começando a apresentar uma tendência de alta mais firme.
O IFR em alta, apesar de o valor do índice estar em um canal de baixa, cria uma divergência altista e indica que a reversão no dólar pode estar prestes a acontecer. Tudo indica que o momentum no Índice Dólar está saindo da tendência de baixa para desenvolver um movimento de alta.
Se o Índice Dólar ultrapassar 93,75, é provável que registre uma pernada de alta maior para cerca de 96. Pode ser o início de uma reversão de alta de longo prazo.
Uma disparada duradoura no dólar poderia criar problemas maiores, principalmente para ativos de risco ou vinculados à inflação.
Ativos vinculados à inflação podem enfrentar dificuldades
O ouro pode ser uma dessas classes de ativos que podem sofrer significativamente, após seu rali de 32,7% desde as mínimas de março. O grande avanço do metal precioso ocorreu porque alguns investidores buscaram sua segurança como reserva de valor e proteção contra a pressão inflacionária. A alta do dólar poderia prejudicar a perspectiva de disparada da inflação e reduzir a necessidade de manter o ouro como reserva de valor.
Se, de fato, estiver se formando um fundo no dólar, sua confirmação deve vir das mãos dos bancos centrais, como a adoção de uma política monetária mais agressiva pelo BCE. A extensão do rali no dólar dependerá da profundidade dessa política monetária e, sobretudo, de como os mercados responderão a ela.