Depois de ter projetado estabilidade para o PIB do terceiro trimestre, fomos obrigados a revisar essa estimativa por conta dos dados divulgados ao longo dos últimos dias. Com a produção industrial, a pesquisa mensal do comércio e a pesquisa do Banco Central para a atividade econômica até agosto, revisamos o terceiro trimestre de estabilidade para queda de 1,20%. Agora saíram mais dados, como a arrecadação do Tesouro Nacional em setembro, os resultados corporativos com redução das vendas e dos lucros e, por fim, os dados do mercado de trabalho como o CAGED e a PNAD.
A projeção de -1,20% foi feita com os dados até agosto, assumindo uma hipótese otimista de ligeira alta em setembro. Mas os dados de setembro, divulgados após a revisão, foram MAIS FRACOS. A arrecadação federal continua a declinar, sinalizando que a atividade ainda foi de queda no mês de setembro. A queda da arrecadação em relação a setembro do ano passado foi de 9,6% em termos reais e de 14% em relação a setembro de 2014. Veja o gráfico das despesas acumuladas em doze meses:
A queda das receitas decorre essencialmente da queda das vendas do varejo, da produção industrial, dos serviços, operações de crédito, importações e do número de pessoas empregadas recolhendo impostos e contribuições.
Dando outro aspecto importante da crise atual, o desemprego subiu para 11,80% no trimestre, vindo de 11,3% no trimestre anterior. Veja o gráfico com a quantidade de pessoas desempregadas:
Do início da crise até o mês passado, cerca de 5,3 milhões de pessoas perderam o emprego e essa tendência deve continuar por mais tempo. A não ser que algum fator externo ou alguma novidade ocorra e leve a demanda a voltar a se recuperar, os trabalhadores continuarão a perder seus postos de trabalho. Ainda que a confiança de empresários e consumidores tenha melhorado, os empresários só voltarão a contratar depois de algum tempo de funcionamento positivo das vendas. O problema é que não há “milagre” à vista: os gastos do governo estão em queda, os investimentos estão paralisados e o consumo das famílias continua caindo. As vendas externas podem subir o suficiente para compensar a queda desses componentes da demanda agregada.
Nos últimos meses do ano e no mês de janeiro, os postos de trabalho não aumentam e, ao contrário, em alguns setores caem. Na indústria, caem nos últimos três meses e no comércio, caem forte após o natal. Não há, portanto, sinal e que o Consumo da Famílias possa subir, colocando o último componente da demanda em perspectiva negativa.
É provável que a taxa de crescimento do terceiro trimestre fique ainda pior que a revisão de -1,20%, podendo chegar a -1,30% ou - 1,50%.
O mais importante é que, dado esse comportamento de queda da demanda que se auto alimenta, não é possível esperar algo muito melhor para o final do ano.
A crise vai se estender por um bom período.