O cenário econômico está se deteriorando rapidamente, o que está fazendo com que as taxas e a expectativa de inflação despenquem. Esse quadro não é nada bom para as taxas de juros, tanto é que os investidores já começam a apostar na possibilidade de o Federal Reserve (Fed) adotar juros negativos em 2021, jogando os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro americano para 0%.
Se isso acontecer, um setor que poderia sofrer graves consequências seria o bancário. Esse segmento sofreu duros golpes nas últimas semanas, com o fundo Financial Select Sector SPDR® (NYSE:XLF) despencando impressionantes 11% desde 29 de abril. De maneira geral, o ano tem sido desastroso para os bancos, com o ETF que acompanha as ações do setor se desvalorizando mais de 30%. E, sim, a situação pode piorar ainda mais.
Dados de inflação despencam
Os últimos dados dos índices de preços ao consumidor (IPC) e ao produtor (IPP) despencaram em abril. O IPP registrou queda de 1,2% na comparação anual, seu declínio mais acentuado desde 2015. Enquanto isso, o IPC subiu apenas 0,3% ano a ano, sua menor alta desde 2015. O pior é que os futuros dos fundos do Fed (taxa básica de juros do banco central americano) com vencimento em março de 2021 chegaram atingir a cotação de -0,05% nesta semana.
Mas a perspectiva de crescimento da inflação piorou porque as expectativas de taxa de equilíbrio de 10 anos caíram para 1,07%, seu menor patamar desde 2008. Ao mesmo tempo, a velocidade do estoque monetário com maturidade zero atingiu 1,23, seu nível mais baixo já registrado, e deve cair ainda mais no segundo trimestre diante da disparada da impressão de dinheiro e da forte queda do PIB.
Rendimento dos títulos de 10 anos pode cair a 0%
Tudo indica que as taxas dos títulos de 10 anos do Tesouro americano podem cair ainda mais nos próximos meses. Esses papéis têm desafiado a tendência de baixa nos últimos dias, mas esses esforço parece ter falhado diante das múltiplas tentativas de rompimento. Uma queda significativamente abaixo de 55 pontos-base pode fazer com que os títulos em questão cheguem a 0%. O padrão que parece estar se formando no gráfico é um triângulo descendente, e um rompimento dos 55 pontos-base pode confirmar o viés baixista.
Ações bancárias caem em maio
Se isso acontecer, as ações bancárias podem sofrer ainda mais com a queda da receita com juros. Além disso, o forte declínio nas taxas de juros geraria um cenário lúgubre para a perspectiva de recuperação econômica e as ações bancárias.
O ETF XLF está mostrando sinais de um declínio mais acentuado, com a formação de um padrão técnico baixista conhecido como topo duplo. O ETF rompeu um nível crítico de suporte no dia 13 de maio a US$ 21,20, confirmando o padrão. O ETF tentou se recuperar dessas perdas no dia 14 de maio, mas, até o momento, não tem conseguido retomar esse preço. Isso indicaria que o ETF cairia ainda mais, talvez voltando às mínimas de março.
Se o cenário econômico continuar piorando, tudo leva a crer que os bancos podem sofrer com a queda ainda maior nos juros. Embora possa parecer inimaginável para muitos uma queda mais acentuada das taxas, a realidade é que os rendimentos dos títulos americanos, ainda que baixos do ponto de vista histórico, estão altos em comparação com o resto do mundo, mesmo com a redução dos spreads nos últimos meses. Dessa forma, se a inflação e a economia continuarem sofrendo, não só aqui nos EUA, mas ao redor do mundo, o mais provável é que esse cenário acabe ocorrendo.
Somente o tempo dirá qual será a intensidade dos efeitos econômicos da pandemia de coronavírus, mas, com base nos dados recentes, é possível acreditar que será a pior crise que já vivemos nos últimos 90 anos.