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Teto de Gastos: Oportunidades de investimentos

Publicado 26.10.2021, 14:30
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Parece que o Brasil possui um roteiro permanente. Podemos dizer que em nosso país tudo poder mudar em poucos dias, mas nada muda em muitas décadas. E novamente nos deparamos com um cenário de turbulência por conta de possíveis ações do Governo, teto de gastos e seus desdobramentos.

Depois de uma nova regra da PEC que altera a metodologia de pagamento dos precatórios, além da sinalização do governo de aumentar o Auxílio Brasil (novo Bolsa Família) para R$ 400,00 (sem detalhar a origem desse aumento), diversos secretários do Ministério da Economia entregaram seus cargos após o surgimento de uma proposta de mudança na metodologia de cálculo do Teto dos Gastos.

Tais acontecimentos fizeram com que atingíssemos novos patamares de stress nos mercados. Mas afinal, por que a questão do Teto dos Gastos é tão importante? E quais as oportunidades de investimentos que podemos visualizar após essa turbulência? É o que vamos debater hoje nesse artigo.

O que é o teto de gastos e para que ele serve?

Não é novidade que a origem dos recursos utilizados pelos governos – seja ele federal, estadual e municipal – vem do nosso bolso por meio dos impostos. Do seu, do meu, da nossa família e dos nossos amigos.

Pagamos impostos de todas as formas: quando consumimos um bem ou serviço, quando recebemos nosso salário, quando obtemos lucro com investimentos e até mesmo depois que morremos, quando nossos herdeiros pagam impostos de transmissão de bens.

Em outras palavras, o governo praticamente possui um talão de cheques em branco, fornecido por todos nós. O Teto dos Gastos surgiu com o objetivo de estabelecer um limite responsável para esses gastos.

Resumidamente, a regra da PEC 95/2016 estabelece um limite no crescimento nos gastos públicos conforme Orçamento do ano anterior, ajustado pela inflação oficial entre os períodos de Julho do ano anterior à Junho do ano seguinte.

A importância dessa regra, conforme palavras do próprio Bruno Funchal, agora ex-secretário do Tesouro e Orçamento, se dá que “o teto de gastos traz previsibilidade à economia, estimula os investimentos produtivos e, consequentemente, o crescimento econômico”. Afinal, todo investidor prefere direcionar seus recursos para um ambiente que possua maior previsibilidade e estabilidade.

Qual a proposta de mudança na regra e quais seus impactos?

A proposta de alteração na regra do Teto dos Gastos se daria na mudança da metodologia de cálculo, passando a considerar a inflação no período de Janeiro a Dezembro.

Essa proposta de mudança na regra surgiu para aproveitar uma brecha e aumentar o teto de orçamento da União, porque a inflação acumulada em 12 meses até dezembro (8,7%) será superior à inflação apurada até junho (8,35%)

A estimativa é que essa mudança abrirá um espaço de R$ 39 bilhões no Orçamento de 2022, que pode aumentar ainda mais se o índice de inflação acelerar ainda mais até o fim do ano.

Existe ainda a possibilidade de alteração do indexador do cálculo, alterando do IPCA para o INPC, o que abriria ainda mais espaço no orçamento. Essa proposta de alteração foi incluída na PEC dos precatórios, que também se trata de flexibilizar o orçamento.

Por que os investimentos se importam tanto com isso?

Como já mencionei anteriormente, os investidores precisam de um ambiente estável e propício a negócios, e o equilíbrio nas contas públicas é um dos pilares que proporcionam esse cenário.

Do ponto de vista econômico, um governo que gasta mais do que arrecada aumenta sua dívida (e consequentemente o custo dos juros pagos), e traz maiores riscos de inadimplência futura.

Além disso, o aumento nos gastos do governo acelera ainda mais a inflação, destruindo o poder de compra da nossa moeda.

E do ponto de vista político, é sabido que o Ministro Paulo Guedes sempre foi um dos “queridinhos” do mercado exatamente por defender com unhas e dentes a responsabilidade fiscal em sua agenda. Uma mudança nesse discurso traz uma quebra na confiança.

Não é à toa que as últimas notícias levaram o mercado a elevados níveis de stress, seja nos juros futuros, no dólar ou na bolsa de valores.

Entretanto, sabemos que muitas vezes o mercado exagera e gera distorções e assimetrias. E não preciso lembrar que onde há assimetria, há oportunidade.

Renda fixa

Muitos investidores se surpreendem quando descobrem que a Renda Fixa nem sempre é fixa. E isso ocorre devido ao conceito de “marcação a mercado”, em que os títulos precisam ser precificados a valor de mercado conforme as taxas de juros vão se alterando.

Resumidamente, os títulos tendem a ficar mais “valiosos” quando a taxa de juros cai, e mais desvalorizados quando ela sobe, ou quando há expectativa que ela suba. Ou seja, existe uma relação inversa entre ambos.

A questão do teto dos gastos fez com que o mercado eleva suas estimativas para inflação e Risco-Brasil, o que fez com que as expectativas por novos aumentos na taxa de juros disparassem.

Consequentemente, o valor de mercado dos títulos despencou. E talvez aí esteja a primeira assimetria do mercado. Já no final da sexta-feira, os juros futuros sinalizavam ter atingido um topo e precificado o fator “teto dos gastos”.

Dessa forma, a tendência é que as taxas desses contratos futuros arrefeçam, o que pode significar um ponto de inflexão nos títulos que sofreram com os últimos movimentos, principalmente os títulos atrelados à inflação. Dependendo da sua estratégia, é interessante acompanhar esse comportamento nas próximas semanas.

Fundos Imobiliários

A mesma relação inversa ocorre com os Fundos Imobiliários. Quando a taxa SELIC sobe, ou ainda encontra-se em viés de alta, os fundos imobiliários tendem a se desvalorizar por conta do custo de oportunidade visto pelos investidores mais conservadores.

Entretanto, vale lembrar que, no Longo Prazo, o preço dos ativos imobiliários possui correlação direta com a inflação. Esse ajuste ainda não se refletiu por conta da pandemia e das negociações atípicas que precisaram ser feitas entre proprietários e inquilinos.

Porém, em algum momento esse ajuste irá ocorrer. Existem muitos fundos imobiliários que estão negociando abaixo do seu valor patrimonial. Além disso, as taxas de vacância (desocupação) estabilizaram, e tendem a diminuir com a retomada da economia.

Cabe lembrar também que a possível tributação dos rendimentos dos FII’s foi retirada do projeto de Reforma Tributária, mantendo o benefício de isenção de IR sobre os rendimentos, o que é o grande diferencial desse tipo de investimento.

Mercado de ações

Certamente todos os leitores que chegaram até aqui estão atualizados sobre o mercado e sabem que nossa bolsa cai há mais de 3 meses, em uma tendência de baixa que ainda persiste. É importante observar que existe uma correção negativa entre o Ibovespa e Taxa de Juros. Afinal, juro alto significa que o investidor exigirá um prêmio maior para tomar risco. Além disso, as taxas de juros impactam diretamente nos fluxos de caixa projetados das empresas, e por consequência em seus valuations.

Contudo, a história sempre se repete. Preciso lembrá-los que, como sempre acontece, as ações não irão cair para sempre…

As pessoas querem investir quando o mercado está batendo recordes, mas ficam com medo quando as ações caem muito. Um grande exemplo das heurísticas comportamentais agindo sobre o investidor… Já diria Buffett: “Tenha medo quando todos estiverem gananciosos e seja ganancioso quando todos tiverem medo”. Olhando apenas para fundamentos, nossa bolsa está entre as mais baratas dentre os países emergentes.

Analisando alguns setores, temos vários exemplos de empresas que estão negociando a P/L histórico mínimo, enquanto outras negociam abaixo do seu valor patrimonial ou sendo precificadas praticamente nos níveis que elas possuem apenas de caixa. São distorções imensas.

Não tenho dúvida que assistirei ao mesmo filme que assisto há anos: quando nossa bolsa voltar a bater recordes, muitos se lembrarão desse momento e serão tomados pelo clássico sentimento de arrependimento de “por que não comprei quando as ações estavam baratas?”.

Por fim, para o investidor que possui um Planejamento Financeiro claro, uma Estratégia objetiva e visão de Longo Prazo, períodos de turbulência como esse não assustam. Muito pelo contrário, trazem tranquilidade e até mesmo satisfação em aproveitar as oportunidades que passam pela sua frente.

E você? O que está achando desse cenário? Existem oportunidades? Quais? Deixe aqui nos comentários. Abraços e até o próximo artigo!

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