Quando se investe em algum ativo, espera-se que ele se valoriza. Quando o foco é de curtíssimo prazo, especulação, normalmente não se costuma importar com o motivo para a subida. Para todos os outros casos, em particular o longo prazo, informações fundamentais parecem contribuir e orientar decisões de investimento. Caso é: os fundamentos dos criptoativos são relativamente obscuros e, quando muito, dizem respeito a falhas na tecnologia, capacidade de reagir a dificuldades técnicas e outros assuntos de compreensão limitada.
Estudar isso tudo demanda tempo, algo escasso para investidores casuais em criptoativos. Entretanto, a relativa incapacidade de investigar em profundidade cada ativo não impede a compreensão de teses de investimento mais genéricas sobre o mercado. Há várias maneiras de se enxergar o que um ativo pode ser: reserva de valor, meio de pagamento, plataforma de aplicativos descentralizados, privacy coin, plataforma de IoT, entre outras. Cada uma dessas categorias possui sua peculiaridade e questões; por exemplo, qual a melhor tecnologia para anonimização de dados numa privacy coin? Como deve se comportar a questão do pagamento de fees para o uso de um ativo descentralizado? Tudo isso influencia a valuation da moeda e certas hipóteses podem ser derivadas.
No que tange os criptoativos, mais que eles terem algum valor, é importante ter uma tese sobre quem capturará esse valor. Por exemplo, quando a internet surgiu, houve diversos protocolos desenvolvidos e que são usados até hoje. Sem esses protocolos, a internet fica com uma usabilidade infinitamente menor. Entretanto, quem vale bilhões na bolsa de valores são aplicativos rodando sobre esses protocolos, não os protocolos e seus operadores. O mesmo pode valer para os criptoativos segundo alguns analistas. Há, portanto, debates sobre quem reservará maior ou menor valor: há uma disputa entre Ethereum ou alguma outra plataforma e seus próprios aplicativos. Essa seria a disputa entre Fat Protocol e Fat Applications. Há uma terceira hipótese, chamada “Fat Wallets” que investe na possibilidade de aplicativos específicos que reduzam os riscos de acessar protocolos e outros aplicativos (e.g. hacking) capturarem o valor.
Uma aplicação simples é tentar avaliar se Bitcoin ou Ethereum tem a maior chance de ser a moeda de maior capitalização. Ambas compartilham boas propriedades de reserva de valor, apesar do Bitcoin ser nesse sentido mais confiável, posto que sofre menos atualizações de código e foca apenas em segurança. Entretanto, se o Ethereum capturar parte do valor das aplicações desenvolvidas na plataforma, há potencial de passar. Entretanto, se a aplicação capturar a maior parte do valor, além de esvaziar o Ethereum, permite também que a aplicação de meio de pagamento, mais tradicionalmente associada ao Bitcoin, gere algum valor. Portanto, há projeções para ambas as moedas baseado na discussão entre Fat Protocol e Fat Applications.
Recomenda-se ao investidor que saiba as respostas propostas para essa discussão. Elas não são fáceis, porém permitem entender o que está sob discussão e quais as premissas de cada tese de investimento. Uma vez que se sabe as premissas, fica mais fácil de acompanhar os investimentos: se uma delas for violada, significa que há menor probabilidade de um investimento suceder. Nesse caso, ler boas fontes de análise é uma grande ferramenta para um investidor com menos tempo de investigar a fundo os ativos. Nesse caso, com uma tese de investimento, pode haver a diversificação entre ativos de um mesmo conjunto de ativos que ganharia com uma tese favorita. Espero num futuro próximo dissecar essas hipóteses e comentá-las aqui na coluna.