Olá, pessoal! Estamos todos acompanhando a alta da inflação e, por consequência, dos juros. Nesta semana, o IPCA acumulou 12,13% de alta nos últimos 12 meses, para citar apenas o índice inflacionário oficial do Governo. A taxa Selic, acompanhada pelo CDI, está sendo negociada a 12,65% ao ano. É natural que essa alta dos juros jogue os preços dos títulos de renda fixa em geral para baixo, pois a rentabilidade exigida pelos investidores precisa seguir a tendência de alta. Mas, muitas vezes, os sobressaltos de mercado geram excelentes oportunidades para investidores capitalizados. Essa estratégia é, aliás, utilizada com frequência pelos compradores no mercado de ações. Não obstante, neste artigo, focarei no Tesouro Direto: em minha opinião há ótimas oportunidades atualmente por lá. Senão, vejamos.
No momento em que escrevia este artigo, o título prefixado mais longo disponível para investimento, com vencimento em janeiro de 2033, oferecia uma rentabilidade de 12,72% ao ano. Essa taxa, naturalmente, incorpora uma expectativa de inflação futura acrescentada de uma taxa real de juros que o investidor levará para casa. Esses dois componentes revelam dois riscos diferentes: o inflacionário e o risco de oscilações de mercado típico de títulos prefixados. Por outro lado, títulos de renda fixa também devem considerar outros dois prêmios de risco: de crédito e de (i)liquidez – mas, neste caso, podemos considerar estes desprezíveis por se tratar de títulos do Governo Federal, que garante a recompra diariamente por preços de mercado. Desta forma, o título prefixado 2033 se compararia com a evolução da taxa Selic no futuro, uma vez que essa taxa encerra as duas parcelas de risco: inflação mais taxa real de juros.
Em minha opinião, o prêmio de risco desse título prefixado está interessante. Notem que isso não significa dizer que o mercado está “louco”, muito menos errado. Aprendi que o mercado é soberano e devemos sempre aprender com ele para descobrir oportunidades. O que realmente enxergo é um prêmio bacana para investidores capitalizados com objetivos de longo prazo (onde neste caso, longo prazo significa janeiro de 2033). E há dois pontos que quero comentar.
O primeiro é que para o risco de mercado de um título prefixado não tirar suas noites de sono, basta você ter segurança de que não precisará do dinheiro investido até o seu vencimento. Dessa forma, as oscilações do mercado não te impactarão, pois o valor final do seu investimento (em 2033) será desde já conhecido. Já o meu segundo comentário diz respeito ao outro risco que você enfrentará ao comprar esses títulos: será que no vencimento eles terão sido bons investimentos, quando comparados com o benchmark da Selic do momento de investimento até janeiro de 2033? É aqui que reside o ponto forte do meu argumento. O risco de perder se materializará se a taxa Selic daqui até lá na frente se mantiver em patamares acima das taxas atualmente oferecidas, o que significa estar da casa dos 13% ao ano para cima. Sinceramente, acredito que este cenário será devastador para nosso país, que simplesmente não aguentaria pagar tantos juros por tantos anos (mais de 10 anos!). Não consigo enxergar esse cenário: nossas contas públicas simplesmente explodiriam e a pobreza assolaria o país. Caso isso realmente aconteça, teremos coisas muito mais preocupantes, de cunho humanitário.
É preciso aqui levantar outro ponto importantíssimo. Percebam que não estou dizendo, de modo algum, que as taxas atualmente observadas não poderão aumentar nos próximos dias ou semanas. Isso pode realmente acontecer, pois é o mercado. Esta é uma outra discussão, que diz respeito ao melhor ponto de entrada no mercado. Ninguém sabe dizer se o pico de juros na curva do Tesouro Direto é agora ou será ainda mais para frente. Esse é outro tipo de jogo e tem seu risco. O que estou dizendo é que dificilmente a taxa Selic alcançará uma rentabilidade média ao longo dos próximos dez anos da ordem de 13%. Faz-se mister entender que o jogo para o qual existe oportunidade é esse.
Para prazos ainda mais longos, a oportunidade aparece nos títulos que pagam IPCA mais uma taxa real de juros. Se a inflação aumentar bastante, seus títulos acompanham o IPCA e ainda garantem uma taxa real de juros prefixados. No momento em que escrevia este artigo, o Tesouro IPCA com vencimento em 2045 oferecia uma taxa real de juros igual a 5,84%. Como disse acima, sei que essa taxa pode subir ainda mais nas próximas semanas, mas não quero ficar apostando “que sei o momento de pico dessa taxa”. Minha opinião: trata-se de uma baita taxa e garantir um patamar neste nível de juro real por 23 anos é uma boa oportunidade que se apresenta. Mas lembre-se sempre: para isso, estamos falando de um dinheiro que você utilizará somente no longo prazo, preferencialmente após 2045 para sua aposentadoria ou para realizar um sonho que precisa ser planejado com bastante antecedência.
E o que as taxas oferecidas pelo tesouro significam em termos práticos?
Uma análise importante que gosto sempre de fazer diz respeito ao que, efetivamente, um investimento proporciona. Para fazer cálculos realistas, expurgados do efeito inflacionário, tomei o Tesouro IPCA com vencimento em 2045 e sua taxa “IPCA + 5,84%”. Este título vence no dia 15 de maio de 2045, portanto praticamente daqui a 23 anos. Observe os cálculos que fiz na tabela abaixo. Ela mostra que cada real investido hoje neste título resultará em R$ 9,09 em 2045. Para tal, usei como estimativa para o IPCA neste período 4% ao ano (pode parecer baixo para o curto prazo, mas lembre-se que estamos falando de uma média para os próximos 23 anos). Considerei os 15% de imposto de renda que serão pagos no vencimento e retirei o efeito inflacionário para trazer o valor à moeda corrente.
Perceba que cada real investido hoje produzirá cerca de R$ 3,20 em 2045, o que consiste num aumento de poder de compra (juro real) da ordem de 220%, já líquidos de IR. Mas uma conta que também gosto de fazer para tangibilizar esse aumento de poder de compra é quanto disto veio do seu esforço e quanto veio da sua decisão de investimento e paciência por esperar este prazo (graças aos juros). Note-se que lá na frente, o seu poder de compra terá uma fatia de apenas 31% de esforço. Compartilho com vocês uma perspectiva que julgo bem interessante: realizando este investimento, é como se você ganhasse o direito de, em 2045, comprar o que você quiser com 69% de desconto. Esse desconto terá sido conquistado exatamente com o seu investimento no título considerado.
Em minha opinião, vale a pena investir para o longo prazo. E o momento está propício para esse tipo de investimento. Se essa cultura se enraizar em nossa sociedade, formaremos gerações mais bem preparadas financeiramente e menos expostas às injustiças sociais. No limite, teremos bem menos desigualdades sociais. É essa, em última instância, a minha luta. Uma luta árdua porque os resultados são no longo prazo, exatamente como os investimentos que estimulo.
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Um forte e respeitoso abraço.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor do Coppead/UFRJ, Pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.